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O flautista de Florestanópolis

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flautista


A cidade não aguentava mais a quantidade de ratos que havia. Florestanópolis vivia a se lamentar da sujeira, dos farelos e das imundícies que deixavam aquele pacato povoado longe de um ambiente limpo e saudável.

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As casas eram sujas, imundas, reduto de roedores vis e maléficos que maquinavam sempre por instintos sebosos, advindos de tão longa idade. Nas pontes, nos córregos, nos moinhos, na Igreja e mais até nos palácios rondava um odor que não permitia rememorar os anos em que tudo era menos podre e fétido.


Ah! Mas nem tudo estava perdido. Existia uma esperança!


Certa vez, algo de bom iria acontecer, quando um jovem cruzou os bosques, transpôs os muros e se apresentou declarando e cantando seus feitos, complementando com o doce som de uma flauta, dando ritmo e melodia aos seus poemas.


– Vim por terra e vales. Levo em meu alforje uma canção. Protege-me dos males e me dá bem mais noção.


Noção de que o mundo é arado.  Por quem não sabe o bem. E vivem a colher bocados. Dos poucos que pouco têm.


Oh! Eu sou vossa confiança. Nessas manhãs tão cinzentas. Não me apresento na bonança, mas quando o mal se apresenta.


Minha flauta é meu escudo. Minhas canções, minha lança. Minha coragem, armadura, a mão que o erro alcança.


E era assim, cada verso, repetidas estrofes, o tocador adentrava a cidade e chamava a atenção de todos.


Florestanopólis era uma ligadura musical! O sino não foi tocado, os feirantes se recolheram cedo, o padre não benzeu ninguém, é que todos foram para a praça ouvir os sons do flauteiro viajor.


Tomados por inseguras incertezas, o REIZÃO e os seus, temendo o fim do que lhe fazia bem, foram dar as boas vindas. Misteriosas boas vindas:

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– Somos os donos dessa cidade. Devei-nos dizer quem sois. Por que canta e por que dança. Aqui não podem mandar dois.


Vejo que trazei alegria. A este povo pacato. Que sofre com as mazelas: O lixo que deixam os ratos.


Vendo que aquelas palavras não eram seguras, porque os olhos dos donos da cidade vermelhavam de medo e inveja, o flauteiro fingiu não ligar. Olhando para o povo que aplaudia sua música, batendo o pé sobre as pedras, retrucou com muita inteligência:


– Oh! Nobres autoridades. Vejo que cheguei em tempo. De limpar essa cidade. Varrer os maus elementos.


Canto, pois sou artista. Danço, pois me sinto vivo. Nesta terra tão vermelha levo os ratos comigo.


Se jurarem que não vão, outra vez alimentar. Esse bando de roedores. Que vivem sempre a furtar.


Acertem o alvo, a mira. Despertem e queiram mais. Quem vos quer, quer de mentira. E engana, e é sagaz.


 


Olhando para os homens simples, maltrapilhos e carentes, continuou a dizer, acompanhado por seu corpo que insinuava o ritmo adequado para aquela marcha:


Dei-me apenas um prêmio, nesta cidade do bem. Deixem-me levar os donos, pois são uns ratos também.


Há tempos foram escondidos os segredos que se revelam. A sujeira e a imundície é o que mais eles anelam.


Dizendo isso, os donos da cidade rangeram os dentes fortemente e debateram secretamente entre si como fazer para destruir o trabalho do flautista. A cidade não poderia ser diferente. Os ratos escondiam as sujeiras maiores realizadas pelos donos do povoado. Bolaram e bolaram planos, mas parece que não adiantava.


O artista era agora mais canções pelas RUAS DO POVO, becos e estradas mal acabadas, resultantes de uma gestão fraca e atrapalhadas dos donos da cidade. Não parou o seu tocar e sua alegria, até que todos concordaram em se livrar daqueles seres prejudiciais. Queriam viver sem eles. Tinham razões para não mais ousarem compartilhar o mesmo chão debaixo do sol.


Quando os ratos ouviram a nova melodia do flauteiro, a sétima de seu repertório, se enganaram e se amarravam entre si, reunindo-se em uma enorme fila, alegres e felizes, como se não soubesse o que estava acontecendo.


Atrás deles, para que houvesse uma total limpeza da cidade, consciente da atitude, os donos do poder, sob a escolta dos cidadãos do povoado, também marchavam com cordas no pescoço e morangos na mão. Frescos morangos que mordidos de tempos em tempos, davam uma cor avermelhada aos prisioneiros.


Foram todos mortos, afogados no riacho das cercanias. Morriam sem saber o que estava acontecendo. Alguns se diziam inocentes, outros que não sabiam de nada, e mais alguns que achavam que isso tinha sido um grande golpe dos deuses que fizeram aquelas músicas ludibriantes.


E a cidade ficou limpa! Por todo o dia houve festa, e parecia que não havia mais o que lamentar. Era preciso cantar, comemorar o feito e parabenizar o flauteiro. Mas algo deu errado!


À noite, alguns acostumados com a sujeira de tempos remotos, no silenciar dos risos, na escuridão da vida, puseram-se a buscar os restos dos morangos comidos pelo caminho.


 Estava nascendo tudo de novo. É que nem todos do povo aprendem! É que nem todos do povo querem a limpeza. É que nem todos do povo se acostumam sem lama. Carregam a humanidade no peito, mas são sim eternos porcos.


Por Francisco Rodrigues Pedrosa     f-r-p@bol.com.br


—O Flautista de Hamelin é um conto folclórico, reescrito pela primeira vez pelos Irmãos Grimm e que narra um desastre incomum acontecido nacidade de Hamelin, na Alemanha, em 26 de junho de 1284.


[editar]A história


Em 1282, a cidade de Hamelin estava sofrendo com uma infestação de ratos. Um dia, chega à cidade um homem que reivindica ser um “caçador de ratos” dizendo ter a solução para o problema. Prometeram-lhe um bom pagamento em troca dos ratos – uma moeda pela cabeça de cada um. O homem aceitou o acordo, pegou uma flauta e hipnotizou os ratos, afogando-os no Rio Weser. 


O flautista de Hamelin (ilustração de Kate Greenaway)


Apesar de obter sucesso, o povo da cidade abjurou a promessa feita e recusou-se a pagar o “caçador de ratos”, afirmando que ele não havia apresentado as cabeças. O homem deixou a cidade, mas retornou várias semanas depois e, enquanto os habitantes estavam na igreja, tocou novamente sua flauta, atraindo desta vez as crianças de Hamelin. Cento e trinta meninos e meninas seguiram-no para fora da cidade, onde foram enfeitiçados e trancados em umacaverna. Na cidade, só ficaram opulentos habitantes e repletos celeiros e bem cheias despensas, protegidas por sólidas muralhas e um imenso manto de silêncio e tristeza.


E foi isso que se sucedeu há muitos, muitos anos, na deserta e vazia cidade de Hamelin, onde, por mais que se procure, nunca se encontra nem um rato, nem uma criança.


Na versão original, que surgiu provavelmente na Idade Média, nos territórios que formariam a Alemanha, o final é diferente: após levar o calote, o flautista atrai as crianças para um rio, no qual elas morrem afogadas. Apenas trés crianças sobrevivem: uma cega, que não consegue seguir o flautista e se perde no caminho; umasurda, que não consegue ouvir a flauta, e uma deficiente, que usa muletas e cai no caminho.


 


 


 


 


 


 


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