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Com o “espírito evangélico” tomando de conta do PT acreano, algumas mudanças são perceptíveis. Os cumprimentos como “companheiro” vão sendo substituídos por “amado”. Após “O Capital”, de Karl Marx, ser a grande fonte de formação ideológica, a Bíblia passou a ser a leitura recorrente entre os militantes esquerdistas.
Nos momentos mais difíceis nada melhor do que recorrer aos exemplos dos grandes homens do Velho Testamento para buscar inspiração. Assim foi com o senador Aníbal Diniz em sua tentativa de ser o candidato único ao Senado pela FPA (Frente Popular do Acre).
Evangélico, o parlamentar petista passou a definir o grupo minoritário que o apoiava como os “valentes de Davi”, uma referência ao jovem rei judeu cuja principal fama esteve na luta contra o gigante Golias, numa batalha de Israel contra os filisteus.
“Os valentes de Davi” de Aníbal se resumiam a um grupo isolado do PT, restrito aos funcionários do gabinete dele e de seu escudeiro Jorge Viana. O Golias tinha nome e sobrenome: Sebastião Viana. O desafio do senador era de forma desesperadora convencer nosso Golias de que seu nome era o melhor do partido e da Frente Popular para o Senado.
Mas Sebastião resistiu a toda forma de pressão (até do irmão senador) e manteve Perpétua Almeida (PCdoB) como sua parceira na disputa majoritária. Ao contrário da passagem bíblica, o nosso Davi amazônico não foi capaz de derrotar o gigante Golias.
Se Davi precisou de uma única pedra e golpe para aniquilar o inimigo, Aníbal Diniz precisaria de todo o Monte Sinai para estremecer a poderosa estrutura estatal à disposição de Sebastião.
Mas nem tudo foi fiasco para o senador. Como consolo da retirada de sua candidatura ele teve a garantia do governador de que receberia todas as condições para se eleger deputado federal (Sebastião, inclusive, tinha orientações da Executiva nacional para isso).
O senador recusou a oferta; há meses ele afirmava que, não fosse candidato à “reeleição”, ficaria de fora de 2014. Dizer um “não” a um governador com a força política de Sebastião é como a decretação de guerra.
Mas não era esta a intenção de Aníbal. Dentro do PT ele sai do processo bem visto, como aquele militante que sabe ir para o embate, mas recua no momento certo, e sem deixar cair a honra.
Custos políticos
O mais provável é que Aníbal Diniz esteja empenhado na campanha de reeleição de Sibá Machado (PT-AC) para a Câmara. Este foi o acordo entre eles para que os “sibanistas” esquecessem as mágoas das eleições internas do PT para dar respaldo à candidatura do senador dentro da legenda. O pacto ainda envolveu alguns cargos cedidos a Sibá no gabinete do senador.
Outro cenário
Alguns petistas avaliam que este apoio a Sibá tem prazo de validade. O mais provável, dizem fontes, é que Aníbal esteja comprometido na candidatura a federal de Raimundo Angelim (PT) por o ex-prefeito ser do mesmo grupo de Aníbal (a DR), enquanto Sibá é do campo oposto, a Articulação.
Outro cenário
Petistas também avaliam que, fosse outro nome o candidato ao Senado, o partido estaria unido. A análise é de que há muita rejeição a Aníbal pela forma como ele conduzia as operações partidárias num passado recente, com o rolo compressor ligado na última voltagem. “Ele hoje prova do próprio veneno”, diz um influente membro do diretório. Fosse Angelim ou até Binho Marques na disputa, completa, o PT ainda estaria na disputa.
Camaradagem
Por conta desta considerável rejeição, a saída do PT de cena pode não trazer tantas sequelas para Perpétua Almeida. Entre Aníbal e a deputada, as tendências mais à esquerda da legenda se sentem mais à vontade para pedir voto à comunista, já que o senador costumava atuar para solapar os grupos minoritários no PT, donos de uma considerável base social e eleitoral.
Peso pesado
Perpétua Almeida terá como uma de suas estratégias na campanha apresentar-se como a candidata da presidente Dilma Rousseff. No Acre o apoio de Dilma pode trazer mais danos que benefícios. A petista levou um “chocolate” na eleição de 2010 e nestes três anos de governo nunca sonhou em pisar aqui. O eleitor acreano, com sua sabedoria, leva estes pontos em consideração.
Fiscalização
A denúncia feita pelo jornalista Luciano Tavares de que os secretários de Sebastião Viana “gazetaram” o trabalho para estarem no evento da FPA desta manhã mostra que o MP Eleitoral terá muito trabalho. É preciso coibir o abuso no uso da máquina estatal para beneficiar os candidatos. Segundo informações, o procurador eleitoral Fernando José Piazenski está com “sangue no olho” para 2014. Que assim seja para a lisura das eleições.
Prazos estendidos
A oposição definiu para 15 de março a data para a apresentação de sua chapa majoritária. O grupo perde tempo com a Frente Popular já tendo seu time definido e em plena campanha. O eleitor da grande massa até hoje não sabe quem de fato é o nome; a oferta é grande: Márcio Bittar (PSDB), Vagner Sales (PMDB) e Henrique Afonso (PV). Tal desorganização só beneficia a Sebastião Viana.
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