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Em entrevista a Josias de Souza, senador Jorge Viana fala sobre julgamento do mensalão e da CPI do Cachoeira

Por
Roberto Vaz

Repercutiu neste domingo nas redes sociais a entrevista do senador Jorge Viana ao blog do jornalista Josias de Souza, da Folha de São Paulo (http://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br), sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal em marcar para o dia primeiro de agosto o julgamento do mensalão. O senador acreano também falou sobre a CPI do Cachoeira . A entrevista foi divulgada ainda pela manhã pelo twitter oficial do senador (@JorgeVianaAcre) e foi bastante comentada pelos internautas.


Abaixo, a íntegra da entrevista:


Senador Jorge Viana, do PT: ‘Se nós queremos democracia, temos de respeitar decisão do STF’


O senador Jorge Viana (PT-AC) destoa dos companheiros de partido que se queixam do STF por ter marcado o julgamento do mensalão para um período que coincide com a campanha eleitoral. Ele gostaria que tivesse ocorrido antes. Mas não vê sentido em insistir nos questionamentos. “Se nós queremos democracia, temos de respeitar as decisões do Supremo. Juiz é isso. Decidiu, estabeleceu o calendário, não se discute. Vamos esperar a sentença”, disse o senador, em entrevista ao blog.


Ex-governador do Acre, Viana descrê da hipótese de o julgamento contaminar as urnas: “Nós já lidamos com esse problema em duas eleições”, afirmou, referindo-se à reeleição de Lula (2006) e à eleição de Dilma Rousseff (2010). Para ele, o importante agora é que venham as sentenças. “Interessa até para quem está aí, esperando há sete anos por uma decisão judicial”. Abaixo, a entrevista:


— Acha que o STF errou ao marcar o julgamento do mensalão para 1o agosto? Sinceramente, se podemos identificar algum erro, é o fato de ter demorado tanto para julgar. O ministro relator [Joaquim Barbosa] adoeceu, é fato. Passou quase um ano sem trabalhar. Acho natural que se discuta o porquê dessa data. Mas pelo menos foi estabelecido um rito. O pior seria não ter rito nenhum. Se tem alguma coisa boa é que foi estabelecido um prazo. Eu defendia que fosse julgado antes. A coincidência com o calendário eleitoral não foi boa. Isso vai ser usado contra o PT.


— Se fosse julgado antes –em 2010, por exemplo— não haveria a mesma reclamação? Pois é. No fundo, é natural que tenha ocorrido agora. O estabelecimento do rito ajuda a repor a temperatura no lugar certo. Vai ficar quente, mas não fervendo como estava antes. Para mim, é fato consumado. A gente ficar pondo sob dúvida a decisão do Supremo não ajuda. Ferir uma instituição que é das mais importantes do país não leva a lugar nenhum. Se nós queremos democracia, temos de respeitar as decisões do Supremo. Juiz é isso. Decidiu, estabeleceu o calendário, não se discute. Vamos esperar a sentença.


— Acha que eventuais condenações prejudicarão o PT? Eu minimizo muito isso.


— Por quê? O brasileiro sabe separar as coisas. Nós já lidamos com esse problema em duas eleições. Na primeira sucessão do Lula, ele foi reeleito. Na segunda, a Dilma venceu. Creio que nós, do PT, já tivemos a ferida e temos uma cicatriz para carregar pelo resto da vida. Agora, é bom que o Supremo julgue.


— Acredita, então, que não haverá reflexos eleitorais? Acho que não vai influenciar. O julgamento será comentado no lugar certo. Em vez de ser debatido nas páginas dos jornais e nos comícios, será discutido no Supremo, ao vivo. Isso muda completamente as coisas. O importante é que seja julgado. Interessa até para quem está aí, esperando há sete anos por uma decisão judicial.


— Acredita mesmo que a demora traz desconforto aos réus? Converso com alguns companheiros e percebo que eles vivem no pior dos mundos.  A falta de julgamento seria pior do que o julgamento, independentemente da data. O pior para todo mundo seria essa coisa continuar como estava. Esse assunto nunca saiu da agenda da imprensa. Ao marcar a data, o Supremo se encaminha para o desfecho. O que me preocupa agora não é esse julgamento, mas a CPI [do Cachoeira].


— Por que está preocupado com a CPI? A história mostra que CPIs só avançam quando a imprensa ou a opinião pública –ou os dois juntos— pressionam. O que me preocupa é saber se essa CPI terá força para seguir adiante. Ela foi criada a partir de elementos concretos. Tem gente presa. Já começaram inclusive a ser soltas. A minha opinião é que só conseguiremos avançar se esses dois atores –imprensa e opinião pública—ajudarem.


— Não acha que os fatos é que impulsionam as CPIs? Sem dúvida. Mas nessa CPI houve desencontro também em relação a isso. Vai investigar a imprensa? Não. Vai ser a CPI do procurador Roberto Gurgel? Não. Do Gilmar Mendes? Também não. A comissão precisa se reencontrar e passar a se guiar exclusivamente pelos fatos. Se vai chegar a esse ou àquele personagem, os fatos é que têm que levar.


— E quais são, por ora, os fatos? Temos um fato mais do que concreto, que é o crime organizado. Temos que verificar quais são as ramificações. Colocando a CPI nos trilhos, dependendo dos desdobramentos, da ressonância que a imprensa der e da movimentação da sociedade acho que teremos condições de avançar.


— O PT não errou ao tratar a CPI como instrumento de vingança contra os que o alvejaram no mensalão? Acho legítimo o PT questionar a oposição. Mas a gente errou por não ter deixado essa questão bem clara. Se for esse o espírito, de vingança, obviamente não vai dar em nada. É um equívoco.


— Onde será preciso chegar para que dê em alguma coisa? Essa CPI, que lida com fatos gravíssimos, chegará rapidamente ao caixa dois. Essas empresas fantasmas, com depósitos de mais de R$ 30 milhões, isso tudo é para financiar campanha. Por isso é importante que fiquemos presos aos fatos.


— Crê que o epicentro da CPI será o caixa dois? O epicentro já foi atingido pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. Sabemos que havia uma organização criminosa. Os caras foram presos. O que vem além disso? A meu ver, o grande desafio será tratar do caixa dois. É importante que encontremos um ponto de equilíbrio na CPI, porque lidar com caixa dois envolvendo políticos não será simples. Mas é indispensável. O problema existe e é suprapartidário. A gente vai, volta e sempre retorna a esse problema. É preciso resolver.


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Roberto Vaz

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