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“Tem 70% de chances de hoje não passar mais caminhões na BR”, diz caminhoneiro

Por
Ray Melo, da editoria de política do ac24horas

 A dependência do Acre da chegada de produtos pela BR-364 ficou evidenciada nas palavras do caminhoneiro Juvenil Correia, que foi entrevista no programa O Povo no Rádio, da Rádio Boas Novas (RBN), 107,9 – nesta quarta-feira (26). Ele revela que a situação da estrada é bem mais grave do que é informado pelas autoridades de Acre e Rondônia. Correia reclama da “total falta de suporte” para os caminhoneiros que se arriscam na travessia dos pontos alagados da BR-364.


Segundo Juvenil Correia, o isolamento do Acre é inevitável. “Tem 70% de chances de hoje não passar mais caminhões na BR. Muitos caminhoneiros estão parados em Jacy Paraná. Os motoristas não querem se arriscar na travessia. Estamos percorrendo mais de 15 quilômetros sem enxergar um palmo de asfalto. A velocidade média é de 10km por hora, andamos de primeira e segunda marcha no máximo. Ainda temos que andar em comboio”, destaca.


 O caminhoneiro afirma que não existe nenhum tipo de fiscalização ou serviço de informação aos profissionais que trafegam entre os dois estados. “A situação está crítica. A antigo mutum está debaixo da água. Os cinco postos de alagamento ultrapassam 15 quilômetros e a altura da água é de 80 centímetros em média, sendo que a altura do pneu do caminhão é 1,10 metro. Assisti hoje pela manhã, um inspetor dizendo que existe demarcação, isso não é verdade”, alerta.


 Para fazer a travessia dos pontos de alagamento da BR-364, os  caminhoneiros escolhem um líder de comboio, que mesmo sem visualiza o asfalto, conduz os colegas no perigoso trecho. “A PRF disse que a rodovia está sinalizada, que tem demarcação, só se eles colocaram depois que passamos. A única demarcação que temos é a natureza. Estamos contando com a sorte. Não temos Defesa Civil, PRF, Corpo de Bombeiros e Polícia Militar para nos ajudar”, diz Juvenil.



 Ele relata que a única fiscalização que existe é uma viatura da PRF no início dos pontos alagados, em Rondônia. “Cheguei às 16h, de ontem, no local onde a PRF fica. Dormi na estrada, só fui autorizado a entrar na rodovia por volta de 6h, de hoje. São cinco horas para passar pelos pontos de alagamento e fazer a travessia do rio Madeira. Em 22 anos de profissão, está é a primeira vez que vejo uma coisa desta no percurso de Rondônia/Rio Branco”, informa Correia.


 O profissional do volante reclama da falta de reconhecimento que as autoridades têm por sua categoria. “As pessoas que acompanham as notícias não sabem a dimensão do problema. O caminhoneiro está abandonado. Tudo que o Acre consome passa por esta estrada, mas ninguém olha para estes profissionais. Cadê o Imac, que só sabe multar quem queima entulho em quintais, a Defesa Civil, o Corpo de Bombeiros para auxiliar o caminhoneiro?”, questiona.


 Para chegar até a cidade Rio Branco, Juvenil Correia foi escolhido “boi carreiro”, o veículo que puxa o comboio. O caminhoneiro disse que durante o percurso praticamente às cegas, ser apegou na fé.  “Não existe nenhum tipo de socorro na rodovia. Caso um caminhoneiro sofra um acidente nos pontos alagados. Estamos fazendo a travessia sem nenhum suporte, sem ajuda de ninguém. Os caminhoneiros estão preocupados com o retorno para casa. São pessoas que transportam a economia, mas não tem o valor reconhecido. Ninguém pergunta como foi a travessia, se tudo correu bem. As pessoas enxergam apenas mais um caminhoneiro”.


 Demonstrando ser um homem de muita fé, Correia acredita que as causas do alagamento histórico do rio Madeira sejam provocadas pela ação do homem que estaria agredindo o meio  ambiente e “as leis de Deus”. “A natureza está revoltada com o homem, porque o homem quer saber mais do que Deus”, ressalta


 Questionado se a ponte do rio Madeira poderia evitar o isolamento do Acre, Juvenil foi categórico:  “A construção da ponte é importante, mas é preciso levantar no mínimo 1,5 metro da rodovia, em todo o trecho alagado, para o Acre se livrar do perigo do isolamento. Neste momento, a Petrobras, Ipiranga, Texaco e Fogás não estão mais fazendo carregamentos por causa do alagamento da BR – fica evidente que o problema não é apenas a falta de uma ponte”, finaliza Juvenil Correia.


 


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Ray Melo, da editoria de política do ac24horas

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