A Copa do Mundo da Fifa é um desses eventos imperdíveis, mesmo que o freguês não seja, necessariamente, um torcedor inveterado. Boa parte das criaturas que lotam os estádios está mais interessada na festa do que na bola que rola no retângulo verde, impulsionada pelos pontapés dos jogadores. O futebol é o motivo da coisa toda… Mas a festa o transcende!
Pelo menos foi assim que eu vi o confronto entre Brasil e México, na tarde dessa terça-feira (17), em Fortaleza. Brasileiros e mexicanos vestindo todo o tipo de fantasias, vibrando com as suas representações, mas sem o menor resquício de animosidade. As armas usadas pelos dois bandos ocupando os 60 mil lugares do Castelão foram apenas as respectivas vozes.
O hino de cada país, por exemplo, foi cantado a plenos pulmões, tanto por brasileiros quanto por mexicanos. A moda de cantar o hino até o fim, inventada pelos brasileiros na Copa das Confederações do ano passado, contaminou os “cucarachas”. Eles eram dez mil no Castelão. Mas cantaram como se fossem cinquenta mil. Um belo show de participação!
Quanto ao jogo propriamente dito, apesar de todas as tentativas dos jogadores da seleção brasileira de dobrar os mexicanos, o que se viu foi uma barreira vermelha intransponível detendo todas as bolas da turma do Neymar. Os amarelos tentaram de todas as maneiras: pelo meio, pelas pontas, com passes em profundidades, com dribles curtos. Mas não deu!
Do jeito que aquele goleiro dos “mariachis”, comedores de pimenta e abacate, pegou, nem com três dias de bola rolando poderia sair algum gol. Nem com três ou quatro dias, quanto mais em uma hora e meia. E se fosse das oitavas-de-final pra frente, quando, em caso de empate, se conhece o vencedor na disputa de pênaltis, aí o negócio poderia ter azedado de vez.
Eu acho que aquele goleiro não era só um. Pra mim, debaixo daquelas traves estava não só o titular devidamente registrado na FIFA, mas também todos os imperadores astecas que lutaram contra os europeus na época da conquista do Novo Mundo. E se eu tenho razão, as tais traves não eram traves, mas pirâmides defendidas contra indesejáveis invasores.
Cheguei até a externar essa ideia para o parceiro Manoel Façanha, que assistiu o combate ao meu lado. Naturalmente ele não deu o menor crédito. Olhou-me com um jeito de piedade, mais ou menos como se me achando “lelé da cuca”. Nem se dignou a responder. Em vez disso, apontou a câmera dele para um “Chapolin” que fazia de ventilador um sombrero.
Enfim, resultado pouco agradável, imperadores astecas, lutadores de “lucha libre” e “chapolins” à parte, o certo é que foi uma tarde inesquecível para muita gente, incluindo o velhinho aqui que vos escreve. Senti-me o próprio filho que não foge à luta, sentado no berço esplêndido do Castelão e ouvindo o brado retumbante de milhares de outros semelhantes a mim!
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