Marcio Bittar é o que menos se identifica com esse viés ideológico, aponta pesquisa divulgada na Veja.com
Políticos ditos de esquerda, justamente os que mais costumam colar o adjetivo ‘fascista’ na testa dos outros, seriam os principais adeptos dessa nova expressão da ideologia. É o que mostra pesquisa feita com 60 deputados federais brasileiros para o novo livro Guia Politicamente Incorreto, do escritor Leandro Narloch, conforme revela a coluna desta semana de Rodrigo Constantino, da Veja.com.
Entre os entrevistados há dois deputados do Acre. Um deles é Marcio Bittar (PSDB-AC), primeiro-secretário da Câmara, e o que menos se identifica com os ideais fascistas de Benito Mussolini. Bittar assume papel de neutralidade, diz a pesquisa. Entre os partidos, os que mais defendem as ideias fascistas são o PCdoB, o PT, PDT e PSB. Já o PSDB, partido de Bittar, e o DEM, são as legendas que mais desaprovam a ideologia fascista.
Ao contrário de Bittar, a deputada Perpétua Almeida (PC do B-AC) concorda totalmente com a ideia fascista do indivíduo como mera engrenagem do Estado. Seu pensamento é expresso quando ela responde a afirmação: “Como um anti-indivisdualista, acredito numa concepção de vida que se destaca a importância do Estado e aceita o indivíduo apenas quando seus interesses coincidem com os do Estado”.
A pesquisa foi realizada com os deputados para ilustrar a tese de Jonah Goldberg, de que o fascismo, tão utilizado na boca de esquerdistas, está alinhado com a própria esquerda. Constantino ainda lembra em sua coluna que o ditador italiano Benito Mussolini foi socialista antes de se tornar fascista. E diz que os princípios de Mussolini estão presentes em protestos, discussões políticas e ações dos governos.
Ainda de acordo com o colunista de Veja.com, grupos desse tipo manteriam a essência da ideologia: o impulso de calar liberdades individuais em nome da justiça social, da saúde pública ou de outro bem comum desenhado por técnicos e especialistas. Os políticos à esquerda, justamente os que mais costumam colar o adjetivo “fascista” na testa dos outros, seriam os principais adeptos dessa nova expressão da ideologia.
Abaixo, leia a íntegra da coluna de Rodrigo Constantino intitulada Fascismo de esquerda:
Em primeira mão, cortesia do autor Leandro Narloch e da editora Leya, segue um trecho bem interessante do novo livro da série Guia Politicamente Incorreto. Uma pesquisa interessante foi realizada com nossos deputados, para ilustrar a tese de Jonah Goldberg, de que o fascismo, tão utilizado na boca de esquerdistas, tem cores alinhadas com… a própria esquerda! Não custa lembrar que o próprio Mussolini foi socialista antes de se tornar fascista.
Enfim, eu ainda não tive a oportunidade de ler o novo livro, mas li os outros dois e gostei muito. Tenho certeza de que esse não irá decepcionar. O texto abaixo comprova isso:
No livro Fascismo de esquerda, o ensaísta americano Jonah Goldberg defende que os princípios do ditador italiano Benito Mussolini seguem presentes em protestos, discussões políticas e ações dos governos. Goldberg não se refere à influência de skinheads neonazistas, mas de um fascismo “do bem”, suave, com uma roupagem sustentável e bem-intencionada.
Grupos desse tipo manteriam a essência da ideologia: o impulso de calar liberdades individuais em nome da justiça social, da saúde pública ou de outro bem comum desenhado por técnicos e especialistas. Os políticos à esquerda, justamente os que mais costumam colar o adjetivo “fascista” na testa dos outros, seriam os principais adeptos dessa nova expressão da ideologia.
Para Goldberg, isso acontece porque eles nutrem uma crença maior nos direitos e poderes do estado. “O que os une são seus impulsos emocionais ou instintivos, tais como a busca pelo ‘comunitário’, a exortação para se ir ‘além’ da política, uma fé na perfectibilidade do homem e na autoridade dos especialistas e uma obsessão com a estética da juventude, o culto da ação e a necessidade de um estado todo-poderoso para coordenar a sociedade no plano nacional ou global”, diz o Goldberg.[i]
É preciso ter cuidado ao chamar as pessoas de fascistas. Enquadrar o adversário numa categoria abjeta é uma tática rasteira para se ganhar uma discussão. É tão comum que deu origem à “lei de Godwin”, segundo a qual “à medida que cresce uma discussão online, a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo Adolf Hitler ou nazismo aproxima-se de 100%”.
O termo “fascista”, do mesmo modo, perdeu seu significado – é usado à esquerda e à direita com o sentido de “herege”, “monstro”, “horrível” ou simplesmente “alguém que não concorda comigo”. Ao descrever esse costume, o ensaísta Jonah Goldberg corre o risco de cair na própria armadilha – afinal ele também aponta o fascismo nas pessoas de quem discorda.
Eu tive uma ideia para descobrir quem são, afinal, os mais favoráveis ao fascismo hoje em dia. Resolvi perguntar aos próprios políticos brasileiros o que eles achavam de alguns pensamentos de Mussolini. Consultei A Doutrina do Fascismo, o manual ideológico publicado em 1932 pelo ditador italiano e seu filósofo de plantão, Giovanni Gentile, e tirei dali cinco frases que, mesmo fora de contexto, expressam o pensamento totalitário. Omiti referências à Itália e ao fascismo e expus as cinco afirmações à avaliação de 60 deputados federais em Brasília – sem contar para eles, é claro, que as frases vinham do livro-base do ditador italiano.
As frases são as seguintes:
1) Um homem se torna um homem apenas em virtude de sua contribuição à família, à sociedade e à nação. [ii]
2) Como um anti-individualista, acredito numa concepção de vida que destaca a importância do estado e aceita o indivíduo apenas quando seus interesses coincidem com os do estado.[iii]
3) O estado deve abranger tudo: fora dele valores espirituais ou humanos têm pouco valor.[iv]
4) O estado deve ser não apenas um criador de leis e instituições, mas um educador e provedor de vida espiritual. Deve ter como objetivo reformular não apenas a vida mas o seu conteúdo – o homem, sua personalidade, sua fé.[v]
5) O estado deve educar os cidadãos à civilidade, torná-los conscientes de sua missão social, exortá-los à união; deve harmonizar interesses divergentes, transmitir às futuras gerações as conquistas da mente e da ciência, da arte, da lei e da solidariedade humana.[vi]
Meus pesquisadores registraram a opinião dos deputados em questionários com escala de 0 (discordo totalmente) a 4 (concordo totalmente). O resultado? Os deputados ficaram em cima do muro em relação às frases de Mussolini. Entre as respostas, a média ficou entre “discordo parcialmente” e “não concordo nem discordo” – o que já é uma surpresa, tendo em vista que são pensamentos do inventor do fascismo. [vii]
No entanto, bem como o ensaísta previu, as ideias fascistas tiveram menos discordância entre os políticos de esquerda. No topo da aceitação das frases, o deputado Jair Bolsonaro foi o único à direita, dividindo espaço com colegas que frequentemente o classificam como fascista. Já entre os que mais discordaram, são poucos os deputados à esquerda.
Deputados mais favoráveis às afirmações de Mussolini | |
Oziel Oliveira (PDT-BA) | 14 |
Jair Bolsonaro (PP-RJ) | 12 |
Vander Loubet (PT-MS) | 10 |
Alexandre Roso (PSB-RS), Beto Faro (PT-PA), Cândido Vaccarezza (PT-SP), Dalva Figueiredo (PT-AP), Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), Flávia Morais (PDT-GO), Francisco Praciano (PT-AM), José Airton (PT-CE), Miguel Corrêa (PT-MG) | 9 |
A soma 20 indica total concordância; 10, a neutralidade; 0 a total discordância. |
Deputados menos favoráveis às afirmações de Mussolini | |
Lael Varella (DEM-MG), Betinho Rosado (DEM-RN) | 0 |
Augusto Coutinho (DEM-PE), Luiz de Deus (DEM-BA), Otavio Leite, (PSDB-RJ) | 1 |
Alexandre Leite (DEM-SP), Márcio Bittar (PSDB-AC), Marco Tebaldi, (PSDB-SC) | 2 |
Valdivino de Oliveira (PSDB-GO), Pinto Itamaraty (PSDB-MA), Valadares Filho (PSB-SE), Almeida Lima (PPS-SE) | 3 |
Carlos Zarattini (PT-SP), Fernando Coelho Filho (PSB-PE) | 4 |
A soma 20 indica total concordância; 10, a neutralidade; 0 a total discordância. |
Entre os partidos que tiveram pelo menos três deputados ouvidos, a tese do “fascismo de esquerda” se confirmou com exatidão – e uma surpreendente coerência. Quanto mais à esquerda, menor a discordância:
Aceitação das frases por partido | |
PCdoB | 8,33 |
PT | 7 |
PDT | 6,9 |
PSB | 5,38 |
PSDB | 2,2 |
DEM | 0,8 |
A soma 20 indica total concordância; 10, a neutralidade; 0 a total discordância. |
Houve casos interessantes entre as respostas. Diversos deputados concordaram efusivamente com trechos do manual do ditador italiano. Diante da primeira frase (“Um homem se torna um homem apenas em virtude de sua contribuição à família, à sociedade e à nação”), apenas nove deputados afirmaram discordar completamente. Vinte e dois se disseram neutros. Já Cândido Vaccarezza (PT-SP), Francisco Praciano (PT-AM), Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), Oziel Oliveira (PDT-BA) e Jair Bolsonaro (PP-RJ) concordaram totalmente.
Também teve um bom número opiniões favoráveis a afirmação “Como um anti-individualista, acredito numa concepção de vida que destaca a importância do estado e aceita o indivíduo apenas quando seus interesses coincidem com os do estado”. Os deputados Assis Melo (PCdoB-RS), Domingos Dutra (PT-MA), José Airton (PT-CE), Perpétua Almeida (PCdoB-AC), Vander Loubet (PT-MS) e Oziel Oliveira (PDT-BA) concordaram totalmente com a ideia fascista do indivíduo como mera engrenagem do Estado. O trecho de A Doutrina do Fascismo que mais teve apoiadores foi o último do questionário. Catorze deputados concordaram com ele.[1]
[1] São eles: Abelardo Camarinha (PSB-SP), Alexandre Molon (PT-RJ), Alexandre Roso (PSB-RS), Anselmo de Jesus (PT-RO), Beto Faro (PT-PA), Dalva Figueiredo (PT-AP), Flávia Morais (PDT-GO), Jair Bolsonaro (PP-RJ), Miguel Corrêa (PT-MG), Oziel Oliveira (PDT-BA), Sandra Rosado (PSB-RN), Sebastião Bala Rocha (PDT-AP), Valmir Assunção (PT-BA), Vicentinho (PT-SP).
[i] Jonah Goldberg, Fascismo de Esquerda, Record, 2007, página 23.
[ii] Giovanni Gentile e Benito Mussolini, The Doctrine of Fascism, edição kindle, posição 82.
[iii] Giovanni Gentile e Benito Mussolini, posição 110.
[iv] Giovanni Gentile e Benito Mussolini, posição 110.
[v] Giovanni Gentile e Benito Mussolini, posição 168.
[vi] Giovanni Gentile e Benito Mussolini, posição 82.
[vii] As entrevistas foram realizadas entre 20 de maio e 5 de junho de 2013 no Congresso Nacional.
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