A ex-ministra Marina Silva afirmou que o Brasil vive uma crise civilizatória e disse que defende candidaturas independentes, sem partido. As declarações foram dadas no fechamento do Fórum Mundial de Meio Ambiente, em Foz do Iguaçu.
“Desde 1996, quando fui para a Itália, voltei com a ideia de um projeto de lei para candidaturas independentes. Os partidos não são concorrentes idôneos porque eles têm o monopólio da política. Isso gera uma distorção, uma crise em que os representantes usurparam o lugar dos representados”, afirmou.
Marina também comentou os atuais protestos que atingem o país. A ex-ministra do Meio Ambiente afirmou que as pessoas estão nas ruas para dizer que não querem ser “espectadoras”, mas sim “protagonistas”.
“Elas querem quebrar o monopólio dos grandes partidos, que só discutem o poder pelo poder, e não um modelo de país. Essas mobilizações são legítimas e não podemos ignorar, por alguns atos de vandalismo, os milhões que estão dizendo o que querem para o Brasil no futuro”.
Segundo a ex-senadora, o Brasil e o mundo vivem uma crise civilizatória, que é resultado de uma soma de cinco crises: a econômica, a social, a ambiental, a política e a de valores.
“Na economia, as fórmulas estão em xeque; no social, temos dois bilhões de pessoas que vivem com menos de dois dólares por dia, 5 milhões de crianças morrem por ano por falta de água tratada. Em 30 anos, teremos que viver com 20% da água per capita que vivemos hoje. A crise ambiental é a mais grave de todas, por que com ela não sobrevivemos. Perdemos mil vezes mais biodiversidade hoje do que há 50 anos”, lembrou.
“A crise política não vem só das manifestações atuais, mas de um novo sujeito político, que pede uma atualização das instituições. Estas vêm da Revolução Francesa, de quando o mundo tinha um milhão de pessoas, hoje somos 7 bilhões com internet. Esta cultura da informação contribui para a revolução”.
Marina disse que acompanhou manifestações semelhantes às que ocorrem atualmente no Brasil em países como Chile, Canadá, EUA e Espanha, e que essas lutas começaram nas redes sociais. “As pessoas tentaram desqualificar os movimentos da internet, mas agora transbordou do virtual para o real. Há três anos eu já dizia que era só uma questão de tempo”.
De acordo ela, as pessoas não querem mais ficar em uma posição de impotência. “Nunca se teve tanta chance para falar e tanta impotência para fazer”, afirmou.
Para a ex-senadora eleita pelo Acre, a solução para a atual crise civilizatória que atinge o planeta é o desenvolvimento sustentável, combinado a uma agenda política de longo prazo –construída com todos os atores sociais. “Não é da oposição, não é da situação, é tomar uma posição para a saúde, educação etc.”
Marina acredita que o Brasil está em posição de ser um um exemplo para o mundo porque “reúne as melhores condições para um novo paradigma de sustentabilidade”. Segundo informações dadas pela ex-ministra durante sua exposição, o país tem 22% das espécies do mundo, 20% da água doce e 45% de sua matriz energética é limpa.
“Precisamos de uma mudança produtiva criativa e livre, que se liberte dos modos anteriores. Isto exige uma melhor forma de representação, com uma agenda política com prazos para investimento em educação, tecnologia e inovação”, afirma.
Marina diz que o novo sujeito politico “tem âncora, não porto”, porque ele não precisa de uma organização ou instituição por trás, ele se junta de acordo com seus ideais. “As pessoas estão querendo democratizar a democracia. Vivemos a ilusão de salvadores da pátria. Temos que ter mais capacidade para prospectar homens e mulheres para construir a pátria.”
Ela ainda criticou a reação da presidente Dilma Rousseff aos protestos: “Dizer que ouviu as reivindicações e colocá-las embaixo do braço mostra que se isso não foi feito antes é porque era omissão.”
Apesar do comentário sobre a atitude de Dilma, a ex-ministra não quis falar sobre uma eventual candidatura à Presidência e afirmou que não quer instrumentalizar as manifestações, embora esteja tentando criar o partido Rede Sustentabilidade.
“[A manifestação] não é para ser privatizada, é para ser vista como grande contribuição para o Brasil, e ter a grandeza de aprender com o que está sendo dito”.
UOL