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Façamos o homem a nossa imagem

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Ficou jogado e desprezado no sofá!


Parece que não tinha servido pra muita coisa aquele antigo almanaque que explicava as potencialidades do corpo humano e os avanços da humanidade. Muito pouca matéria fazia sentido na mente de Dona Isabel.

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A pesquisa no Google sobre a diversidade humana fora concluída, mas parece que não surtira o efeito desejado. Angustiada com o que lhe mordia a alma, tomou seu remédio para pressão e foi deitar. Talvez o sono lhe visitasse. Talvez.


O mundo girou em sua cabeça experiente e manchou a sua presunção de que tudo na vida já tinha sido visto. A coberta que era jogada e juntada de novo fazia várias imagens na cama fria e grande daquela aflita mãe.


Ela já tinha visto e ouvido algo parecido na vida de suas amigas, mas nunca imaginara que agora tinha chegado sua vez. Perseverava em sua mente aturdida que a culpa de tudo isso era ela e sua criação carinhosa que teve com Gabriela.


Não deveria ter deixado sua filha ter feito História na UFAC. Além de ser um curso desprezível do ponto de vista financeiro, pensava ela, ainda tinha um conjunto de coisas nefastas que fazia dele um reduto de gente feia e descompromissado com a sociabilidade formal e comum.


Ela era a culpada do episódio! A mãe pôde não ter dado o melhor pra filha, mas tinha obrigação de tê-la tirado do pior. Como serão as coisas agora? Na noite longa e questionadora, Dona Isabel desbastava as poucas imagens de alegria que restavam em seu juízo decepcionado.


Gabriela namorava Henrique! Jovem inteligente, médico formado que fazia residência na Fundação Hospitalar. Rapaz que tinha um futuro certo e bom, alvo comum de mães que buscam o melhor paras filhas.


Gabriela iria casar com Henrique! Ato normal de dois amantes que se encontram, se conhecem, percebem afinidade na vida e desejam enlaçar os destinos e construir uma história.


Gabriela e Henrique fariam qualquer mãe completamente feliz!


Menos Dona Isabel! Menos a mamãe que sonhou a vida inteira com tudo o que há de melhor para a filha, mas não tinha nunca imaginado como enfrentar aquela situação.


Nem os livros, nem a internete, nem as amigas que lhe davam força e fingiam não ligar pra isso, foram capazes de lhe motivar o coração e dar-lhe dias mais alegres. Sem saber o que fazer, Dona Isabel reduzia-se a suas lamúrias mais íntimas.


 Cada noite, ao deitar, misturavam-se a seus remédios da velhice todas as dores de um espírito que se achava cristão e honesto, mas que buscava admitir como normal sua conduta e seu comportamento interior.


Acreditava que muitas coisas só são assimiladas por nós, quando ocorrem com os outros. É mais fácil ser irmão e amigo nas desgraças do que está ao lado. É muito melhor ver o problema em cima da carcaça alheia. Prová-lo, engoli-lo, era muito mais árduo e complicado.


Gabriela era tristeza da mãe!

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Henrique era negro!


Por Francisco Rodrigues Pedrosa       f-r-p@bol.com.br


 


 


 


 


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