As eleições para os candidatos não foram fáceis em Florestanópolis! Pelo que pôde perceber, o povo desses tempos não era mais tão besta quanto no passado. Aquela ingenuidade nos olhos não havia mais. Aquelas pessoas que davam a vida pelo seu candidato também eram coisas raras. Florestanópolis estava tomando consciência!
Mas apesar disso Juvenal conseguiu ser eleito. O partido não teve grandes dificuldades de angariar recursos no mundo empresarial. Ficou acertado com eles que, vencendo as eleições, os doadores teriam obras e demais privilégios da máquina pública para compensar os enormes gastos do momento.
Essa dádiva do futuro administrador poderia ser ampliada de acordo com a dimensão das doações. Cargos comissionados, cargos de confiança para os parentes, contratação de amigos e outros poderiam ser concedidos, a fim de demonstrar a força do dinheiro para eleger um poste.
Ao chegar ao poder, sua vida começava a dar sinais de mudanças profundas. Sim, profundas e profundamente. O primeiro vencimento não foi tão alto quanto os presentes e gracejos que recebera dos “amigos”. Para que não houvesse maiores suspeitas, fora aconselhado a depositar tudo o que ganhava por fora numa conta bancária de um pau mandado.
Os laços e enlaces sociais também se modificaram! A reunião de puxa-sacos, que lhe limpava cadeiras e assentos, fazia com que tudo passasse por ele. Era um jogo bem jogado em que os bajuladores tramavam esforços medonhos para parecer que a opinião dele era de suma importância.
Ficou mais bonito, parece! Mudou de mulher, trocou as lojas e as joias do corpo e, com as descobertas da política, já estava “comendo” muitas das secretárias da repartição, indistintamente se solteiras ou casadas. Tornou-se um sedutor!
Como as coisas tinham mudado, resolveu mudar de ares. Era preciso uma nova casa. Não, não, uma mansão. Sim, uma mansão bem bonita, para mostrar que não é justo um político morar em casa acanhada e módica. Juvenal queria um palácio! Ele sabia que muitos eleitores só gostam de votar em ricos ou em quem ostenta poder.
Para materializar seus planos, contratou um dos maiores arquitetos da cidade, exigindo critério e despreocupação. Critério para fazer uma casa que mostrasse o esplendor de sua glória; despreocupação com dinheiro, pois isso não seria problema. Claro que não!
No dia da apresentação do projeto, Juvenal se admirou com aquelas folhas enormes que mal cabiam na mesa da sala. Também ficou sem saber que termos eram aqueles para expressar os desenhos do papel, tão bem ditos pelo arquiteto, cheio de si, flutuando em sua própria admiração!
Após a exaustiva apresentação do dono dos desenhos, Juvenal fez apenas uma pequena observação:
– Tudo muito bom, tudo muito bem! Vossa Excelência falou das repartições das áreas, dos cômodos, do forro, do telhado e dos jardins. Mas, perdoe-me a ignorância – onde estão os banheiros dessa casa?
– Não há! Não achei necessário!
– Como assim?
– Não achei necessário pô-los no meu projeto.
– Como não achou necessário “colocar eles” no seu projeto?
– Não achei necessário! Simplesmente não achei necessário.
– Sim, caralho, onde é que eu vou cagar nessa casa?
– Ah! Isso o senhor faz lá com o seu. E faz muito, faz demais e bem feito.
Por Francisco Rodrigues Pedrosa – f-r-p@bol.com.br
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