Luana Campos, da Vara de Execuções Penais de Rio Branco quer saber porque o Iapen serve comida estragada, mantém contrato de preços superfaturado de alimentos com Empresa Tapiri e coloca 900 presos num espaço onde deveria ter apenas 180
Luciano Tavares – da redação de ac24horas
lucianotavares@ac24horas.com
Na semana passada ac24horas denunciou que nos presídios do Acre um marmitex tem um custo bem acima da média geral de mercado exigido pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciário. E foi exatamente isso, dias após a denúncia, que a juíza Luana Campos, da Vara de Execuções Penais, constatou durante vistoria no presídio estadual Francisco de Oliveira Conde, nesta terça-feira, 15.
Cada marmitex é vendido ao Iapen no valor de R$ 6,40. Porém, de acordo com Luana Campos, o preço deveria ser bem menor, já que a Empresa Tapiri, que é responsável pela cozinha do presídio, usa a mão de obra dos apenados e, portanto, é livre de encargo trabalhista.
“Não vejo razão para uma marmita ser cara assim, até pela qualidade das carnes. Não há razão para que uma marmita saia a um preço tão alto porque a mão de obra é barata. Ela não é sujeita a CLT, que é dos presos. Ou seja: a empresa não paga esse tipo de encargos, ela utiliza essa mão de obra. A alimentação que a empresa compra é em grande quantidade. Se é em grande quantidade a gente consegue um preço bem mais acessível. Então eu vou me empenhar agora para solicitar do Iapen que faça a revisão desse contrato, o que não dá pra gente prosseguir, porque o próprio Iapen admite que quase toda verba dele vai pra alimentação ”.
Durante vistoria realizada em 2012, o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) já havia orientado o Iapen a rever o contrato firmado com a Tapiri. No caso, foi constado que “os valores cobrados pelas alimentações estavam superfaturados”, ou seja, estava sendo cobrado uma “valor muito alto e a empresa, por sua vez, está comprando alimentos vencidos para fornecer aos reeducandos”.
Mais grave que o valor da marmita é a constatação de comida estragada servida aos reeduacandos na penitenciária, comprovada pela própria juíza durante vistoria.
A primeira constatação foi feita no último domingo, quando foram encontradas oito caixas, sendo que cada uma delas continha 20 kg de salsichas vencidas.
Caso parecido foi denunciado na semana passada por reeducandos do presídio de segurança máxima, onde se encontra o ex-coronel Hildebrando Pascoal.
No local, segundo a juíza os presos se recusaram a comer o alimento servido porque a carne estava estragada.
As inúmeras denúncias, algumas comprovadas levaram a juíza a instaurar inquérito para apurar os fatos.
O artigo 7 da Lei Federal nº 8.137, constitui crime contra as relações de consumo: “vender, ter em depósito para vender ou expor à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercadoria, em condições impróprias ao consumo”.
Pavilhão para presos provisórios pode ser interditado devido à superlotação
O complexo estadual Francisco de Oliveira Conde é dividido em quatro unidades: o Regime Fechado Um, a Unidade Feminina, a Unidade Feminina de Regime Semi-Aberto e a Unidade de Regime Provisório.
A superlotação e a deficiência na estrutura física do presídio é o grande problema do complexo prisional.
No ano passado, Luana Campos alertou ao Iapen sobre a superlotação do presídio.
Em parte a juíza teve a solicitação atendida com a transferência de 500 presos da unidade em Rio Branco para o presídio de Senador Guiomard.
Mas mesmo com a transferência de presos, o complexo ainda vive uma superlotação. A situação mais grave é da unidade provisória, onde estão os presos sob regime cautelar.
O pavilhão possui capacidade para 180 presos, mas abriga cerca de 900, segundo Luana.
Devido à enorme quantidade de presos, a juíza da Vara de Execuções Penais não descarta a possibilidade de determinar a interdição do pavilhão.
“O grande problema continua no pavilhão provisório. É a pior situação do presídio. É um prédio bastante deteriorado passivo até de interdição. E estou concluído meu relatório da provisória e não descarto essa interdição”, encerre Luana Campos.
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