Charlene Carvalho
Adeus a um amigo guerreiro…
Um dia, lá em 1992 ele me disse: vou ser candidato a prefeito de Cruzeiro, ao que respondi: legal! Espero que ganhe! recebi como resposta uma proposta: se eu ganhar vou te levar pra minha posse.
Foi assim que desembarquei em dezembro de 1992 em Cruzeiro do Sul pela primeira vez. E ele estava lá no aeroporto com os irmãos Eládio e Chiquinho para receber alguns amigos que tinham convidado para a posse. Desde então nossa amizade foi crescendo, crescendo…
Em dezembro do ano passado, lá no pátio das máquinas da Colorado ele virou pra mim e disse: Nós já nos conhecemos faz 20 anos, né? É faz, 20 anos. É uma vida. Poucas amizades duram tanto, né nega?
Nega. Era assim que ele me chamava. E dizia que eu era agregada.
No final do ano – por muitos anos passei o reveillon lá em Cruzeiro – me mostrou as novas instalações, o escritório novo e falamos de vida, esperança e fé. Nos últimos meses nos falávamos toda semana por telefone. Na sua última visita a Rio Branco, conversando com alguns amigos ele disse: essa doença é terrível, mas eu sou grato a Deus. Tenho fé. Tenho uma família e tenho amigos. Saber que tenho uma família e amigos queridos me ajuda a ser forte, a acreditar.
Orleir Messias Cameli, antes de qualquer coisa era um bravo. Um acreano desses que a gente enche o peito de orgulho. Poderia viver em qualquer lugar, mas escolheu sua Cruzeiro. A Cruzeiro que eu aprendi a amar a partir dos seus olhos…
O dia de hoje jamais será esquecido. Não é porque é o dia da sua morte, não mesmo. É o dia que Deus recolheu para si um homem que em toda sua vida só aprendeu a fazer uma coisa: o bem sem olhar a quem. Nunca deixou de estender a mão a um necessitado. Seu projeto mais recente era montar três fábricas em Cruzeiro do Sul: uma de prego, outra de telhas e outra de portas.
Seu objetivo não era ganhar dinheiro, aumentar o patrimônio. Tava montando as três fábricas com um objetivo claro: vender a um preço justo e bem mais barato, as peças fundamentais para a construção das casas de quem não tem um teto. Não era mera caridade, era mão estendida.
Orleir Cameli era assim. Na Colorado um dos galpões mais bem sortidos tem um pouco de tudo. Do lápis à bicicleta. Da cadeira de rodas ao caderno. Ele comprava em grande quantidade para ajudar a quem precisa. Nunca fez alarde disso. Nunca fez política com isso. Um dia um amigo foi comigo lá. Saiu espantado e me disse: não imaginava que era assim. Esse é um homem bom.
Antes de ser um bom amigo, um bom pai, um bom marido, Orleir era um homem bom. De todas as suas qualidades, a que eu mais gostava era a do cuidado. Ele cuidava de todos. Se soubesse que um amigo estava doente ia lá visitar. Se soubesse que um amigo passava necessidades ajudava. Na maioria das vezes as pessoas nem ficavam sabendo. Não precisava. Por isso era literalmente um grande homem.
Tem muita gente que não gostava muito dele. Não os culpo. Cada um acredita no que quer e no que ver.
Eu fico com o amigo, o irmão camarada, um misto de pai-tio-melhor-amigo que muitas, muitas vezes enxugou minhas lágrimas, levantou minha cabeça e me ajudou a seguir em frente. Dele guardo sempre o sorriso, o jeito brincalhão, a alegria de viver e de encarar os desafios. Como nessa foto, tirada na 92 para 93, na sala da casa dele em Cruzeiro do Sul. Era um dia de festa, de muita alegria. Como eu sei que há festa hoje no céu, porque um homem bom retornou a casa do Pai.
Estamos tristes, claro. O Acre chora a sua morte. Talvez agora as pessoas tenham a real dimensão de quem ele era verdadeiramente. Do quão bom ele foi nesse vida. De maneira discreta, sem alarde, seguiu regiamente os princípios de Jesus. Praticou o ide de Jesus. E tal como os grandes, combateu o bom combate, cumpriu a carreira e guardou a fé.
A Bete, D. Marieta, Linker, Alliny, James, Jim, Orleir Filho, Zico, Gladson, Eládio, Linda e Chiquinho, o meu carinho, minhas condolências e a certeza de que Deus em sua infinitiva misericórdia os sustentará. Hoje e sempre.
R.I.P. Orleir
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