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Provas do Crime

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Roberto Vaz

Eram onze horas da noite! Um carro virava à direita, deixando a Avenida Ceará e entrando na Floriano Peixoto. Esperando no sinal em frente à antiga LBA, local onde passei boa parte da minha infância, os passageiros avistaram um grande mercado de carne humana, mais precisamente de homens que não se pareciam com homens.


Antes de o sinal abrir, alguém de dentro do veículo solicitou que o motorista diminuísse o ar condicionado e, vendo aquela leva de gays e travestis, reclamou balançando a cabeça:


– Bando de preguiçosos indolentes! Como pode o mundo ter pessoas nojentas e inescrupulosas. Deveria ser proibida a permanência desses imundos em um local público. Que exemplo dão para a sociedade, pervertendo os valores e confrontando-se com a própria natureza biológica?


– Concordo plenamente. – Disse motorista. É realmente um absurdo!


O carro seguiu. Ali próximo da sede da Policia Federal, pertinho da saudosa panificadora Pão de Queijo, em um outro sinal, um segundo passageiro se espantou com aquela figura estranha. Era uma criança maltrapilha, magra, suja e desdentada, buscando com uma mão erguida algo que lhe mantivesse viva por mais uma noite. Parecia ter fome.


– Às vezes penso em ajudar esses meninos de rua, mas quando imagino que estou alimentando a permanência deles nessa vida, me recuso a dar-lhe qualquer coisa. Se fossem mesmo determinados, buscariam uma escola ou um trabalho. Tenho certeza que ele tem família. – Disse o homem retirando a mão do bolso, desistindo da possível caridade.


– Concordo plenamente. – Disse motorista. É realmente uma falta de vergonha!


Passando o Instituto São José, próximo aos muros do Sesc, mais um passageiro se indignava com o número de prostitutas que havia nas calçadas, acenando, com um sorriso vulgar, para os carros que cruzavam seus olhos.


– Quanta falta de respeito! Como uma mulher tem coragem de vender o próprio corpo? Vagabundas! Acham mais fácil essa vida do que lutar por um ideal. Preferem abrir as pernas a abrirem a cabeça e perseguirem um objetivo justo.


– Concordo plenamente. – Disse motorista. É realmente um crime contra a moral!


O veículo em fim terminou seu percurso. Os três passageiros desceram, pediram para o motorista esperar alguns instantes, enquanto resolviam matérias de seus interesses.


Lá dentro, se encontraram com políticos corruptos que tinham elaborado um grande esquema de corrupção. O dinheiro que seria usado para escolas, manutenção de um hospital e creches tinha sido desviados em uma farsa licitatória engenhosa que contava com a participação de muita gente.


De volta, dentro do carro, os três faziam planos do dinheiro público furtado, bem como das novas falcatruas que iriam realizar. Talvez a construção de uma ponte em um algum igarapé, cujas verbas exigidas seriam suficiente para fazer outra que cruzasse o Mar Vermelho.


Seguindo inconsciente, o motorista não pode perceber que isso era um ABSURDO, uma FALTA DE VERGONHA e um CRIME CONTRA A MORAL. Entre mudanças de marchas, freios e bajulação, disso ele não pode CONCORDAR PLENAMENTE.


Nem imaginava que sabia apenas dirigir seu veículo.


Por FRANCISCO RODRIGUES PEDROSA   f-r-p@bol.com.br


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