Categories: Crônicas de um Francisco

As prisões da liberdade

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Roberto Gaz

Não reúno boas condições de fazer maiores reflexões. Meu tempo é curto. Minha liberdade é provisória, condicional à violência que tive de aprender desde tenra infância.


Mas hei de dizer que ser livre, domar e ser senhor de seu tempo, de sua história e de suas palavras é e foi a maior conquista do ser humano. Não importa se física ou psicológica, a liberdade configurou o homem e o fez feliz e radiante, sacerdote de suas próprias vontades.


Talvez seja por isso que os tiranos em seus castelos, os ditadores em seus verbos raiados, os usurpadores em seus códigos de lógica cafona, sempre perseguem ter nas mãos não o poder em si, mas a poder prender os outros, para que possa melhor dominar. Só a prisão cria súditos, só a liberdade ajuda a construir o cidadão.


O brasileiro é acima de tudo um presidiário.


Presos nas nossas crenças primitivas da deusa Terra que a mão lisa no peito escorria. Danças tribais a farfalhar o vento, a chuva e a alegria falsa da tragédia.


Preso a um rei canalha, representado por Cabral e outros comediantes. Presos por um imperador indefinido, cabeça de homem corpo de búfalo.


Preso por generais que proclamaram a República Embananada: ignorantes de calças apertadas e barbas por fazer.


Presos por caudilhos e rastejantes lunáticos fascistas.


Presos por generais enquartelados em suas taras e caretas, suas pernas de pau e arrotos sanguinários.


Presos pelo falso sonho de Diretas Já e não reformas já.


Presos por melancias ideológicas e maracujás atômicos advindos de Alagoas com seus capangas e capatazes.


Presos por companheiros e operários, acompanhados de cinismos, operando os maiores escândalos políticos. Anuais, diários e mensais, tudo no aumentativo mais degradante.


Presos. Por mais de quinhentos anos presos. Oh meu Deus, sempre presos. Mesmo em um estado pequeno como o nosso, sentimos o cheiro e a cor dessa prisão.


Sim, aqui também temos nossas celas, nossas grades, nossos aprisionamentos. Querem ver? Vamos lá então.


Presos por…


– Francisco, o recreio acabou. A campa já bateu. Se não irmos agora, a professora não vai deixar entrar. Podemos pegar suspensão.


Por FRANCISCO RODRIGUES PEDROSA     f-r-p@bol.com.br


 


 


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