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Opinião – É proibido pensar!

Nós. Casas. Vão-nos pintando pela vida afora até que memória não mais existe do nosso corpo original. O rosto? Perdido. Máscaras de palavras. Quem somos? Não sabemos. Para saber é preciso esquecer, desaprender… (Rubem Alves).
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Se pensar é perigoso, imaginem pensar diferente?! A história nos mostra que, inevitavelmente, pessoas que decidiram transpor suas reflexões para além das fronteiras fixadas engendraram um processo de perseguição, tortura e esmagamento, sob a justificativa, na maioria das vezes, de estarem se rebelando contra certas “verdades”, algumas, “divinas”. Foi assim que algumas pessoas ficaram conhecidas na história como hereges: os que pensavam diferente, fora dos portões das “verdades”. A heresia se estabelece na dimensão do poder; quem exerce certos poderes se autoriza a dizer quem é ou quem não é herege. Dessa forma, por meio de micropoderes se exerce o autoritarismo e a espoliação do outro. E como se faz isso? Por meio do discurso. Os déspotas do nazifascismo, Mussolini (Itália) e Hitler (Alemanha), exploraram muito esse campo. Falavam, e, a fala, deveria retornar sob a forma de submissão, caso contrário, a punição era certa. Interessante é que hoje tais discursos são repetidos sob outras roupagens, na política e, sobretudo, no complexo sistema religioso. O sistema religioso, e escrevo na perspectiva de Rio Branco, a muito, de mãos dadas ao capitalismo neoliberal e à política partidária, não se exime de tais posturas. Não apoiar, ou, a qualquer custo, eleger um candidato de uma igreja, é uma clara postura de rebeldia, imaginem só, isso num chamado país democrático e laico. Certas lideranças religiosas se sentem autorizadas por Deus a silenciar, instituir, legitimar, substituir, excluir, desautorizar. Que deus mal este, não?! Esse tipo de deus é construção do discurso, pura subjetivação ou alucinação de quem o constrói. O discurso, sob a pretensão da verdade, higienista, como forma purificadora, se efetiva como força simbólica e emana de instâncias superiores do poder. “Nega para afirmar. Ao afirmar, muda, institui, e, numa forma violenta, transforma. Transformar é destruir para construir e afirmar a partir da negação”. Nesse jogo, vale tudo, inclusive lançar-se sobre os textos sagrados. Por serem sagrados, tornam-se mais úteis na domesticação e manipulação de seres. São usados à revelia, desde que digam, unilateralmente, a intencionalidade do dizer. A pretensão de uma regência divina (teocracia) nem de longe se percebe. O Deus reconhecido pelo Jesus histórico sempre questionou o poder da Aristocracia Romana, a hipocrisia religiosa dos que usavam o templo para seus interesses e optou por ficar próximo dos infames e desajustados. Minha gente, nenhum líder religioso tem a última palavra. Todos os pronunciamentos, ainda que advindos de uma “santa tribuna”, são interpretações próprias do olhar de quem os produz, portanto, perspectívicas. Assim, é preferível ir metamorfoseando a vida, sem interdição, do que emitir o mesmo som e ter uma velha opinião formada sobre tudo.


Romário Ney de Souza, Teólogo, especialista em Ciências da Religião e acadêmico de História-UFAC.

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