Índios da tribo Katukina, originária do Acre, celebraram a passagem do calendário maia em São Tomé das Letras (MG). A tribo é descendente da civilização que está extinta. Na manhã desta sexta-feira (21), no alto do Cruzeiro da cidade, os índios meditaram, fizeram orações e entoaram cânticos para comemorar o que eles acreditam ser a chegada de um novo tempo. Ao contrário do que muitos acreditavam, o “fim do mundo” para eles, é na verdade um recomeço.
Segundo os índios, por volta de 9h40, seis planetas do Sistema Solar (Terra, Vênus, Netuno, Urano, Plutão e Júpiter) se alinharam com o sol e uma grande energia, chamada por eles de “Sopro de Deus”, chegou sobre o planeta. Um fenômeno do tipo acontece a cada 25,8 mil anos. Cerca de 50 pessoas participaram da celebração.
“O objetivo é unificar os povos e pedir por um mundo melhor”, disse o pajé Rekan, um dos três membros da tribo que vieram ao Sul de Minas.
São Tomé das Letras (MG) é uma pequena cidade no Sul de Minas que divide sua geografia entre belas paisagens naturais e uma grande jazida mineral. A cidade também é carregada de misticismo, cheia de residentes hippies, astrólogos e sede de várias comunidades místicas. Portanto, era inevitável que no dia 21/12/2012 a cidade recebesse um grande número de visitantes à espera de mudanças cósmicas. O município foi escolhido pelos índios pelo solo ser composto por 95% de quartzo, o que segundo eles, facilita a troca de energias entre a Terra e o universo. Além disso, a cidade recebe pessoas de todas as partes do mundo, com vibrações diversas.
A vinda dos índios para São Tomé das Letras atraiu várias pessoas para o município. MP Nuno Maha é organizador do evento e monge da Irmandade Polimata do Brasil, com sede em São Paulo (SP). Fora a Irmandade, ele também está envolvido em projetos para preservação da tribo, que, de acordo com ele, é uma das poucas que ainda se conservam culturalmente. Ele diz ainda que 60% da língua da tribo Katukina teria dialetos, expressões e palavras da língua Maia (o pano).
Maha conta que a tribo está em extinção e no momento, tem cerca de 620 membros. Há 30 anos, já chegou a ter 6,5 mil índios. “Uma das vezes em que eu estive lá, fiquei admirado de ver um menino correndo nu e perguntei por que somente alguns dos meninos andavam sem roupa. Aí um membro da tribo respondeu: é que este não tem condições de ter roupas, então ele tem que andar nu”, conta. Percebendo que a tribo precisava de ajuda, resolveu se movimentar para ajudá-los. “O dinheiro arrecadado neste evento será revertido para a tribo, para roupas, remédios, e o que mais necessitarem, além de que vou arrecadar o que puder de doações para mandar para lá”, explica ele.
Nada de fim do mundo
O grupo não acredita no fim do mundo, apenas na mudança de ciclo que os Maias previram. “Eu comecei meu trabalho espiritual em 1988, então eu já devo ter passado por uns cinco Apocalipses”, brinca ele, rindo. “Na verdade, todas essas previsões de fim de mundo que eles têm divulgado por aí são falsas. 2012 não é ano do fim do mundo. Teóricos que têm feito cálculos sérios chegaram ao ano de 2016 a 2019, alguns até 2022. Mas é certo que algumas mudanças poderão ser sentidas desde agora, até porque, da forma como as coisas estão, tanta violência, alterações climáticas e individualismo da sociedade, os problemas tendem a se agravar”, explica ele.
Segundo os maias, no dia 21/12/12 às 9h40 aconteceria um alinhamento dos planetas do nosso sistema solar com o centro da galáxia, que eles chamam de Sol Central (Hunab Khu). Esse fenômeno anunciaria a chegada de um novo ciclo, um novo tempo e um novo mundo. O grupo se reuniu na cidade, no Cruzeiro (uma das partes mais altas do lugar) para fazer a passagem do ano Maia e meditar por energias boas na próxima fase terrestre.
Maha conta um caso ocorrido em Washington, nos Estados Unidos, em 1993. A cidade estava enfrentando uma grande onda de crimes violentos e entre as estratégias para reverter a situação, um grupo de pessoas resolveu se reunir para meditar usando a técnica de meditação transcendental, para tentar influenciar na energia do lugar e mudar as ocorrências de violência. “Na época, um dos policiais que estavam à frente das operações na cidade chegou a fazer piada, falando que, nem que caíssem 30 centímetros de neve em junho reduziria a violência na cidade”, conta o monge.
Mas as estatísticas provaram o contrário. No mês da pesquisa, em que quatro mil pessoas se revezaram meditando ininterruptamente, o índice de crimes violentos caiu 25% na cidade. A pesquisa, liderada pelo físico quântico John Hagelin, rendeu uma monografia e foi publicada em 1999 na Revista Social Indicators Research.
Carol Correa é gerente da pousada que recebeu o grupo. Ela conta que percebeu uma grande movimentação na cidade, mas não exatamente de gente que buscava se refugiar do fim do mundo em São Tomé das Letras, mas sim de pessoas que estariam buscando meditar por novos tempos. “É mais uma proposta de esperança, de pessoas de pensamento positivo. Elas buscam estar sintonizados com esse momento de transformações estando aqui na cidade”, descreve ela.
O monge Maha acredita que, se todos, ao menos, considerassem a data como um início de mudanças, isso seria possível. “Cada um vê o que deseja. Seria muito bom se as pessoas aproveitassem esse momento para refletir sobre as coisas. Se cada um tiver essa nova energia na cabeça, as coisas podem melhorar”, conclui ele, cheio de esperança.
Samantha Silva
Do G1 Sul de Minas