Senadores da base aliada e da oposição comentaram as denúncias de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria sugerido ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, para adiar o julgamento do mensalão em troca de “proteção” nas investigações da CPI do Cachoeira. Na tribuna do Senado, o líder do PSDB, Álvaro Dias (PR), disse que Lula tentou estabelecer um “cerco sobre o STF e a CPI”. Por sua vez, o senador Jorge Viana (PT-AC), defendeu o ex-presidente dizendo que ele sempre “respeitou as instituições” ao longo dos oito anos em que governou o país.
Reportagem publicada na edição deste final de semana da revista “Veja” relata um encontro no último dia 26 de abril entre o ex-presidente e o ministro Gilmar Mendes. No encontro, segundo a publicação, Lula sugeriu o adiamento do julgamento do mensalão em troca de proteção ao ministro na CPI do Cachoeira. À revista, Gilmar Mendes disse que ficou “perplexo” com as “insinuações despropositadas” do ex-presidente. A assessoria do Instituto Lula informou que o ex-presidente não comentará a reportagem.
Para a Álvaro Dias,o fato de Lula não querer comentar a notícia demonstra que a versão de Gilmar Mendes “é verdadeira”. “Conhecendo o seu temperamento, o presidente Lula não ficaria em silêncio se estivesse sendo vítima de uma calúnia que tem origem num ministro do Supremo Tribunal Federal”, ponderou o tucano, para quem Lula protagonizou uma “tentativa patética de chantagear e cooptar um ministro do Supremo Tribunal Federal.”
O senador disse ainda que o ex-presidente adota uma postura “herege” ao tentar negar a existência do mensalão, esquema em que parlamentares receberiam dinheiro em troca da aprovação de propostas de interesse do governo.
“Há pessoas que negam a existência do holocausto. Se inexistem razões para negar o holocausto, inexistem razões para negar o mensalão. Trata-se de posturas hereges de quem nega a verdade dos fatos”, disse. Álvaro Dias confirmou que irá protocolar um requerimento pedindo que a Procuradoria-Geral da República investigue Lula. Nesta tarde, o PSDB se reúne para elaborar o requerimento e discutir outras providências.
Após o discurso de Álvaro Dias, o senador Jorge Viana (PT-AC) pediu a palavra para defender Lula. Ele afirmou que o ex-presidente tem “a favor de si” uma trajetória política de “respeito” às instituições. “O presidente Lula tem a seu favor a sua história. Ele esteve por oito anos no governo e jamais mudou a Constituição a seu favor. Tem uma trajetória de respeito às instituições”, afirmou.
Para Viana, “a melhor pessoa” para falar sobre a reunião entre Lula e Gilmar Mendes é o ex-ministro do STF Nelson Jobima. A conversa entre Mendes e Lula teria ocorrido no escritório de Jobim. No entanto, o ex-ministro do Supremo se recusou nesta segunda (28) a falar sobre o caso. “O assunto está encerrado”, disse.
Durante seu discurso, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) também se manifestou sobre o tema Lula-Gilmar Mendes. Para ele, a denúncia contra Lula é “grave”. “Se o presidente Lula fez aquela proposta, temos uma situação de interferência na Justiça. Se não fez, temos um ministro do Supremo faltando com a verdade. É um momento negro da nossa história”, afirmou.
Com informações de Nathalia Passarinho