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Em artigo, Davi Friale fala sobre o fuso horário do Acre

No passado, cada cidade tinha sua própria hora, que era estabelecida conforme a posição do Sol, no seu ponto mais alto, ou seja, exatamente, na metade do dia. Portanto, o meio-dia opõe-se à meia-noite. Convencionou-se que a metade da noite seria o início de um novo dia com 24 horas. Assim, 12 horas, depois, viria o meio-dia.


Essa foi a regra geral que funcionou, no mundo inteiro, mesmo onde o dia não era dividido em 24 espaços iguais de tempo, mas estabelecia universalmente que meio-dia era determinado pela posição mais elevada do Sol.


Assim, também, vigorou no Brasil, até 1913, quando o horário era determinado, tão somente, pela posição do Sol, em cada cidade. A cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, tinha horário diferente da cidade São Paulo, que por sua vez, era diferente das demais capitais do país.


No sentido de que houvesse padronização e facilidades em se saber determinar a hora em cada local do mundo, convencionou-se criar os fusos horários, que devem seguir, rigorosamente, os critérios científicos e, portanto, naturais, do horário para as diferentes regiões da Terra, de tal forma que não comprometesse o horário natural em mais de 30 minutos para mais ou para menos.


Por isso, através de uma lei de 1913, foram criados quatro fusos horários, no Brasil, que eram o do Rio de Janeiro (fuso zero, no país), o de Fernando de Noronha (adiantado em 1 hora), o de Manaus (atrasado em 1 hora) e o de Rio Branco (atrasado em 2 horas). Dessa forma, ficou regulamentada e racionalizada a utilização de horários, no Brasil, de acordo com a convenção internacional.


Infelizmente, alguns não conseguem diferenciar fuso horário de horário de expediente. O fuso horário deve ser imutável, pois representa um fenômeno natural, mas o horário de funcionamento das atividades diárias pode ser mudado, sim, da maneira como melhor atender às necessidades de cada órgão ou empresa.


Não se trata de dizer se é melhor ou pior o fuso horário do Acre, em vigor, e, sim, de se colocar o mais elementar e tradicional meio de se medir o tempo diário, ou seja, o fuso horários científico e naturalmente aceito por toda a humanidade. O meio do dia tem que coincidir com o meio-dia, ou seja, 12 horas, que é quando o Sol, no seu movimento aparente, encontra-se na sua posição mais elevada, em relação à superfície da Terra, no local onde estamos.


Há países como a Austrália, a Índia e alguns árabes, que até exageram na exatidão dos seus fusos, tal o interesse em ter a hora mais natural. Nesses países, há diferenças de 30 minutos e, até, de 15 minutos, entre um fuso e outro, pois a intensão de seus governantes é deixar o meio-dia dos relógios mais próximo do meio-dia real.


São poucos os países que fogem ao critério universal dos fusos horários e são nações ditatoriais ou que tinham alguma rivalidade com seus vizinhos, no passado.


A China, quando da tomada pelos tropas comunistas e ditatoriais, unificou seus vários fusos e os igualou ao de Pequim. É interessante que esse país oriental estabeleceu o horário da capital como sendo o horário oficial de todo o seu território, com vários fusos, pois lá é onde moram os chefes da nação.


A Argentina adiantou seu horário em 1 hora para não ficar atrasado, em relação ao Rio de Janeiro, à época, a capital do Brasil, devido à rivalidade entre as duas nações. O mesmo ocorreu com o Uruguai.


No entanto, os parlamentares chineses e argentinos, segundo noticiado, atendendo pedidos da população, estão propondo urgência no restabelecimento dos fusos horários tradicionais, cujas discussões já estão adiantadas em torno desse assunto.


Ridículo é pensar e dizer que o Acre ficaria mais isolado ou atrasado, quando voltar o fuso tradicional e correto.


O que dizer, então, dos Estados Unidos e da Rússia que têm, respectivamente, mais de 5 e de 9 fusos horários? Por acaso Los Ângeles, a oeste, é menos desenvolvida do que Nova Iorque, a leste, separadas por vários fusos? Mesmo no regime ditatorial da extinta União Soviética não se cogitou unificar os cerca de 10 fusos horários do país, que vigoram até hoje, na Rússia.


Aí vem aqueles em defesa do errado argumentando que, quando, no centro-sul do país, houver horário de verão, o Acre ficará com três horas de diferença, em relação a Brasília. Também, reclamam quanto à programação da televisão que é transmitida com atraso para os acreanos.


Sobre estes dois probleminhas há soluções muito simples. Adote-se, no Acre, também, o horário de verão, como acontecia no passado. Quanto à programação das emissoras de televisão, que se empenhem nossos representantes, em Brasília, para restabelecer a transmissão simultânea, como era feito antigamente, pois não tem sentido, os argumentos de um juiz que achou que seria prejudicial aos menores a transmissão da noite. Como se não fosse possível, hoje, ter esses mesmos programas a hora que se quiser através dos mais variados meios de comunicação!


Parabéns, em primeiro lugar, ao povo acreano que soube distinguir fuso horário de horário de expediente e votou pela rejeição do fuso naturalmente errado que fora imposto ao povo. Parabéns aos parlamentares que, também, entenderam e fizeram prevalecer não só a vontade do povo, mas, principalmente, o cientificamente correto, em relação a hora do Acre.


Davi Friale é pesquisador meteorologico e edita o Portal O Tempo Aqui


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