A maior varredura já feita no genoma humano para identificar variações no DNA que possam estar ligadas a diferentes tipos de câncer localizou 74 novos marcadores desse tipo, segundo 13 artigos publicados em cinco diferentes periódicos científicos nesta quarta-feira (27) – “Nature Genetics”, “Nature Communications”, “PLOS Genetics”, “The American Journal of Human Genetics” e “Human Molecular Genetics”.
Os resultados praticamente dobram o número de alterações genéticas conhecidas associadas aos cânceres de mama, ovário e próstata. Os três cânceres relacionados com hormônios são diagnosticados anualmente em mais de 2,5 milhões de pessoas e matam um em cada três pacientes, reportou a revista científica “Nature” em comunicado.
Equipes de cientistas de mais de cem institutos de pesquisas de Europa, Ásia, Austrália e Estados Unidos informaram que o trabalho deverá, no futuro, ajudar os médicos a calcular o risco individual de se desenvolver câncer muito antes do surgimento de qualquer sintoma.
Pessoas com mutações de alta suscetibilidade poderiam ser aconselhadas a evitar estilos de vida que poderiam aumentar ainda mais o risco de virem a desenvolver a doença, se submeter a exames regulares e receber medicamentos ou até mesmo se submeter a cirurgias preventivas.
“Nós examinamos 200 mil áreas do genoma em 250 mil indivíduos. Não há outro estudo sobre o câncer deste tamanho”, declarou à agência AFP Per Hall, coordenador do Estudo Colaborativo Oncológico Genético-ambiental (COGS).
Os estudos compararam os códigos genéticos de mais de 100 mil pacientes com cânceres de mama, ovário e próstata aos DNAs de um número igual de indivíduos saudáveis. A maioria das pessoas pesquisadas tinha origem europeia.
O funcionamento do DNA passa por quatro compostos químicos, denominados A (adenina), C (citosina), T (timina) e G (guanina), unidos em diferentes combinações ao longo de sua dupla hélice. Os cientistas observaram que as combinações de A, C, T e G de indivíduos com câncer diferiam das de pessoas saudáveis.
SNP
A pesquisa toda gira em torno de buscar diferenças nessas combinações de letras que podem estar ligadas ao surgimento de um tipo de câncer. A variação em uma letra é denominada poliformismo de nucleotídeo único (ou SNP, na sigla em inglês).
No caso do câncer de mama, os cientistas encontraram 49 SNPs associados, “o que é mais que o dobro do número encontrado anteriormente”, anunciou o sueco Instituto Karolinska, que participou do gigantesco estudo.
“No caso do câncer de próstata, os pesquisadores descobriram outros 26 desvios, o que significa que um total de 78 SNPs podem estar ligados à doença”, acrescentou. No câncer de ovário, oito novos SNPs foram encontrados. Alguns desses SNPs têm associação com diferentes tipos de tumor.
Todo mundo apresenta alterações no DNA, mas se estas mutações são perigosas ou não depende de onde está o “erro” no código genético. Além disso, ser portador de uma mutação não significa necessariamente que a pessoa vai desenvolver câncer, uma doença que pode ter múltiplas causas.
Os cientistas afirmaram que mais estudos são necessários para permitir traduzir esses indícios genéticos em testes para prever o risco de câncer. Um objetivo mais distante é usar este conhecimento para desenvolver tratamentos mais eficazes.
“Uma vez que há muitos outros fatores que influem no risco destes cânceres (sobretudo fatores associados ao estilo de vida), exames futuros precisam levar em consideração mais fatores de risco do que apenas os genes”, acrescentou Hall.
Do G1, com informações da AFP