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Metamorfose

Por
Roberto Vaz

No verão, os jardins das casas que ficam no outro lado da montanha se enchem de borboletas. É um cenário encantador, repetitivo e trágico.


Encantador, porque as flores se alegram diante da variedade de cores, de asas a dançar com o vento e de visitas que as sementes fazem, graças à ajuda desse pequeno e bonito inseto.


Repetitivo, porque a beleza em demasia cansa. Torna-se comum e, com o tempo, os olhos se recusam a quedar-se mirando frente a esse milagre da natureza.


Trágico, porque ali, nesse episódio da vida real, esse corpo alado carrega a sina de uns poucos dias, dando à singela flor que se abre a sentença de que lhe fará companhia breve. Morreram para nascer!


– Pai, há tempos queria conversar com o senhor.


– Diga filhão! Fale para o seu pai.


– Pai, eu sou gay.


– Que?


– Eu sou gay, pai! Gosto de homens.


RISOS REPENTINOS, ROSTOS RAIVOSOS, RUMINAVAM RESPOSTAS: REAÇÕES.


– Você tá maluco! Respeite-me rapaz. Como é que é? Você é “bicha”?


– “Bicha” não, pai! Sou homossexual. Tentei, namorei mulheres, pensei em ter família, mas não deu. Perdoe-me, mas minhas predileções e vontades são outras.


– Como é que se perdoa uma pouca vergonha dessas? Veado de merda! Imundo! Onde é que eu estou que não levo aos seus dentes essas honrosas mãos. Mãos que te criaram, filho da puta. Mãos que te deram escola, estudo, oportunidade que poucos nessa vida têm.


– Por favor, pai! Sei do que fez por mim. Agradeço muito. Mas o que é que isso tem a ver com meus gostos? Minha intimidade não é pouca vergonha não. Imundície pode haver em qualquer opção sexual. Por favor. Pai! Procura entender. Isso não é uma coisa que a gente escolhe. Não queria que o senhor passasse por isso. Não sabe o quanto tentei ser normal. Quer dizer, dentro dessa normalidade que nos ensinam.


– O que eu fiz, meu Deus? Nunca imaginei que isso fosse acontecer na minha família, com o meu filho. Filho que eu achava que era homem.


– Mas eu sou homem, pai.


– Homem? Você? Sua “bicha” nojenta! Acha que seu pai é idiota? Esse homem aqui, que se chama Alberto Moura, é burro para você? A partir de hoje, não se considere mais meu filho. Suma da minha vida. Não quero passar mais vergonha do que já estou sentindo: ter te colocado no mundo. Maldito do diabo.


– Eu vou embora, pai. Quando decidi te contar isso, já tinha definido meu futuro. Vou morar com o meu namorado. Apenas queria que o senhor soubesse o que estava acontecendo. Eu precisava dizer.


Se não fui o filho que o senhor sonhou, peço perdão. Mas fique certo que o senhor foi um pai maravilhoso. Ter me descoberto não nega, nem esconde a admiração por tudo o que o senhor me fez. Tenho uma gratidão eterna pelo senhor. Por tudo que pensa e diz agora, não levo mágoas. Sei que a dor invade seu peito de maneira forte.


– Desapareça da minha casa! Veado de merda! Tentarei salvar o resto dos filhos. Não deixarei que sua frivolidade ponha em ruína meu nobre lar. Vai! Some! Suma! Imundo!


– Pai, eu te amo! Eu… ah deixa pra lá! Adeus!


No verão, os jardins das casas que ficam no outro lado da montanha se enchem de borboletas. É um cenário encantador, repetitivo e trágico.


Encantador, porque a beleza em demasia cansa. Torna-se comum e, com o tempo, os olhos se recusam a quedar-se mirando frente esse milagre da natureza.


Repetitivo, porque ali, nesse episódio da vida real, esse corpo alado carrega a sina de uns poucos dias, dando à singela flor que se abre para ela a sentença de que lhe fará companhia breve. Morreram para nascer!


Trágico, porque as flores se alegram diante da variedade de cores, de asas a dançar com o vento e de visitas que as sementes fazem, graças à ajuda desse pequeno e bonito inseto.


DESGOTOSOS DIAS DEPOIS, DEDICADO DESENHOS DE DORES DIFÍCEIS: DECEPÇÃO E DESCOBERTA.


– Carlos, sou eu Alberto Moura. Como você está?


– Estou bem! A que devo a honrosa ligação?


– Ainda vende aquelas coisas para a cabeça?


– Não, mas sei onde encontrar. É de primeira qualidade.  Sentiu saudade foi?


– Qual o nome daquela festa que você me disse que ia?


– Fechou! Mas as pessoas que frequentavam lá continuam se encontrando.


– Bom saber.


– Vamos? Sempre te esperei sabia. Nunca acreditei que seu casamento iria apagar o que vivemos. Sei que amava seu pai, mas nosso amor era maior.


– Ainda tem aquelas fantasias?


– Bicha safada! Tenho sim! Faremos loucura no Coliseu. Quero ser seu soldado africano, sua tigresa, e seu carrasco. Meu gladiador.


– Não se esquece da plateia tá? Quanto à interação com ela, as regras continuam as mesmas. Sei que você ainda se lembra de como gosto de socializar.


– Pode deixar. Todos terão todos.


No verão, os jardins das casas que ficam no outro lado da montanha se enchem de borboletas. É um cenário encantador, repetitivo, fatal e trágico.


Encantador, porque ali, nesse episódio da vida real, esse corpo alado carrega a sina de uns poucos dias, dando à singela flor que se abre para ela a sentença de que lhe fará companhia breve. Morreram para nascer!


Repetitivo, porque as flores se alegram diante da variedade de cores, de asas a dançar com o vento e de visitas que as sementes fazem graças à ajuda desse pequeno e bonito inseto


Trágico, porque a beleza em demasia cansa. Torna-se comum e, com o tempo, os olhos se recusam a quedar-se mirando frente esse milagre da natureza.


FRANCISCO RODRIGUES PEDROSA   f-r-p@bol.com.br


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Roberto Vaz

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