Morreu na manhã desta quinta-feira (30), vítima de infarto o radialista Jorge Cardoso que se encontrava internado desde ontem (28) em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Urgência e Emergência (Huerb), em Rio Branco no Acre.
Acreano de Xapurí, Jorge Cardoso dedicou mais de 40 anos á musica e ao rádio. Muitos fás e amigos lamentaram a morte do cantor e prestaram várias homenagens á ele nas redes sociais.
Apaixonado pelo Acre, Cardoso, dedicava a maioria de suas composições para elogiar a terra onde nasceu. Vai deixar saudades.
Jorge se notabilizou no rádio por garantir espaço para musica brega. Ele era um dos maiores defensores do espaço para artistas regionais.
Em entrevista exclusiva concedida ao repórter Luciano Tavares, em 3 de julho de 2011, Jorge Cardoso, aos 67 anos, falou de sua vida como cantor e radialista, seus sonhos e a paixão pela música e o rádio.
Confira:
Ele foi junto com o cantor Sérgio Souto, o músico acreano de maior sucesso fora do Acre. Participou de programas de auditório em rede nacional apresentados por Chacrinha e Bolinha, na rede Bandeirantes, ladeado por “medalhões” da música brasileira como Raul Seixas e Sidney Magal.
O xapuriense Jorge Cardoso, hoje com 66 anos, gravou oito discos. O primeiro em 1976, numa época de difícil acesso ao mercado fonográfico, principalmente para quem morava no norte do Brasil.
Hoje apresenta dois programas de rádio, um diário pela Rádio Difusora Acreana, durante a tarde (Jorge Cardoso em Ritmo Rural) e o outro na manhã dos sábados na Gazeta FM 93,3 (Jorge Cardoso e a Grande Parada Popular).
Nesta entrevista, ele conta como foi o início de sua carreira no rádio e na música, seu auge na década de 80, com a música “Lambada do Amapá”, conversão a vida cristã e ainda planos para o futuro.Confira:
LT- Como o senhor conseguiu gravar seu primeiro disco numa época difícil de acesso às gravadoras musicais?
Jorge Cardoso- Foi um sonho que transformei em realidade. Eu já me apresentava em show de calouros na rádio Novo Andirá (hoje Rádio Capital). Eu trabalhava na rádio, conheci o radialista José Lopes, aí participei do Programa Domingo Alegre Andirá. Ganhei em primeiro lugar com uma música do rei Roberto Carlos, “Aquele beijo que te dei”. Depois fui aprender a tocar violão vendo os Bárbaros (hoje Mugs). Em 74 conheci um sargento do Exército, Dorian Rodrigues, do Rio de Janeiro. Ele era cantor, tinha um compacto gravado. Ele ficava me ouvindo no rádio. Ficamos amigos, conversa vai conversa vem; carta vai, carta vem. Naquele tempo não tinha internet, acertei e gravei com o maestro Clélio Ribeiro, em 76. Ele é o mesmo maestro que gravou com o Reginaldo Rossi, José Augusto e Fernando Mendes.
LT- Você cantou em programas de auditório do Chacrinha e do Bolinha. Como aconteceu esta experiência?
Jorge Cardoso- É, eu inclusive tenho o DVD, que consegui com o pessoal da Rede Amazônica. Mas na época que eu participei do Chacrinha ele era da Bandeirantes. Logo depois ele saiu para a Globo. Fiz uns dez programas do Bolinha. Do Chacrinha, participei de dois, que foi gravado no Teatro Zaco, na Brigadeiro Luís Antônio. Naquele tempo a gente gravava na terça e o programa ia pro ar no sábado, no tempo que a Rita Cadillac era lindona. No mesmo dia cantou o Raul Seixas, o Sidney Magal, a Alcione, essa turma toda estava no estúdio. Tive o privilégio de falar com o Raul. Nessa época ele estava estourando com a música “Eu nasci há dez mil anos atrás”. No Clube do Bolinha, fui através de um amigo. No Chacrinha foi a gravadora Continental que me agendou.
LT- E a sua música “Forró do Amapá”…
Jorge Cardoso- Virou quase um hino. Quando tem eventos tipo o “Boca de Mulher”, elas sempre cantam. Nos clubes e eventos como os carnavais o pessoal sempre canta, “Meu amor vamos lá, vamos tomar sol na praia do Amapá”. Eu me sinto feliz e não tenho nada a reclamar.
LT- O senhor considera que este foi o seu maior sucesso?
Jorge Cardoso- Aqui no Acre foi e ainda é. Ainda hoje eu vendo CD’s por causa dessa música.
LT- Há alguma recordação de algum momento inusitado na sua carreira?
Jorge Cardoso- Eu estava em Brasília e eu não sabia que meu disco estava estourado Brasília, nesse tempo o duplo “Pensando em Você”. Tinha um programa em uma rádio, do Preguinho, um radialista que tocava minhas músicas todo dia. E eu chego a Brasília, né? Aí a gravadora me agendou no programa do Preguinho, de madrugada. Cheguei, ele me apresentou, toquei a primeira música. Ele disse gostei, daqui a pouco Jorge Cardoso canta de novo, aí tocou “Rosas com Amor” e “Pensado em Você”. Terminou o programa e convidei o Preguinho pra tomar um café numa lanchonete. Aí uma moça ligou da recepção dizendo: olha tem um monte de menina aqui atrás de você. Elas vieram num ônibus lotado de Taguatinga, querem conhecer o cantor. Eu fiquei todo besta, dando autógrafo e tudo. Foi um momento feliz pra mim. Me senti um artista. Em Teresina, no Piauí, numa banca de revista, uma moça tava ouvindo minha música. Eu ia passando e quase digo ei sou eu o cantor…
LT- Em algum momento a fama lhe prejudicou?
Jorge Cardoso- Eu não fui famoso. Fui conhecido. Mas sabe, a fama não é boa, bom mesmo é esse momento que “estou” vivendo. Andar na rua de chinelão havaiana, de bermudão, comprar a feira… Eu tenho um amigo meu que ficou muito famoso, o Amado Batista, e hoje o Amado é trancado. Não é só do Amado. A vida dos artistas é trancada. Do Hotel, em sua suíte, sozinho em uma van e palco, e depois volta. Aí, aeroporto, avião… Isso anos e anos cansa né? Mas até hoje as pessoas me param, pedem para tirar foto comigo pedem autógrafo.
LT- O senhor deu uma pausa na carreira musical?
Jorge Cardoso- Não, sempre gravo. Gravei um CD com minhas principais músicas, em 2008. Mas agora vou me dedicar a gravar musicas gospel.
LT- Como aconteceu sua conversão à vida cristã. O que lhe motivou a essa decisão?
Jorge Cardoso- Foi lendo a bíblia. Eu estava no auge. Não fiz como alguns fazem. Não me converti por estar falido. Geralmente as pessoas vão porque estão quebradas, estão falidas. Eu não, eu “estava” no auge, no mercado da música e como empresário. Fui pelo coração mesmo. Não fui pela orelha não.
LT- Qual o conselho o senhor dá aos artistas que estão começando no Acre?
Jorge Cardoso- Para ter sucesso fora, tem que sair do Acre. Estamos longe da mídia nacional. Mas também não ir para os grandes centros, tipo São Paulo, Rio de Janeiro. O Nordeste, Fortaleza, Recife, Natal é bom. O meu Acre é muito bom, mas está longe da vitrine. Aqui, ser artista é muito difícil.