Luziel diz que declaração de Belizário foi desabafo e não armação

O assunto promete render ainda por muito tempo – a declaração do senhor Belizário Costa, 96 anos, durante a sessão que promulgou a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) dos Soldados da Borracha – voltará a ser debatida essa semana. Não muito satisfeito com os frutos da PEC (uma indenização de R$ 25 mil mais pensão de dois salários mínimos), Belizário não mediu esforços em desidratar politicamente a deputada federal, Perpétua Almeida (PCdoB), ao vivo e a cores pelas câmeras da TV Senado. Na fala, Belizário disse que a deputada “não gosta dos acreanos e nunca mais será eleita”.

Em resposta, a parlamentar disse que pode ter sido vitima de “armação política”. Reações favoráveis e contra o pensamento da deputada federal Perpétua Almeida, que é pré-candidata ao senado pela Frente Popular do Acre, pautaram as redes sociais durante toda a semana. O assistente social, Luziel Carvalho, do Sindicato dos Aposentados e Pensionistas do Estado do Acre afirma que os colegas sindicalistas em Rondônia vão entrar com processo contra a deputada Perpétua Almeida (PCdoB). Belizário, o idoso que discursou no final da sessão, é do Estado de Rondônia.

“Quem escolheu o senhor Belizário para falar foi o cerimonial, o próprio senador Jorge Viana (PT-AC) foi lá para perguntar a idade dos dois senhores, um do Acre (José Soares) e o outro de Rondônia (seu Belizário) que estavam sentados. Acredito que acabaram escolhendo o senhor do estado de Rondônia pela idade”, esclareceu Luziel.

Conselheiro e integrante do Fórum do Idoso no Estado do Acre, Luziel exigiu respeito ao senhor Belizário. “Estamos falando não de um cidadão comum, mas de um patrimônio histórico que o estado brasileiro tem para com o Soldado da Borracha e acima de tudo de uma pessoa idosa”, acrescentou.

Lembrou que assim como o senhor Belizário os demais soldados da borracha que vieram para a Amazônia não tinham inimigos declarados, mas a Selva Amazônica, os índios, os animais peçonhentos, as feras da Floresta.

“Não é todo cidadão brasileiro que tem coragem de ocupar o espaço que ele ocupou, ao sentar na cadeira que senta as maiores autoridades do nosso país, inclusive do presidente do Congresso Nacional e dizer o que ele afirmou publicamente”, relatou Luziel.

Luziel citou a lei do ordenamento jurídico 10.741 de 2003 – o conhecido estatuto do idoso – que em seu artigo décimo é claro “o idoso deve gozar de respeito e dignidade, inclusive de expressão e de demonstrar sua opinião”, lembra. Ainda de acordo o assistente social, qualquer forma de tentar desqualificar o depoimento do senhor Belizário “é criminosa”.

O decreto lei 5.225 de 1º de fevereiro de 1943 trata os Soldados da Borracha como militares. O ato do Congresso Nacional que promulgou a PEC foi divulgado no Diário Oficial do último dia 15, 71 anos após eles serem convocados do nordeste para trabalhar na Segunda Guerra Mundial entre 1939 a 1945.

“Até o termo indenização é vergonhoso. Outro pecado grave que no meu entendimento foi cometido pela deputada federal Perpétua Almeida foi ter conduzido esse processo sem a participação dos sindicatos do Acre e de Rondônia, ou seja, monopolizado”, comentou.

O OUTRO LADO:

“Estou sendo vítima de um jogo baixo, sujo. Eles erram o tom da agressão ao colocar um senhor de 95 anos, para tentar me agredir. A pior parte da agressão foi a que envolveu minha família. Meu pai não tem nada a ver com política. Eles precisam aprender a respeitar o lado familiar”, se manifestou a deputada Perpétua.

O assunto foi amplamente divulgado pelas mídias do Congresso Nacional. Para a agência Senado, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB), que presidia a sessão, explicou que a deputada apresentou proposta para indenizar os soldados da borracha logo após ser eleita deputada federal. Na opinião da senadora, a Perpétua sempre defendeu os interesses do grupo e da população do Acre. Também lembrou a Belizário que todos os deputados e senadores presentes lutaram intensamente para que o governo federal reconhecesse o papel histórico dos soldados da borracha.

– Não sei, senhor Belizário, se há alguma motivação política para que o senhor diga o que foi dito aqui. O que sabemos é que essa é uma sessão comemorativa pelo fato de o governo estar destinando mais de R$ 300 milhões como resgate — disse a senadora Grazziotin.