As igrejas evangélicas no Acre não andam tão unidas como alguns lideres religiosos pregam. O presidente do Ministério da Família no Acre, pastor Marcelo Torres, não poupou criticas a “Marcha Para Jesus”, realizada no último sábado, dia 10, que reuniu cerca de 25 mil pessoas no segundo distrito de Rio Branco. Em entrevista ao ac24horas, o pastor foi categórico e disse que o evento serviu apenas para promoção pessoal.
“Eu reafirmo, como fiz no ano passado, para mim esta edição se fortaleceu mais ainda como um ato político. Eu diria sem proveito algum para o evangelho”, disse Torres.
Na conversa, Marcelo revelou que não incentivou e muito menos proibiu nenhum membro de sua Igreja a participar do evento. “Na nossa igreja nós temos uma filosofia diferente. Aqui a gente nem proíbe e nem libera. Não só consideramos, mas temos certeza que todo ser humano é livre. A gente não exerce domínio sobre as pessoas. O que a gente faz é orientar. Em momento algum eu coloquei alguma empecilho para alguém não ir, eu apenas posicionei o meu motivo pessoal de não ir participar”, explicou o pastor.
Torres afirmou que não vê as Igrejas do Acre se unirem para fazerem um trabalho social de evangelização, mas sim uma única vez no ano para demonstrar força política na Marcha. “Até hoje eu não consigo visualizar nenhum projeto que una igreja para algo proveitoso, uma campanha para arrecadar alimentos para quem está passando fome, levar esperança e levar amor para esses nossos irmãos. Nessa hora a igreja entra por uma disputa acirrada por membros e ai quando chegam na marcha apresentam uma aparente união utópica, que não existe. Eu sou pastor e eu sei o que é a desunião dessas igrejas”, criticou.
Mesmo criticando a Marcha, Torres enfatiza que não menospreza as pessoas que foram verdadeiramente adorar e louvar a Deus. “Tem pessoas que precisam desse movimento para se sentir mais inclusos, para se sentir mais aceitos, para fazerem parte de determinada igreja , quanto a isso eu não questiono, meu questionamento é sobre a ideia da marcha que se desvirtuou com o passar dos tempos e a cada dia que passa está aumentando, sem entrar no mérito de julgar individualmente casa pessoa”.
Sobre as declarações do governador Sebastião Viana, que afirmou que graças a oração da apostola Dayse, as águas do Madeira baixaram, o presidente do Ministério da Família evitou citar nomes, mas disse que “política partidária e Igreja não combinam”. Ele afirma que viveu isso na pele quando por muitos anos foi assessor parlamentar e trabalhou em campanhas políticas. “Minha vida foi dividida entre política e igreja. Sai do Ministério para ir para política e agora retornei para nunca mais voltar”.
Para Marcelo, política e igreja não se misturam. “Historicamente existe um rastro sujo e negativo quando essas duas instituições se juntaram. Uma tem o poder temporal e a outra tem o poder espiritual”.
A reportagem do ac24horas procurou o presidente da Associação dos Ministros Evangélicos, Jucemir Bernardino, para comentar as declarações de Marcelo Torres. Por telefone, o pastor afirmou que respeita a “opinião do colega”, mas acredita que esse tipo de declaração “são de pessoas que não tem o conhecimento necessário”.
“A bíblia diz que nós devemos honrar as nossas autoridades, então nós como evangélicos apenas honramos as nossas autoridades presentes de forma mais acentuada , o nosso governador do Estado e o nosso prefeito de Rio Branco , que estavam lá. Então como cristãos , num evento como esse que visa ministrar bênçãos sobre as pessoas, sobre o nosso Estado e nossas autoridades , é viável que as autoridades também estejam lá presenciando o evento. Eu acho que esse tipo de declaração é pela falta de conhecimento realmente. São pessoas que falam apenas porque querem falar. O que nós fizemos apenas foi honrar as nossas autoridades e nada mais que isso”, disse Bernardino.
Bernardino destacou que as autoridades não participam da Marcha somente em anos eleitorais. “Independente de ser ano político ou não, tem a marcha e as autoridades tem acesso a plataforma, para falar uma palavra e receber uma oração. Nada mais que isso”.