O rio Acre baixou ao longo de toda esta quarta-feira, 5, 12 centímetros. Na medição das 18h divulgada pela Defesa Civil Estadual, o manancial registrou 14,45m. Mais de 170 famílias permanecem abrigadas no Parque de Exposições Marechal Castelo Branco, além das famílias que foram levadas para casas de parentes.
Apesar da vazante na zona urbana, na zona rural da capital só contabilizar prejuízos. Os produtores rurais foram obrigados a antecipar em pelo menos dois meses a colheita da macaxeira. Os principais pólos de produção estão localizados na calha do rio Acre, especialmente as comunidades localizadas a jusante do manancial, sentido Rio Branco-Porto Acre, onde muitos ribeirinhos estão mobilizando familiares e amigos em grandes adjuntos para apressar a colheita e o preparo de subprodutos –goma, farinha e tucupi. Em geral, as perdas são de 60% do que seria produzido e faturado nesta safra.
Foi dessa forma, com os adjuntos, que o agricultor Antônio Marcos, um dos donos da Colônia Paraíso, na comunidade Liberdade, vem conseguindo aproveitar ao menos parte do que plantou no ano passado. “Se a água chegar aqui o prejuízo é de R$20 mil”, disse ele apontando para o roçado ao lado da bela casa que construiu com a renda da produção de goma e farinha. “Só ia ficar boa daqui a dois meses”, declarou o irmão de Antonio Marcos, Francisco Airton, que corre contra o tempo para não perder tudo: a macaxeira, sob o aguaceiro, não leva nem três dias para apodrecer.
Marcos faz parte da grande família do Seu Ezequiel, que tem dezesseis, todos vivendo e trabalhando no Liberdade e comunidades próximas. Juntos, plantam cerca de 80 hectares de roça e se configuram nos mais fortes produtores de subprodutos da macaxeira do município de Rio Branco. Como conhecem como ninguém o regime de águas do rio Acre, fazem o plantio escalonado. A roça mais velha está sempre nas terras baixas e é a primeira a ser colhida em caso de transbordamentos. As chuvas que caem desde novembro estão em volume maior que o esperado para o período, que antecipou ainda mais a retirada da produção. “Está verde e macaxeira verde não dá boa farinha”, observou Francisco Souza, morador do Catuaba. Filho de outro grande produtor, Seu Belo, Francisco teve de enfrentar um charco d´água para colher o legume. “Perdi praticamente a metade do que poderia ganhar se não fosse a enchente”, completou ele, temendo que a água do rio volte a subir e tomar conta de suas terras. “Aqui é muito baixo, alaga fácil”.
Cheia destrói cultivos de quiabo, pimenta de cheiro e macaxeira
A situação não chega aos níveis de 2012, quando a alagação causou prejuízos de mais de R$12 milhões no campo, mas a antecipação da colheita é por si só um estrago dos mais sérios. E mais: de acordo com diagnósticos realizados nas comunidades do Belo Jardim pelas secretarias de Agricultura e Floresta de Rio Branco (SAFRA) e de Articulação Comunitária e Social (SEMACS), uma casa foi alagada no Ramal da Cigana e os moradores tiveram de se abrigar em casa de parentes; a ponte sobre o Igarapé Liberdade está submersa e a ligação entre a vila do Belo Jardim e o ramal Belo Jardim está comprometida. Os danos à estrutura da ponte não foram avaliados.
O diagnóstico observou que doze famílias do Catuaba, três do Liberdade e duas da Extrema acumulam prejuízos com as chuvas. Estão destruídos integral ou parcialmente cultivos de pimenta de cheiro, quiabo e macaxeira. “Diante das dificuldades os moradores estão sendo solidários, prova disso é que estão trabalhando em regime de mutirão para transformar a mandioca retirada das áreas alagadas em farinha e goma, reduzindo assim os prejuízos”, diz o relatório assinado pela SAFRA e SEMACS.
A SAFRA planeja garantir que os produtores afetados pela enchente não tenham despesas com a próxima mecanização e que recebam a assistência necessária para superar possíveis dificuldades do período. A princípio, o fornecimento de água potável, já que muitos poços foram tomados pela alagação, é a medida mais prioritária. “Vamos identificar os produtores que mais precisam e prestar o apoio a eles”, disse Heliton Silva, coordenadora da regional Segundo Distrito Rural da SEMACS. “Esta é a nossa parceria, a que sempre tivemos, com os produtores de Rio Branco. É uma forma de ajudar essas famílias neste momento difícil”, completou Jorge Rebolças, diretor da SAFRA.
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