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Por falta de profissionais na Maternidade Bárbara Heliodora, pacientes fazem parto em indígena

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Da redação ac24horas

A possível negligência no procedimento de parto de um feto morto, na Maternidade Bárbara Heliodora, nesta quinta-feira, por pouco não resulta na morte da indígena Valéria dos Santos Apurinã.  A denúncia é da líder do Movimento de Articulação Indígena, Letícia Yawanawá e os pais da jovem, os índios Edmilson Amazonas Apurinã e Valrinete Avelino dos Santos.


O parto que deveria ser feito por uma equipe da Maternidade foi realizado pelo esposo de Valéria, Ezio de Souza Silva, 22 anos, e duas pacientes que estavam internadas na unidade.



Valéria Apurinã mora na aldeia Manhê, KM-137, da BR-317, rodovia que liga Rio Branco, no Acre, ao município de Boca do Acre, no Amazonas. Na terça-feira passada, ela veio a Rio Branco junto com o seu esposo para retirar o feto morto, na Maternidade Bárbara Heliodora. Na unidade, o primeiro sinal de descaso da Saúde pública: ela foi informada que não podia ser internada por causa da falta de leitos. Com dores, Valéria foi para casa de familiares no bairro Recanto dos Buritis, e retornou nesta quarta-feira. Já internada ela recebeu medicamento para expelir o feto. Seu esposo conta que momentos após a medicação, a jovem indígena começou a sentir dores intensas. Desesperado, ele começou a pedir ajuda dentro da Maternidade.


“Falei com a médica que estava de plantão, ela foi lá e disse que isso era normal. Tudo bem. Mas quando foi numa base de 11h (23h) a dor atacou de novo mais forte. Ela começou a gritar aí eu fui lá de novo e chamei a doutora, mas ela disse que não podia fazer nada e o que ela podia fazer era dar o remédio, que já tinha dado. E que eu tinha que esperar a doutora chegar. O pior de tudo é que eu fui lá umas oito vezes até as 6h da manhã e só o que eu recebia era uma não delas. Diziam que isso era normal”, diz.


Ezio de Souza conta que pela manhã, o estado de Valéria Apurinã pirou mais ainda e que ele dava sinais de que iria desmaiar. Novamente, ele pediu ajuda da médica de plantão, mas não foi atendido. Quando ele retornou à sala de internação, sua esposa já estava sagrando. Ele  que chegou a pedir ajuda a uma enfermeira que estava na sala, porém ela disse que o caso era normal e que sua esposa não podia ser atendida naquele momento por ninguém do hospital porque era horário de troca de turno. Momentos depois, a situação passou a se agravar mais ainda e ele com a ajuda duas pacientes fizeram o parto do feto morto.


“Tinha uma enfermeira na sala e eu disse a ela que a minha esposa tava passando e ela disse que aquilo era normal. Aí a minha esposa começou a jogar sangue duma vez, molhou o lençol e onde ela tava ficou tudo molhado de sangue. Aí ela só chegou, olhou e disse que isso acontece e é normal com qualquer mulher. Eu pedi para que minha esposa fosse atendida, mas ela disse que não tinha enfermeira naquele momento e que eu tinha que esperar a outra enfermeira chegar porque a outra que tava já tava indo embora e não podia atender. Aí eu fiquei com ela e ela começou a sangrar, sagrar, uma base de 20 minutos”, disse.


Ao lado dos pais da jovem, a líder do Movimento de Articulação Indígena do Acre, Letícia Yawanawá, repudiou o tratamento dado à Valéria na unidade. Ela considera inadmissível que casos com esses continuem ocorrendo com indígenas.


“Não dá pra aceitar. Até porque não é a primeira vez que casos como esses ocorrem”, diz.


O Movimento Indígena promete denunciar a possível negligencia ao Ministério Público Federal.


 Direção da Maternidade promete apurar o caso


 Ainda na tarde desta quinta-feira, a diretora geral do Hospital da Criança e Maternidade Bárbara Heliodora, Lorena Seguel, prometeu averiguar as denúncias e punir os possíveis culpados pela negligencia.


Ela informou que a família da jovem procurou o encarregado pela equipe de enfermagem, que por escrito protocolou a reclamação na direção da Maternidade.


“Fiquei sabendo desse fato hoje, que foi me passado. A gente ta averiguando pra saber o que realmente aconteceu. De manhã o enfermeiro responsável pela equipe de enfermagem ele recebeu os familiares dessa paciente. Eles oficializaram uma reclamação verbal, e ele pediu para que fosse feita aqui na gerencia uma reclamação por escrito pra gente fazer o andamento dos fatos. Mas mesmo assim sem uma reclamação oficial da família eu já estou pedindo uma investigação do caso para averiguar o que aconteceu nesse período e porque que a criança nasceu no leito sem a assessoria da equipe de enfermagem. Eu estou abrindo ainda um processo pra saber o que aconteceu e quais medidas a gente vai tomar. Se tiver ocorrido vão receber as punições que cabem no processo”, diz.


A diretora também disse que não há informações ou histórico de casos como esse na unidade. Lorena Seguel acrescentou que o quadro de profissionais da Maternidade é suficiente para atender a demanda.


“Pode acontecer um abordo no leito, mas sempre nós tivemos a equipe de enfermagem acompanhando. Então por isso que a gente tem que investigar tudo pra ver o que realmente aconteceu. O nosso quadro hoje é suficiente pra atender. Quando não tem profissional é pago um extra pra alguns fazerem plantões”, completou.


 


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