No cemitério São João Batista ele é o pedreiro mais requisitado nas últimas duas décadas. Um mestre na arte de fazer túmulos. O que pouca gente sabe é que Francisco de Assis Oliveira da Silva, o ‘’De Assis’’, como prefere ser chamado, é um dos membros da renomada Academia Acreana de Filosofia.
Um homem de gestos e vida simples, mas de uma inteligência incomum. E não pára por ai. Além de filósofo, também é teólogo, músico, presbítero e palestrante. Aos 41 anos de idade, pai de três filhos, De Assis é protagonista de uma historia de persistência, coragem e fé.
Natural de Manaus, no Amazonas, o menino De Assis, chegou ao Acre aos 11 anos de idade. Junto com os pais e outros dez irmãos fixaram residência no município de Sena Madureira, quando só então começou a freqüentar a escola.
A graduação em Filosofia só foi conquistada aos 39 anos. Mas antes disso, cursou Teologia. Atualmente é pós-graduado em Ciência da Religião. Os estudos foram custeados graças ao trabalho de pedreiro no cemitério. Ofício, que ele, assegura não largar nem por uma vaga de professor.
‘’Já recebei três convites para dá aula. Mas quando fui ver a quantidade de turmas e o pouco salário, decidi. O trabalho no cemitério me dá liberdade e uma boa rentabilidade’’, observa.
O filósofo pedreiro é um micro-empresário na arte de fazer túmulo. Inclui o material na prestação do serviço e dependendo do modelo da lápide, o lucro é de 100%. Outro atrativo no ofício de pedreiro é a liberdade. ‘’O trabalho me permite estudar, palestrar, participar da igreja e até viajar, coisas que não poderia fazer como professor’’.
Fé X Razão
De Assis sempre foi um homem de fé, mas precisava da razão. ‘’Quando eu cursava Teologia todo mundo dizia que se eu estudasse Filosofia eu iria negar a Deus. Então eu desistir conhecer e como filosofo demonstrar que a minha fé permaneceu inabalável’’, conta.
Não foi por acaso que a tese da sua monografia de conclusão do curso de Filosofia foi ‘’Razão e Fé’’. Também não é por acaso que o seu livro de cabeceira, depois da bíblia, é Religião, de Emannuel Kant
Apaixonado pelo conhecimento, sua leitura vai desde Tales de Mileto, o pai da Filosofia, passando por Anaxágoras, Santo Agostinho, Sócrates, Platão, Kant, dentre outros. E assegura que gosta de ler vários livros ao mesmo tempo. No mínimo três.
Drama pessoal
E apesar do sorrisão estampado no rosto, De Assis se agarra ao trabalho e a sua fé para superar um drama pessoal. A recente morte do seu irmão Francivaldo, de 36 anos, ocorrida há 10 meses.
Ele trabalhava como seu auxiliar de pedreiro no cemitério São João Batista, e coube a De Assis prestar ao irmão a última homenagem, construindo um túmulo com o padrão de qualidade que ele tanto primava.
‘’Ele ficou doente e apesar dos cuidados médicos que teve não resistiu. O importante é que estivemos a seu lado o tempo todo’’, assegura.
Sem perder tempo
E para manter a leitura e os estudos bíblicos sempre atualizados, De Assis faz uso de um bom aparelho celular, por intermédio do qual baixa todos os aplicativos que precisa.
Os arquivos vão desde a Bíblia, livros a músicas. Graças ao aplicativo ele observa que ainda sobra tempo para bater uma bolinha com o filho caçula. Flamenguista doente e torcedor do Rio Branco, sempre que pode ele dá uma parada para acompanhar a programação esportiva.
Pai dedicado, ele faz questão de ditar os nomes dos três filhos: Thaylane (22 ), Aleif (19) e Natã (6).
Novos projetos
Graças ao trabalho de pedreiro, De Assis já conheceu onze estados brasileiros, se formou e pós graduou em Filosofia, construiu uma casa de nove cômodos, tem transporte próprio, formou um casal de filhos, mas ainda tem muitos sonhos a concretizar.
Um deles é editar seus próprios livros. Material não lhe falta. Já tem várias agendas lotadas de informações no estilo aforismo, pequenos textos, como escreviam os antigos filósofos.
Também faz parte dos seus planos construir uma escola de Filosofia, onde ele possa disseminar suas idéias. Pretende ainda conhecer o estado de Oregon, nos EUA, e Venezuela, onde tem amigos escritores.
