Quem acompanha com frequência a política acreana entrou numa confusão mental diante de tantas movimentações realizadas pelo deputado federal Henrique Afonso e seu Partido Verde (PV). Num resumo da ópera, em menos de seis meses houve uma ruptura com o governo Sebastião Viana (PT), o lançamento de uma candidatura própria, um vai e vem dentro dos grupos da oposição e agora o retorno à Frente Popular do Acre (FPA).
“O Henrique Afonso foi apenas dar um ‘rolezinho’ na oposição”, define um alto dirigente da FPA. A comparação com o fenômeno de jovens da periferia brasileira em suas andanças pelos shoppings e almejando a inclusão no mundo consumista é pertinente.
Na política local o histórico de Henrique Afonso sempre foi de muita instabilidade. Em 2010 pleiteava uma candidatura ao Senado. Ameaçava romper e ir às últimas consequências caso a cúpula governista não aceitasse seu nome. Bateu a perna mas não obteve sucesso: viu-se obrigado a ceder para Edvaldo Magalhães (PCdoB).
Dois anos depois se apresentava como candidato a prefeito de Rio Branco, mesmo com sua base eleitoral sendo o Vale do Juruá. Mais uma vez, guarnecido pela militância verde, mandava recados de ruptura para o governo caso não tivesse um lugar ao Sol na sucessão de Raimundo Angelim (PT).
Às vésperas do registro das candidaturas sumiu da capital e só foi encontrado em Cruzeiro do Sul apresentando-se como concorrente de Vagner Sales (PMDB); perdeu. Em 2013 de novo colocava o PV numa saia-justa por disputa majoritária. Após intensas conversas e novas ameaças de rompimento, quebrou a aliança com o Palácio Rio Branco, mesmo com a posição contrária de alguns membros.
A quebra ocorreu em agosto, com o PV e Henrique pretendendo ser a terceira via das eleições no Acre. Vendo-se sozinho e sem tamanho procurou alianças com a oposição, em especial o grupo de Tião Bocalom (DEM), também colocado de lado pelos principais partidos oposicionistas e tendo como único apoiador (até então) o senador Sérgio Petecão (PSD).
Henrique Afonso não se sentiu à vontade no grupo de Bocalom. O estilo turrão do democrata e sua pouca afeição ao debate programático acabaram por afugentar os verdes, que logo procuraram o grupo de Márcio Bittar (PSDB), visto como “menos problemático”.
Lá, Henrique Afonso não teria vida fácil para emplacar a candidatura ao governo: tinha como concorrentes os fortes Bittar e seu ex-desafeto do Juruá, Vagner Sales (PDMB). Até as mágoas passadas foram apagadas entre eles para acabar com qualquer desconforto.
O deputado verde foi para o grupo recebendo a garantia de que seria ao menos vice de Márcio Bittar. Para isso os articuladores políticos precisavam convencer o PMDB a ceder a cadeira, pois seu peso o colocava como o aliado certo para fechar chapa com os tucanos.
De início os peemedebistas não estavam muito dispostos a isso, mas a operação política de Vagner Sales iria credenciar Henrique como vice sem deixar a legenda melindrada. Em fevereiro o PMDB “rebelou-se” e disse que não cederia a vice, o que deixou o PV furioso e provocando mais um rompimento e retorno a Bocalom.
“Este movimento criou um tremendo desgastes para o Henrique dentro do PV. Não dá para entende-lo, ele acorda de um jeito e vai dormir de outro”, analisa um membro do partido. Após quase uma semana de “recolhimento espiritual” o deputado anunciou que desistirá de ser o vice de Bocalom, e acena um retorno à FPA.
Está agendada para esta semana conversa entre dirigentes da base governista com os líderes verdes para serem definidos os últimos detalhes do retorno do “filho pródigo”.