Mortes de bebês e sofrimento de mães gestantes levantam questionamentos sobre combate a partos cesarianos. Comissão de óbito investiga os casos. Estado tenta suprir falta de leitos com investimento de R$ 236 mil. População feminina aumentou quase oito vezes desde 1950 até 2010.
Tatiane Silva de Araújo deu entrada na Maternidade Barbara Heliodora no dia 19 de maio com bolsa rota (perda de líquido). Foi transferida para o Hospital Santa Juliana no dia 08 de junho, após sentir febre e dores. O bebê, prematuro, Pablo Henrique, nasceu às 15 horas e foi a óbito às 6 horas da manhã do dia seguinte.
Crizelda Moura da Silva deu entrada na Maternidade Barbara Heliodora, às 16 horas, do dia 27 de maio. Sem vagas na sala de parto, ela foi transferida às 22 horas para o Hospital Santa Juliana. Esperou para ter o bebe, durante 12 horas. Ela relata que passou pelo sofrimento sem nenhum tipo de monitoramento. O filho nasceu morto. Segundo o atestado de óbito, por inóxia intraútero, circular cordão umbilical. A mãe apresenta exames de ultrassonografia que não mostram nenhuma anormalidade na gestação. Ela atesta que foi negligência médica e culpa o Estado pela morte do filho.
Mas o que realmente acontece nas Maternidades referências do SUS no Acre? Existe excesso de zelo no cumprimento do que determina o Ministério da Saúde no combate ao parto cesariano? Ou faltam vagas no sistema?
O caso de Tatiane Silva pode ajudar a responder os questionamentos, conforme relatou à reportagem do ac24horas, a diretora geral da Unidade, Lorena Seguel. Como evoluiu do parto prematuro, com 32 semanas, Tatiane deveria ter ficado internada em uma UTI Neo-Natal na Maternidade Barbara Heliodora.
“Nesse dia a nossa UTI Neo-natal estava completa, tinha dez crianças na UTI e dez na UCI, sendo que na UCI algumas crianças eram UCI, então não tinha mais como a gente colocar mais uma criança, não tinha condições”, garante Lorena.
Ainda de acordo a diretora, no Hospital Santa Juliana tinha vaga para UTI, por isso a paciente foi encaminhada. Em contato com a reportagem, Tatiane conta que ficou aguardando a cirurgia em uma cadeira.
“Tinha três mulheres na minha frente, fiquei o tempo todo em uma cadeira aguardando a minha cirurgia”, revelou a paciente.
O filho de Tatyane nasceu às 15 horas do dia 08 de junho, mas faleceu nas primeiras horas da manhã do dia seguinte. Ele se chamaria Pablo Henrique. A mãe chora até hoje e diz que não sabe a quem responsabilizar.
Caso semelhante é o de Crizelda Moura da Silva. Ela foi encaminhada em trabalho de parto para o Hospital Santa Juliana. Relata que após a transferência da Maternidade Barbara Heliodora, “todo o atendimento mudou, fiquei desde as 22 horas até as 11 horas do dia seguinte sem monitoramento, em uma sala sozinha”, acrescentou.
O filho de Crizelda nasceu morto. Os médicos afirmaram inóxia intraútero, circular cordão umbilical. Tatyane afirma que em nenhum exame do pré-natal, existia qualquer tipo de anormalidade na gestação. Ela vai processar o Estado por negligência médica.
A diretora da Maternidade Barbara Heliodora afirmou que após a transferência da paciente para o Hospital Santa Juliana, a responsabilidade deixa de ser da Maternidade.
“O Santa Juliana é uma unidade referência SUS então eles tem que assumir as responsabilidades pelas pacientes que recebem”, reafirmou.
Obra tenta corrigir falta de vagas na única maternidade de Rio Branco
O número de atendimentos na maternidade Barbara Heliodora vem aumentando e talvez por este motivo a quantidade de leitos não está sendo mais suficiente para atender a demanda. Somente no mês de maio, segundo dados oficiais, o aumento no número de mulheres em trabalho de parto e com complicações na gravidez foi de 50%. Conforme a reportagem apurou, em junho, 328 mulheres foram transferidas para o Hospital Santa Juliana.
Para a vereadora Eliane Sinhasique, que nessa semana levantou esse debate na Câmara Municipal de Rio Branco, o estado não acompanhou a evolução da população feminina nos últimos anos.
Segundo dados do IBGE a população feminina do Acre em 1950 era de 48.564 mulheres, número aumentou quase oito vezes até 2010, quando a população feminina é de 364.929.
“O prédio da Maternidade Barbara Heliodora é tombado historicamente, podemos adequar muito pouco para ampliar o número de leitos”, respondeu Lorena.
Para suprir o déficit que chega à casa dos 40 leitos, o governo em parceria com o Ministério da Saúde faz investimento de R$ 236 mil na reforma e adequação da ambiência dos serviços de parto, mas a própria administração reconhece que a infraestrutura planejada é pouca diante da demanda. Uma área que era de Jardim de Inverno está sendo reestruturada.
Gravidez precoce ainda é um dos maiores problemas
Respondendo aos questionamentos sobre o que preconiza o Ministério da Saúde no combate a partos cesarianos, a diretora geral da Maternidade Bárbara Heliodora fez uma espécie de desabafo. Para ela, o maior problema não são as mulheres que procuram a Unidade para o trabalho de parto, “temos que enfrentar as complicações que tornam a gravidez cada vez mais precoce”, manifestou Lorena.
O OUTRO LADO:
Segundo a irmã Vera, diretora administrativa do Hospital Santa Juliana, “a direção ainda não pode se manifestar sobre os óbitos porque os casos citados na matéria estão sendo investigados pela Comissão de Óbitos do Hospital”.
Vera não disse qual o prazo que a Comissão deverá apresentar relatório, mas assegurou que até 60 dias haverá uma resposta. Disse ainda, que o relatório será encaminhado para o Governo do Estado.
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