“Esse tema é prioridade para o Ministério Público”. A garantia foi dada pela Procuradora-Geral de Justiça, Patrícia de Amorim Rêgo, nesta sexta-feira (25), durante o lançamento do Comitê Estadual de Enfrentamento às Drogas (CEED), em Rio Branco. Por orientação do Grupo Nacional de Direitos Humanos do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais (CNPG), o Ministério Público criou, em todos os estados da federação, um grupo com a proposta de unificação na atuação dos membros do MP em matérias que envolvam o tema.
O objetivo é desenvolver um planejamento de ações estratégicas voltadas para a prevenção, tratamento e repressão ao consumo de drogas. O trabalho envolve promotores de Justiça que atuam nas áreas da Saúde, Infância e Juventude, Cidadania, Educação, Violência Doméstica e Direitos Humanos, além dos promotores criminais. No Acre, o CEED será orientado pela Coordenadora da Saúde e Cidadania, Gilcely Evangelista de Araújo Souza, e conta com o apoio dos governos estadual e municipal. “Vamos fazer um intercâmbio com as instituições e a sociedade num esforço conjunto para combater esse problema. Hoje, nós estamos demonstrando a importância e relevância com que tratamos esse assunto. Fico feliz em ver que esse tema mobiliza as autoridades e a sociedade”, declarou Patrícia Rêgo.
Entre as propostas de atuação do Comitê, destacam-se a realização de campanhas educativas nas escolas, execução de ações integradas de repressão e o fortalecimento da rede psicossocial no estado, capaz de cuidar e reintegrar o dependente químico à sociedade. Para isso, foram assinados termos de cooperação técnica com a Polícia Militar, Secretaria de Direitos Humanos e as Secretarias Municipal e Estadual de Saúde e Educação.
Preocupação com a juventude é um dos pontos destacados pelo CEED
Ao apresentar a formação, ações e objetivos do Comitê Estadual de Enfrentamento às Drogas, o promotor de Justiça Gláucio Ney Shiroma Oshiro demonstrou preocupação com os jovens. De acordo com pesquisas, o jovem brasileiro é o que começa mais cedo no envolvimento com drogas, em comparação com outros países da América do Sul. No caso da maconha, por exemplo, aqui no Brasil, o consumo começa, em média, aos 13 anos; na Argentina começa aos 15. “Segundo o IBGE, 50% da população do Acre está na faixa etária de 10 a 35 anos. Preocupa-nos saber que o primeiro contato com a droga acontece quando a pessoa ainda é adolescente. Precisamos estar unidos para encarar essa realidade”, destacou o promotor.
Outros dados justificam um plano preventivo e de combate ao uso de entorpecente. No ano passado, 22% da população carcerária do Acre tinha envolvimento com drogas. Durante uma pesquisa feita com moradores de rua de Rio Branco, de 630, apenas 5% se declararam não ser usuário. Segundo o promotor, boa parte dos homicídios dolosos (quando há intenção de matar) foi praticada por pessoas com idade entre 18 e 40 anos e está relacionada ao consumo ou tráfico de drogas. “Talvez uma sociedade livre de drogas seja uma utopia, mas como diz o escritor Eduardo Galeano, a utopia serve para que a gente não deixe de caminhar”, acrescentou Gláucio Shiroma.
Autoridades concordam que o enfrentamento é missão de toda a sociedade
É inegável que existe muita gente se matando no consumo e tráfico de drogas no Brasil. Segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no país, existe mais de um milhão de usuários.
O secretário estadual de Educação, Daniel Zen, disse que em alguns casos, os efeitos dessa realidade refletem na escola, onde a evasão escolar está relacionada ao vício. “Esse comitê é importante porque propõe ações conjuntas, tendo em vista que, hoje, o que nós temos são ações isoladas. São parcerias como essa, com o Ministério Público, que podem reduzir esses indicadores perversos”, declarou.
O coordenador da Polícia Comunitária, tenente-coronel Juvenal Araújo, revelou que muitas ações de repressão ao tráfico na Baixada da Sobral, em Rio Branco, tiveram resultado porque a comunidade ajudava. “Com informações e denúncias feitas pela sociedade conseguimos apreender droga e armas que estavam escondidas em casa, no carro e até enterradas. Se estivermos unidos vamos conseguir banir esse mal que está corrompendo e destruindo a sociedade”, afirmou.
Érica Amaral, que trabalha numa organização não- governamental voltada para recuperar dependentes químicos, disse que o ‘drogado’ não pode ser visto apenas como uma estatística. Segundo ela, é importante compreender os motivos que levam uma pessoa a usar drogas. “Entrei nessa missão depois que minha casa foi assaltada três vezes pela mesma pessoa. Era um rapaz e eu quis entender por que ele fazia aquilo. Descobri que era viciado e não tinha base familiar. Não vamos conseguir nada se não tivermos interesse pela vida do dependente; se a gente não procurar saber por que ele entrou nesse mundo”, destacou.
Estudantes retratam drama de jovens envolvidos com droga
A solenidade de lançamento do CEED contou com duas apresentações de teatro. Os estudantes da Escola Berta Vieira apresentaram a peça. “A droga e a morte” e mostraram como é e como termina a vida de quem usa droga. “A pessoa fica sozinha, sem amigo, sem expectativa, sem nada”, disse Luiz Carlos Nascimento.
Em outra apresentação, os alunos da Escola Serafim Salgado retrataram o drama de quem entra no vício por influência de amigos. “Amigo que é amigo não oferece droga pra você. No início é só festa, mas depois eles desprezam, e ao invés de te dar droga, eles vão querer vender. Então, o viciado vai roubar, matar e até se matar”, afirma Geriane da Silva.
As informações são da Agência de Notícias – MP/AC
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