Na semana passada centenas de famílias ficaram desabrigadas por causa das fortes chuvas ocorridas Rio Branco. Uma das principais regiões atingidas, a Baixada da Sobral, recebeu os maiores investimentos do Programa Ruas do Povo. Os moradores afirmam que os transtornos não foram ocasionados apenas por força da natureza, mas por obras inacabadas. Nier Pinheiro, representante do Depasa, que esteve no local, culpa as construções antigas pelo alagamento. No jogo de empurra, empurra, há sete anos a população sofre no período invernoso. A reportagem descobriu que para supervisionar e fiscalizar a rede de esgoto e drenagem das obras, a empresa Sistema Pri Engenharia recebeu mais de R$ 24 milhões dos cofres públicos.
Neste final de semana, o ac24horas voltou ao local que sofreu maior impacto com as chuvas: a Rua João Amâncio. Em algumas casas os moradores ainda se livravam da lama trazida pela força das águas. O Igarapé da ETA que corta todo o bairro João Paulo é apontado como o principal responsável pelas enchentes. Por falta de manutenção, o córrego já criou o que os moradores chamam de “afluentes” – valas que se multiplicam provocando novos pontos de alagamento.
“Essa vala existe há mais de sete anos. O prefeito passou aqui nas eleições e prometeu limpar, mas até hoje isso não aconteceu”, disse dona Renata Guimarães.
A mãe de Renata, dona Alcirene Santos, mora próximo da filha, mas para chegar até sua residência é preciso passar por um beco que margeia o Igarapé ETA. A moradora conta que o ac24horas foi o primeiro jornal a visitar o local. “Os outros vem somente no lugar que fechamos a avenida. Ninguém quer melar os sapatos aqui!”, exclamou Alcirene.
A região é mesmo de difícil acesso. Além do mato que cresce rapidamente, existe o risco de ataques de cobras e até jacarés. Ali moram crianças deficientes físicas e vários idosos. Seu Raimundo Sobral conta que um dos idosos caiu e por muito pouco não morreu afogado durante a alagação.
“Aqui quando alguém adoece é tirado na rede por que o SAMU não tem condições de entrar neste beco. Um senhor idoso quase morre afogado”, acrescentou seu Raimundo Sobral.
Sem nenhuma formação em engenharia – e nem precisa ser engenheiro – os moradores mostraram obras autorizadas pela Prefeitura de Rio Branco que interromperam o fluxo das águas do Igarapé da ETA. Sem a desobstrução de vários pontos e de bueiros, os ralos dos banheiros, cozinha e os da área externa das casas deixaram de escoar e a cada chuva a cena de desespero se repete. Marcas de água nas construções mostram a que ponto chega o abandono do poder público.
A empresa Sistema Pril Engenharia não esteve no local no dia da última enchente. Também não foi localizada para informar que tipo de fiscalização ou supervisão fez nas obras. Ruas do Povo construídas no entorno estão se acabando.
A empresa Sistema Pril recebeu para executar os serviços de supervisão, fiscalização, controle e gerenciamento das obras de drenagem, rede de esgoto, rede de água e pavimentação, cerca de R$ 24 milhões. O termo de homologação foi publicado no diário oficial do dia 22 de agosto de 2013. De acordo o Portal Transparência do Estado, o Depasa é o órgão contratante junto com a Secretaria de Infra-estrutura e Obras Públicas.
Outro contrato assinado entre a Secretaria de Estado de Gestão Administrativa e a empresa Sistema Pri, em julho de 2010, aponta responsabilidades à empresa para a fiscalização dos serviços de saneamento do governo do Acre. Por este acordo, o governador Sebastião Viana desembolsou generosos R$ 5.038.627,27.
Ao lado do ex-prefeito Raimundo Angelim, do PT, o governador Sebastião Viana foi para o outro extremo do estado, anunciar no último dia 10 mais uma etapa de entregas do programa Ruas do Povo, em Mâncio Lima. Longe do problema que deixou moradores desesperados em Rio Branco, Sebastião Viana falou do nível de mobilidade urbana levado as famílias e não dedicou uma linha sobre a situação dos moradores da Baixada da Sobral.
O OUTRO LADO:
Após a repercussão do assunto, principalmente nas redes sociais, o prefeito de Rio Branco, Marcus Viana enviou máquinas e homens para desobstruir o Igarapé da ETA. Nenhuma família foi indenizada pelos prejuízos. O município assumiu o compromisso de manter máquinas e equipe de plantão.
Nier Pinheiro, representante do Depasa, disse que a construção de uma galeria já foi licitada e as obras devem acontecer no período de verão.
A reportagem procurou engenheiros do CREA. O presidente da instituição, Amarildo Uchôa não foi encontrado na manhã de sexta-feira (10) na sede do órgão. Recentemente, Uchôa falou durante a IV Reunião Ordinária do Crea Norte, sobre mobilidade urbana, citando exemplos da capital Boa Vista e Ljubljana-Eslovênia. Uchôa não retornou as ligações feitas pela reportagem.
Em nota, Depasa faz esclarecimentos sobre a situação da baixada da sobral