Categories: Crônicas de um Francisco

Catecismo e cataclismas

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Roberto Vaz

Morri em 1964.


Fui um dos primeiros a protestar contra o Golpe Militar que envergonhou o país naqueles anos pesados. Eu estava com medo, mas parece que nem todos fomos a deixar o cenário.


Hoje, já morto, posso entender melhor que não havia como impedir que os tarados de farda tomassem o poder. O nosso presidente era fraco. João Goulart era fraco, vacilante e duvidoso em suas ideologias, ele não tinha a habilidade de Getúlio para suportar a pressão de várias forças que sempre plasmaram na nossa sociedade.


Tive orgulho dos jovens que foram às ruas, gritaram por um Brasil melhor, vergaram o braço em um sonoro não. Essas pessoas perderam tudo! Não tinham nomes, apareceram nas listas de desaparecidos e, quando tudo era apenas uma questão de sorte, foram torturados e agredidos em seus direitos mais basilares.


Morri em 2002.


Fui um dos primeiros a protestar contra o Golpe Ideológico que envergonhou o país naqueles anos cínicos.


Hoje, já morto, posso entender que fomos um bando de idiotas que imaginava que aqueles que viveram coisas tão negras no passado, iriam fazer coisas tão assim decepcionantes.


Com quem aprenderam fazer tantas coisas absurdas? Com quem ensaiaram as fraudes? Quem lhes deu a lição da corrupção? Foram os choques? Os dentes esmagados eram seus lemes? Forram os anos nos calabouços? Foram os anos sem nome e sem pátria? Foram os anos sem identidade e sendo um Zé ninguém? Oh! Quanta desilusão!


Ah! Mas não! Alguns de vocês ainda são Zés. São importantes e compactuam tudo o que não queríamos pra esse país. Seria o fim da História?


De que adiantou tudo aquilo? As músicas do Caetano perderam o sentido. O Chico Buarque amargura seu próprio veneno. O Gil não quer mis gritar.


Dei-me um revolver! Dei-me uma dança no salão! Dei-me uma festa sem samba e sem final feliz com a namorada.


Dei-me uma conta no Facebook… um pouco de coragem e um travesseiro pra chorar à noite. Levantaremos novos sonhos, desenharemos novas metas e, quando nos levantarmos, faremos um Brasil maior e com mais luz. Chega dessa massa de manobra! Chega desses cretinos que engolem as palavras! Chega de representante que representam apenas papeis frouxos e sem sentidos. Teremos um mundo melhor! Ninguém irá nos convencer!


Morri em 2014.


Por Francisco Rodrigues Pedrosa    f-r-p@bol.com.br


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Roberto Vaz

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