Com apenas 21 anos de existência e aproximadamente 15 mil habitantes, o município de Epitaciolândia, no Acre, tem em suas escolas um retrato do que é a educação em parte do Brasil. Na cidade localizada a 250 km da capital Rio Branco há 24 escolas, sendo 16 em área rural e apenas oito na parte urbana. Em algumas delas, o professor é o único funcionário. Por isso, além de dar aula para todos os alunos do primeiro ao quinto ano na mesma sala, o docente precisa servir a merenda e até limpar a escola. A situação, por outro lado, cria afinidade com os moradores a ponto das próprias mães dos alunos auxiliarem no trabalho voluntariamente.
“Nessas pequenas escolas não tem merendeira, quem faz tudo é professor. São aquelas escolas que têm dificuldade de acesso, estão longe, isoladas. O professor trabalha sozinho. A comunidade até ajuda a fazer merenda, mas com voluntários. Lá é multisseriado, um professor dá aula para os alunos de 1ª a 5ª série na mesma sala. Isso tudo numa lousa, só com divisória. A qualidade do ensino cai. Enquanto poderia estar ensinando, tem que fazer outras coisas”, explica a secretária de educação do município, Eunice Maia Gondim, que assumiu o cargo no início de janeiro e participa pela primeira vez do 14º Fórum Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação , em Mata de São João, na Bahia.
Por conta disso, a cidade começou a adotar o sistema de nucleação. Na prática, quatro escolas isoladas que atendiam em torno de 20 alunos cada são transferidas para um mesmo endereço. A distância aumenta, mas a qualidade das aulas melhora, segundo Eunice. Isso porque a união de diferentes colégios faz alcançar um número maior de estudantes, o que possibilita contratação de outros funcionários, como merendeira, segurança e auxiliar de limpeza. Além disso, as aulas deixam de ser multisseriadas.
“Temos o processo de nucleação. É uma escola grande que funciona como um núcleo das pequenas. Você pode colocar um projeto de lei e, se os vereadores aprovarem, passa a ser núcleo. Esses professores da zona rural então passam a ter os mesmos direitos dos professores da área urbana. Lá eles vão ter a merendeira, a servente, o auxiliar, o vigia. Nas escolas isoladas não têm o beneficio. No núcleo não é mais multisseriado. O professor vai trabalhar com uma só série por vez”, explica.
Apesar dos aspectos positivos, o núcleo ainda enfrenta a resistência dos moradores. Das 16 escolas em área rural que existiam no município, oito aceitaram a mudança. Por isso, foram transformadas em dois núcleos, com quatro cada. As outras oito escolas preferiram manter o sistema comum, multisseriado.
“As oito (escolas) que ficaram foi porque a população não aceitou pela preocupação com a questão de transporte. Foi porque, por exemplo, com o núcleo a gente tem que contratar ônibus adaptada com condição para levar os alunos. Tem algumas comunidades que ficam em ramal, que são áreas que não são asfaltas, que caminhão não entra. Tem que ser ônibus adaptado. Com o núcleo ogasto é maior, a distância é maior, mas o ensino é melhor”, compara a secretária.
Renan Truff
Repórter do IG
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