Pastores são afastados acusados de “trair Jesus Cristo”
por não apoiar a candidatura de filho de dirigente
maior da Igreja Assembléia de Deus
Ray Melo,
da redação de ac24horas
raymelo@ac24horas.com
Um grupo de pastores da igreja Assembleia de Deus estaria sendo condenado ao “purgatório acusado de “trair Jesus Cristo”. Os líderes religiosos estariam sendo apontados como responsáveis pelo fracasso dos evangélicos na disputa eleitoral em Rio Branco.
A derrota do candidato Marcos Lima (PSDC), filho do pastor Luiz Gonzaga, líder maior da Assembleia de Deus na capital, seria o principal motivo da demissão sumária de pastores de área, que teriam negado apoio ao nome apresentado pelo líder maior da igreja.
Acusados de traição durante uma reunião, após a divulgação do resultado da votação, os pastores foram “convidados” a colocarem seus cargos à disposição de Luiz Gonzaga, estremecendo as bases da igreja que possui mais de 15 mil fiéis cadastrados.
A inquisição moderna foi promovida pela denominação evangélica que está acostumada a participar ativamente dos processos políticos no Estado, elegendo representantes para a Câmara Municipal de Rio Branco e Assembleia Legislativa do Acre.
A morte, em 2010, do presidente da Câmara, vereador Jessé Santiago, deixou a igreja sem um representante no legislativo mirim. Santiago contava com o apoio incondicional dos fiéis e líderes religiosos. O mesmo não se repetiu com Marcos Lima.
O pastor Elias Rates, que lançou a candidatura de sua esposa Marilza Brás (PSB), foi um dos pastores afastados por Luiz Gonzaga. As candidaturas de Regimar da Radar (PSB) e Raimundo Bezerra (PSB) também foram vistas como entrave para Marcos Lima ser abençoado com uma cadeira no parlamento mirim de Rio Branco..
Segundo Marilza Brás, “o pastor Cleilton, pastor Ivan e o pastor Sebastião Soares também estariam sendo retirados dos cargos”. Os pastores de área são remunerados pela Assembleia de Deus. O afastamento seria o mesmo que uma demissão, já que os dirigentes ficarão sem os salários.
Decisão cautelosa para não prejudicar a igreja
Por telefone, a coordenadora do Círculo de Oração, no Departamento de Mulheres da Assembleia de Deus, Marilza Brás informou que todas as decisões que envolvem o afastamento dos pastores estão sendo feitas com cautela para não prejudicar a igreja.
“Estamos tomando os cuidados necessários para que não se torne um mau exemplo. A igreja é um lugar de refugio, que não seria para envolver questões ligadas à política. Temos a missão de levar o conforto espiritual para as pessoas, não fazer política partidária”, enfatiza.
Segundo a religiosa, o afastamento dos pastores “é um absurdo que acontece a revelia do fugiu do regimento interno”. Marilza Brás informou ainda, que na quarta-feira, 17, deverá acontecer uma reunião com todos os afastados dos cargos para definir um posicionamento.
Candidaturas da Assembleia de Deus
A questão das candidaturas da Assembleia de Deus foi construída num ambiente de muita dúvida. Num primeiro momento, os dirigentes da igreja não teriam colocado qualquer imposição na pulverização de candidaturas de religiosos e líderes.
No mês de novembro do ano passado, teriam se iniciado as negociações sobre as candidaturas apoiadas pelos pastores da agremiação. Marilza Brás informou que teria conversado com vice-presidente da igreja, já que não foi atendida por Luiz Gonzaga.
O vice-presidente não teria feito objeções a respeito de sua candidatura. Num segundo momento, os pastores foram surpreendidos pela escolha dos nomes do pastor Bezerra e de Marcos Lima, como candidaturas oficiais do presidente Luiz Gonzaga.
“Sem passar por uma escolha entre os membros na liderança da igreja, o pastor Luiz Gonzaga optou pelos dois, mas não seria contra nenhum dos que se apresentaram como candidatos. Depois da campanha veio à repreensão. Ele afirmou que as outras candidaturas descaracterizavam a possibilidade da igreja eleger um representante”, destaca Marilza Brás.
Crime e castigo
A punição seria um tipo de correção para os pastores que não tinham apoiado o projeto da igreja. “Ele está querendo coagir a igreja. Sabemos que a igreja não foi criada com este objetivo. Os punidos não perderam a credencial de pastores. Eles perderam os cargos de pastore de área, o que possibilita o contato direto com a comunidade”, diz Marilza.
Os pastores teriam sido afastados sem nenhum direito trabalhista. “Muitos dependem do cargo. Os dirigentes fizeram como uma forma de pressionar para que futuramente, os pastores se submetam e não questionem as escolhas políticas”, diz a religiosa, informando que teria um trabalho de mais de 30 anos, na Assembleia de Deus.
Além dos quatro pastores, já afastados dos cargos, outros estariam na mira dos líderes da igreja.
O outro lado
A reportagem tentou por diversas vezes, falar com o presidente da Assembleia de Deus, Pastor Luiz Gonzaga, para saber sua versão dos motivos do afastamento dos pastores de área. Na sede da igreja, um atendente disse que o dirigente estaria em reunião e não poderia atender.
Em ligação telefônica ao número (68) 3228-0065 – do templo central, mais uma vez veio à informação de que o líder religioso permanecia em reunião.
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