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O Baile da Alegria

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Roberto Vaz

Todos os anos, ou melhor, todas as vezes que a Terra dá um giro em torno Sol, uma companhia de artista anônimo se dirigia àquela pequena cidade. As habilidades poderiam ser motivos de críticas, não eram preciosos na desenvoltura exigida, mas a cidade estranhamente não deixava de assistir aos quatros: o acrobata, o homem que cuspia fogo, a mulher que fazia uma faca penetrar no seu ventre e o homem que dizia saber de tudo.


Todos os anos, ou melhor, todas as vezes que a Terra dá um giro em torno Sol, os artistas, depois de chegar à cidade, se desmanchavam debaixo de uma arvore velha e buscavam o tempo passar, para que de noite mostrassem as suas aptidões.


Todos os anos, ou melhor, todas as vezes que a Terra dá um giro em torno Sol, o pequeno espaço que terminava nas barranqueiras de um córrego rápido se enchia de gente. Pessoas que queria ver as proezas do quarteto viajor se amontoavam em frente ao acanhado palco, disputando com os ombros um melhor lugar para vê-los.


Todos os anos, ou melhor, todas as vezes que a Terra dá um giro em torno Sol, quando a amostra teatral acabava, as palmas eram fortes, as lágrimas eram certas, os corações eram emoções puras, a ansiedade e a saudade, porque teriam de esperar por mais um ano aquela festa.


Todos os anos, ou melhor, todas as vezes que a Terra dá um giro em torno Sol, enquanto as estrelas faziam as malas para marchar, o acrobata cantou:


– Eu sou a porta de parte do céu! Eu sou a porta de parte do céu. Nada é mais perigoso que a acrobacia de cada dia que tenho de viver.


Ouvindo aquela doce melodia, o homem que cuspia fogo respondeu em um tom um pouco mais grave, decorrência de uma garganta por demais inflamada:


– Eu sou a outra porta de parte do céu! Eu sou a outra porta de parte do céu! Nada é mais perigoso que engolir todos os dias as palavras que me queimam a alma e o corpo.


Inquieta e temendo perder o jogo, após confirmar o nó no saco de seus pertences, a mulher que fazia uma faca penetrar no seu ventre cantou como que um vento forte dos verões suecos:


– Eu sou as janelas de parte do céu! Eu sou a janela de parte do céu. Nada é mais cruel que receber dos amigos os maiores golpes na vida.


O homem que sabia de tudo, nada disse, nada cantou. Cansado do espetáculo que deu, abriu uma de suas caixas e tirou uma pequena botina, usada mais nos dias frios ou alegres demais.


Os quatros beberam, os três continuaram cantando suas cantigas.


Pararam quando o homem que sabia de mais solicitou em voz calma:


– Sigam-me.


Todos os anos, ou melhor, todas as vezes que a Terra dá um giro em torno Sol, o homem que sabia demais partia sozinho rumo ao seu não sei qual caminho. Para ajudar aos amigos e suas afirmações, levou-os à madeira: foram enforcados na árvore que lhes tinha dado sombra.


  


 


 


 


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