O Professor da Universidade Federal do Acre, Nilson Euclides da Silva, Coordenador do Núcleo de Estudos Políticos e Democracia, usou a sua página no facebook na noite desta quinta-feira, 18, para divulgar uma análise sobre as eleição municipal em Rio Branco em outubro do ano passado. Confira na integra o artigo:
Ao vencedor, as batatas : o ocaso das eleições municipais de 2012 em Rio Branco – Acre
A prudência indica que nenhuma análise responsável pode ser feita no calor da vitória de alguns e no choro da derrota de tantos outros. Ela também recomendou que eu aguardasse que os especialistas do fato consumado, os analistas de resultados e os marqueteiros entusiasmados por mais uma estratégia vitoriosa falassem primeiro para que, então, eu me desse ao trabalho de escrever algumas linhas. Passados os rompantes dos que se deliciaram com o banquete alheio e o arroto daqueles que se conformam em recolher as sobras do que serviram à mesa dos patrões, eu resolvi me debruçar sobre o teclado e escrever a minha opinião. A vitória do candidato petista foi a exemplo do que ocorreu em outras capitais do país: uma guerra de meias verdades, mentiras por inteiro, cinismo e hipocrisia. Na moderna política do Acre, incrementada pelo discurso do “novo”, repetiu-se a velha fórmula. E tem marqueteiro “muito bem pago” que vai para a TV dizer que o melhor para Rio Branco venceu. Eles dizem isso com uma naturalidade de quem recebeu o pagamento por ter prestado bons serviços ao patrão. Não moramos numa aldeia e a capital acriana não é mais um seringal, apesar de manter a estrutura da economia seringueira e o poder dos patrões. Estes últimos apenas trocaram a servidão imposta pelo comércio da borracha nativa pela submissão e a lógica do contracheque. E tinha propaganda que dizia passeata do novo, revolução vermelha, vamos juntos fazer o novo etc. Eles são uns gênios! Afirmo com a prudência daqueles que olham além da montanha, que independente do resultado alcançado nas urnas por um ou outro grupo, todos nós perdemos! Perdeu a oposição, perdeu o governo e perderam os eleitores. Estes últimos, como sempre, perderam mais. Afinal, a vitória de um ou de outro candidato não garante batatas para todos. Por mais que se tente convencer de que essa foi uma disputa civilizada, o fato é que: “guerra é guerra”, vale tudo quando se luta pela sobrevivência política e a manutenção de cargos e salários. Os vencedores do pleito são parte de uma máquina partidária que tem muita fome, e por isso como em um teatro do absurdo, e sem o menor constrangimento, vale travestir o velho de novo, e fazer acordo com aquilo que de mais atrasado existe na política nativa. Marqueteiros, jornalistas, funcionários públicos em comissão e um batalhão de usuários engajados com o projeto (e sempre tem o maldito projeto, não se sabe de quem e para quem) tentam incansavelmente passar a hilária mensagem do “novo”. A tradicional comemoração da vitória comunga com o espírito de aniquilação do outro e pela possibilidade de se recolher os despojos. Se não estamos sob a condição de uma guerra contínua, temos a certeza de que o fim de uma batalha é o prenúncio de outra ainda mais sangrenta. As batatas, os cargos e as esperanças de se perpetuar no poder em breve mobilizarão milhares de soldados sem bandeiras ou ideologias. Apenas a fome insaciável por um único bem ainda abundante nesta terra de senhores sem feudo e servos sem terra. A fumaça dos canhões aos poucos deu lugar ao vento tímido, por onde ecoa um grito desesperado daqueles que comandam essa tropa enlouquecida pela fome. “Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”.
Prof. Dr. Nilson Euclides da Silva
Cientista Político e Professor Adjunto CFCH-UFAC
Coordenador do Núcleo de Estudos Políticos e Democracia – NEPDE
nilson.euclides@uol.com.br
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