A pedido do meu chefe conhecido (rs. Só ele sabe o motivo da brincadeira), gostaria de informar mais claramente que aos que possam isso interessar, não estarei publicando essas humildes crônicas durante o mês de julho.
Aos que leram a história “EXISTE TEMPO PARA PERDOAR?”, pude perceber, depois das perguntas que me foram feitas, que muitas dúvidas surgiram. Adorei saber disso! Pois sempre busco que cada um encontre sua forma, seu caminho e sua expressão no que leu.
Porém, em conversa com uma amiga minha, que não sei bem porque adora o que escrevo, uma frase dela me dobrou profundamente. Ela me disse que além da compreensão que teve, gostaria de saber qual teria sido verdadeiramente a minha.
Para você e para quem queria saber o que pensei e o que tentei expor na história, apresento a parte II, dando mais explicações ao que havia estado implícito na que agora podemos chamar de parte um.
Abraços e que:
“Dios nos ampare de malos pensamientos”( Shakira)
EXISTE TEMPO PARA PERDOAR? PARTE II
– Senhor, por favor, não deixe aqui. Eu lhe imploro, leve ao menos meu filho. Ele tem muita febre, irá morrer! Ao menos meu filho! Por Deus, por Deus, eu lhe peço, apenas ele!
Mesquita afastou-se indiferente e nem mais ouvia os gritos da mãe desesperada que sufocada pela dor e pelo desespero, sem conseguir mexer suas pernas, utilizava seus braços ensanguentados para tentar proteger o pequeno Marcos da forte chuva que caía.
Antes de entrar no veículo, sacudindo a lama dos sapatos, Mesquita esbravejou por ter se molhado e por ter perdido seu precioso tempo com coisa tão insignificante. Deixando a localidade da tragédia, fechou o semblante e só falou quando sua mulher lhe perguntou:
– Mas por que você não os trouxe, Mesquita? Poderíamos ter ajudado.
– Não, não! Chegaremos atrasados para o aniversario de um ano de Helena. Não podemos desapontar os convidados. Além disso, eles estão muito sujos de lama. Poderiam melar o carro, os presentes e nossa própria filha. O socorro está chegando. Eles vão ficar bem! Vamos! Temos coisas mais importantes a fazer.
Enquanto isso, escorada no carro esmagado pelo acidente, a mãe do pequeno Marcos sente que a situação é realmente terminal para os eles. Restava apenas esperar a morte, pois estavam longe da estrada. As lanternas do carro tinham se apagado, nenhum ser humano iria ali naquela hora tão inapropriada. Nenhum ser humano.
Porém, para sua surpresa uma camionete branca estaciona no encostamento da estrada e alguém desce dela em passos lentos como se mostrasse calma e lucidez. Balançando a cabeça, quem saiu da camionete branca se aproxima de Alice e diz:
– Oh! Quanta falta de compaixão! É reprovável que coisas assim estejam acontecendo. Os homens estão cada vez mais parecidos comigo.
– Quem é o senhor?
– Doce menina, isso não importa agora. A vida é mais importante! Vim lhe trazer alento, um convite para que possa descansar em paz. Serei seus braços e refúgio, a luz na escuridão que se aproxima em sua vida. Posso salvar seu filho. Ele não morrerá, mas peço algo em troca. Algo que nesse momento nem é mais tão importante para você.
– Oh nobre homem! Faço tudo, dou-lhe tudo, o que quiser. Salve meu filho Marcos, e de mim terás o que minhas forças permitirem dar.
– Marcos não morrerá. Não agora. Irá viver para conhecer minha bondade.
Quero sua vida. Eu sei, é muito pouco. Dentro de instante você não a terá mais. Veja como peço pouco! Apenas sua vida, esse resto de vida que ainda tem, e Marcos não morrerá agora. Viverá tempo suficiente para conhecer a minha misericórdia.
– Se Marcos não morrer, dou-lhe tudo. E quero que saiba que termino meus dias com o maior ódio que alguém possa ter. Que sejam os dias daquele homem amaldiçoados para sempre.
– Ele não estava só. Sua mulher e sua filha, Helena, estavam com ele.
– Pois então amplio minha ira e rancor. Nunca os perdoarei pelo que fizeram. Onde estiver, meus olhos queimarão por eles e que eles possam sentir toda a dor que senti pelo seu desprezo e falta de humanidade.
– Pode deixar! Isso é comigo.
Já basta! Tenho de levar Marcos ao hospital. Descanse, doce mãe. Um mundo novo se abrirá quando seus olhos fecharem. Marcos e Helena conheceram o meu cheiro, a dimensão do meu amor.
No caminho para o hospital, tentando acompanhar a camionete branca, a moto de Marcos chegava ao limite de velocidade. Pela chuva grossa que manchava o tempo, pela estrada escorregadia, pelo destempero do noivo, natural que errasse o freio e perdesse seu caminho em uma árvore próximo a uma descida.
O corpo de Marcos ficou irreconhecível. Pedaços foram jogados em várias partes. Pela violência da queda e da batida, a moto era agora alguns ferros e fios. No momento em que perdia o controle da motocicleta, a única coisa que ainda pode pensar era se Helena iria sobreviver.
Agora, depois de tudo, os dois, Marcos e Helena, comemoram a felicidade de estarem mais uma vez juntos. Na emoção de um amor amaldiçoado, na alegria de um destino traçado, recebendo orientações maiores, percebem que ainda falta alguma coisa.
Pegando o celular, Helena faz o que precisava ser feito: pai, mãe, me acidentei aqui depois da Curva do Tucumã. “Tô” muito mal. Venham logo!
Enquanto isso, um outro caminhão carregado de produtos químicos deixava Rio Branco rumo ao Quinari. Seu Mesquita e Dona Evelina também tinham um encontro com a caminhão. Também tinha um encontro com o passado. Também tinham um encontro com o destino.
FIM
FRANCISCO RODRIGUES [email protected]