Depois de brilhar como terceira via na eleição presidencial de 2010, a ex-senadora e ex-ministra Marina Silva submergiu nos últimos dois anos. Agora que os prazos para a criação de uma nova legenda que seja viável para o pleito de 2014 começam a ficar apertados, ela voltou à cena política.
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Em vias de deflagrar o processo de criação de um partido para chamar de seu, Marina adotou um discurso duro que mira seus antigos aliados e não poupa o governo Dilma. Sobre o novo partido, diz que uma decisão deve sair em fevereiro, mas que “não se trata apenas de criar um partido e disputar mais uma eleição”.
Leia abaixo a entrevista:
Brasil Econômico: Como a sra. avalia as denúncias recentes de Marcos Valério contra Lula e a investigação do caso Rosemary Noronha? O ex-presidente deve ser investigado ?
Marina Silva: Não gosto de fazer uso disso para me promover, mas que seja feita justiça com Lula e qualquer outra pessoa.
Brasil Econômico: Como tem sido sua rotina longe do Congresso? Como tem feito para pagar as contas?
Marina: Tenho uma vida bem modesta. Faço palestras. Tenho uma demanda muito grande. Foram 116 em 2012, sendo que 16 foram remuneradas. As outras foram parte da minha militância socioambiental. Não faço consultoria.
Brasil Econômico: Como a sra. avalia a agenda ambiental de 2013 no Congresso?
Marina: É a primeira vez no país que, em vez de avanços, temos apenas retrocessos na agenda ambiental e nas conquistas de governos anteriores.
Brasil Econômico: Qual será a peça de resistência da agenda ambiental em 2013?
Marina: Infelizmente a agenda ambiental virou uma agenda de resistência. Nos governos anteriores, ainda havia uma agenda propositiva.
Brasil Econômico: Afinal, a sra. vai montar um novo partido, entrar no PPS ou ficar fora da disputa pelo Palácio do Planalto em 2014?
Marina: Desde que deixei o PV, havia pressão de uma parte das pessoas que estavam no movimento comigo de fundar imediatamente um partido para concorrer em 2014. Mas eu insistia que um partido precisa de identidade política.
Não pode ser fundado apenas para disputar eleição. Desde que deixei o PV, tenho dito que não ficarei na cadeira cativa para ser candidata à Presidência da República.
Nesse momento há uma discussão sobre montar um partido dentro do movimento. Até o começo de fevereiro tomaremos a decisão dentro do grupo.
Brasil Econômico: Acha que há tempo hábil para deflagrar o processo de criação de uma nova legenda até a eleição do ano que vem?
Marina: Não sei se haverá tempo hábil. Há um risco porque os prazos são bem apertados, mas não seria impossível. Isso faz parte do processo político.
De qualquer forma, não cogitamos a possibilidade de fusão. Não estamos discutindo a candidatura especificamente. Isso está colocado no horizonte, mas não se trata apenas de criar um partido e disputar mais uma eleição.
Por isso não fizemos nada extemporâneo para já concorrer em 2012.
Brasil Econômico: O ex-deputado Fernando Gabeira disse ao Brasil Econômico que ainda acredita em uma reaproximação sua com o Partido Verde. Quais as chances de isso acontecer?
Marina: Mantenho proximidade com as figuras históricas do PV que são coerentes com o programa do partido. Mas não cogito qualquer possibilidade de voltar.
A realidade do PV não se alterou. Pelo contrário, ela se agravou. Pessoas como o Alfredo Sirkis (deputado federal), a Aspásia (Camargo, vereadora no Rio) e o (Fernando) Gabeira (ex-deputado), que guardam a identidade programática, hoje estão completamente isoladas pela parte do PV que tem um olhar estritamente pragmático da política.
Tenho contato com pessoas importantes (da legenda). São meus parceiros. O PV lamentavelmente desprezou um legado de 20 milhões de votos em nome do pragmatismo da atual direção, que é hegemônica.
Brasil Econômico: Foi fundado recentemente o Partido Ecológico Nacional (PEN). A sra. acha que essa sigla pode realmente ser chamada de ecológica?
Marina: Sei que ele foi criado e tem esse nome, mas não conheço o programa e não estive com as lideranças políticas. Seria prematuro da minha parte fazer qualquer avaliação.
Não quero me colocar nesse lugar de ser a bússola para dizer quem é ou não ecológico.
Brasil Econômico: O deputado federal Roberto Freire, presidente do PPS, disse que conversou com a sra. sobre a possibilidade de refundar o partido. Ele sonha com a ideia de trazê-la para a sigla junto com o ex-governador José Serra. Essa dobradinha é possível?
Marina: Neste momento estou investindo mais na discussão sobre o caráter da política. É reducionismo eleitoral ficar pensando apenas nas eleições de 2014, 2016 ou 2018. É preciso pensar a política para enfrentar a crise civilizatória que o mundo está vivendo.
Estamos vivendo uma estagnação na economia e uma crise de valores. As pessoas não guardam mais coerência entre o que se diz o que se faz. O Roberto Freire não chegou a conversar comigo sobre fusão, refundação ou qualquer coisa dessa natureza. Ele conversou com o (vereador) Ricardo Young (do PPS).
Mas acho louvável que estejam fazendo esse movimento de transformação no PPS. Todos que queiram fazer uma crítica sobre que está acontecendo na política é muito bem-vindo a esse movimento.
Nosso movimento, que se dá a partir do legado de 2010, é um processo novo e que não passa pela fusão com partidos. O primeiro momento será o adensamento de propostas.
A política não pode viver apenas das eleições. Não consigo ver identidade que me aproxime do Serra.
Brasil Econômico: Tem conversado muito com a ex-senadora Heloisa Helena, do Psol, sobre esse processo todo? Cogita fazer uma dobradinha com ela?
Marina : Somos amigas e temos conversado muito desde 2010. Ela está considerando participar desse processo político, já que nesse momento vive uma discussão interna dentro do Psol.
Mas independente dela vir ou não, continuaremos juntas. O importante é entender que o movimento é maior que as siglas partidárias. A nossa frente pela sustentabilidade tem pessoas de diferentes partidos.
Por Brasil Econômico – Pedro Venceslau