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As águas ainda vão rolar

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As águas do Madeira e do Rio Acre ainda vão demorar para baixar. Nos últimos dias a correnteza arrastou para baixo das pontes da cidade pedaços e troncos de arvores. “São as águas de março fechando o verão é promessa de vida no meu coração” como diria o poeta. As águas ainda não baixaram, e a natureza continua inquieta mostrando aos homens quem realmente comanda a vida nos rios da Amazônia. Mas, antes que as mesmas voltem para o leito deixando nas margens dos rios o seu rastro de vida e destruição não podemos negar que essa enchente que por pouco não isolou (pelo menos ainda não) “geograficamente” o já simbolicamente isolado estado do Acre trouxe boas lições para a política. A primeira é que a realidade sempre se sobrepõe ao discurso, mesmo aqueles mais elaborados, e que contam com uma boa publicidade oficial; a segunda é que temos que aceitar um fato: somos frágeis, e muito mais dependentes da economia do restante do país do que realmente gostaríamos.


O governo petista e os seus defensores sofreram um duro golpe, e não adianta usar o discurso da catástrofe natural em peças publicitárias que apelam para o emocional porque as lágrimas que escorrem nos olhos de centenas de famílias desabrigadas no Acre e em Rondônia já bastam. Então por favor nos poupem do melodrama financiado com os míseros recursos públicos deste pobre estado. Essa justificativa é insuficiente para explicar porque ainda não produzimos sequer a matéria prima para fazer um simples chá como disse exageradamente um certo candidato. Bem, essa é uma questão que deixo para os economistas porque o que me interessa neste texto é dialogar com as águas turvas e as vezes ou quase sempre traiçoeiras da política.

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Até o início do ano, tínhamos ao menos cinco nomes que se apresentavam como candidatos a ocupar a cadeira do Executivo Estadual. Se contarmos com a atual governador Sebastião Viana eram seis nomes na disputa. As águas nem baixaram, e temos hoje apenas três nomes, isso contando com o do governador que tenta a reeleição. Com isso, se restabeleceu a razão e o pragmatismo político que se bem apurados possibilitarão que, sejam apresentados para o eleitor acriano nas eleições de outubro apenas dois nomes. E será diante destas duas alternativas políticas que ele deverá escolher quem deverá governa-lo nos próximos quatro anos.  O movimento feito por Henrique Afonso – PV, então candidato a vice na chapa de Tião Bocalom – DEM, e a adesão de Sergio Petecão – PSD ao grupo de Marcio Bittar – PSDB, Flaviano Melo e Wagner Sales do PMDB era uma das peças que faltavam para a montagem do quadro eleitoral. Portanto, ficou claro que para se apresentar como alternativa ao eleitor é necessário ter: um partido, quadros e principalmente um projeto. Diz o bom senso que o projeto é necessariamente consequência dos outros dois itens. Tião Bocalon deve ir até as margens do rio Acre e observar o que a natureza ensina, ou seja não se pode remar contra correntezas quando elas são fortes o suficiente para arrastrar arvores centenárias para o fundo das águas.  Por outro lado, Henrique Afonso pode ter ido dar um rolézinho na oposição, mas esse rolézinho mostrou ao governador que a escolha da vice na sua chapa foi precipitada porque o PV (se voltar para a FPA) poderia oferecer a Sebastião Viana um nome com mais peso e experiência administrativa em uma área de seu governo que está com sérios problemas. Marcia Regina- PV seria sem dúvida um nome mais apropriado para vice, e nem precisaria envia-la até Rondônia para tirar umas fotos de campanha.


Os coletes laranjas da defesa civil não deram e não darão superpoderes ao governador e ao prefeito da capital, e as reportagens por mais que tentem não podem fazer com que eles voem por sobre as águas. A próxima eleição será uma batalha do corpo a corpo, nas trincheiras e com baionetas e fuzis em um mundo real onde existem enchentes, violência, pobreza, desemprego e uma oposição que aos poucos se agrupa em torno de um nome.  Se a correnteza ajudar essa oposição poderá contar até com os efeitos da dura realidade que ficará estampada ao eleitorado quando as águas baixarem. Essa realidade que se bem compreendida poderá render uma boa crítica as quase duas décadas de administração petista. Não sei se isso será suficiente para desnudar a “realidade maquiada” encoberta pelo verniz da propaganda oficial, mas é o prenúncio de um bom embate eleitoral. Arrastado pela maldita imprevisibilidade da política, o discurso governista vai precisar se preparar bem mais, para um batalha que ele achava ter ganho antes mesmo de inicia-la. Ou faz isso, ou corre o risco de ficar olhando da ponte a correnteza da história arrasta-lo como a correnteza do rio arrasta os balseiros. Diz um certo ditado popular que as águas do rio subiram tanto que bateram na região abaixo da cintura do governo petista, forçando a troca dos coletes para um outro modelo mais apropriado.


 Nilson Euclides da Silva é Professor e Coordenador do NEPDE – Núcleo de Estudos Políticos e Democracia da Ufac


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