Categories: Crônicas de um Francisco

As Sereias da oposição

Por
Roberto Vaz

Confesso que nunca gostei do termo “OPOSIÇÃO”. Dá-me um sentido estranho, sem nexo, carente de regular e boa sensatez. Por ter origens recentes na Europa Moderna, sítio de soberbos tiranos, “OPOSIÇÃO” tornou-se um termo congelado, não se modela, não se rearranja à dinâmica da política atual.


Divergência de ideias, pluralismo político, ou outra palavra que denote contrários, não podem ser entendidas como algo que legitime a mera encrenca, a birra mesquinha, a tosca repulsa partidária.


Alguns me diriam depois de um vinho: mas a “OPOSIÇÃO” tem o papel de fiscalizar, denunciar, dar publicidade aos erros apresentados pelos que se cegam com a maresia do poder.


Antes de degustar totalmente o sabor edílico, eu diria: o Ministério Público também tem essas funções. Qualquer cidadão se amanta no direito de realizar essas atividades, sem necessariamente ter que vestir esse uniforme frouxo e engraçado que tem se tornado, algumas vezes, a chamada “OPOSIÇÃO”.


Infelizmente, e isso não é de agora, discordar dos que flutuam sobre o poder, nem que seja por achar feios os corvos que seguem o navio, já é razão suficiente para te desenharem como um Cérbero: aquele monstro da mitologia grega de várias cabeças que guardava as portas do inferno.


Não tenho objetivos de depreciar alguém. Minhas palavras são tridentes que não apontam para ninguém especificamente. Respeitando os que realmente têm projetos sólidos e verdadeiros, para mim, no Acre, alguns grupos que se intitulam “OPOSIÇÃO” são ou reúnem, na verdade, os chamados REJEITADOS: aqueles que comungavam com o PT e que por razões diversas se distanciaram dos vermelhinhos.


É um barco de uma miscelânea absurda. Temos de tudo dentro dele. Alguns até utilizam o móvel náutico para jazer eternamente.  Os que o olham na praia perguntam: quem são os que se definem como opositores? Quem são os personagens a bordo?


Sem que as ondas da ignorância, os ventos do proveito particular e a brisa do interesse pessoal possam nos atrapalhar, diríamos que, efetivamente, temos vários segmentos nesse navio que segue, aparentemente à deriva. Citemo-los.


Perto da PROA, temos os eternos discordantes dos movimentos de esquerda. Pessoas que nunca aceitaram as conquistas dos novos partidos. Pessoas que sempre viram como desordem e bagunça os avanços dos movimentos políticos que, inicialmente pautados em questões ambientais e carências do capitalismo, hoje reúnem os melhores marinheiros de uma escola naval tão repugnante.


Nas BOCHECHAS desse navio, encontramos os que se filiavam com o esquerdismo até o final do século passado. Por razões de conveniências ideológicas, dinâmica partidária ou qualquer outro motivo irrelevante, não se agrupam, nem aceitam a esquerda como força partidária digna de estar no poder. Essas pessoas sempre falam de traição, Judas e naufrágio de ideais. Mastigam sardinhas magras na espera de uma grande baleia.


No COSTADO da embarcação, temos os inconformados, os que servem de escudo para os mais variados propósitos. Odeiam o PT por matérias particulares ou familiares. Pessoas que perderam algum benefício, alguma vantagem pública que fora retirada, dada a outra mais alinhada com esse partido.


Hoje, inconformados, fazem de tudo para que suas queixas localizadas se estendam aos demais. São alarmistas, transformam pequenos cardumes em ferozes tubarões.


Nas ALHETAS dessa confusa nau, encontramos o seguimento recém-convertido à dita oposição. São aqueles que lutaram juntos com os ex-amigos do PT, deram o suporte e enfrentaram todas as dificuldades dos tempos de partidos pequenos: fuscas, botes, três gatos pingados nos comícios e muito sol na cara.


Por acharem que não receberam o respeito e a consideração devida, abandonaram as fileiras da procela vermelha. São pessoas inteligentes, donas de um conhecimento singular, conhecem a planta do navio que ajudaram a construir. Participaram da cerimônia de inauguração, quebraram juntos a garrafa de champanhe, e hoje, depois de jogados em alto mar, estão perdidos em alguma ilha imaginária.


Na POPA do barco estão os camaleônicos. Suportam o PT por que é o jeito. Odeiam os jargões, as modas cafonas, as roupas de hippie e as canções de mar. Navegam acompanhados, almoçam e se reúnem em festas. Olham-se, mas ambos sabem que não podem confiar um no outro. Toleram-se. Fecham os olhos apenas quando tem algum proveito recíproco. Por estarem sempre distantes do timão, são os últimos a perceberem o desastre.


No CONVÉS ficam os que reúnem condições sensatas para denunciar possíveis abusos e erros dos comandantes do PT.  Merecem respeito. Conhecem os setes mares. Sabem que no oceano não há apenas uma corrente marítima.


Em local tão privilegiado, não se molham com a marulha, olham para frente e procuram construir uma via alternativa que desbanque o plano de navegação petista.


Esse ano, com as eleições, haveremos de ver uma sangrenta batalha naval que extrapola a disputa pela prefeitura de Rio Branco.  Na verdade, é uma briga pelo leme de um sonho desconhecido.  Não é um prefeito que buscam. Os gastos militares serão maiores que o preço da vitória.


Para a situação é a garantia de mares vermelhos tranquilos e seguros. É a certeza de que piratas não tocarão no seu ouro, não terão o mapa do tesouro, nem conhecerão as chaves de seus cofres.


Para os dissidentes, é uma longa procura por alguém que possam pilotar com mais qualidade o combalido barco da “OPOSIÇÃO”.


Em 2012, se comemora 100 anos do naufrágio do emblemático Titanic. Reza a lenda que antes de imergir completamente nas profundezas do Atlântico norte, um dos comandados do capitão Edward J. Smith fez-lhe uma última pergunta: qual tinha sido a impressão inicial ao ver um navio daquele porte, daquela estatura e dimensão?


Olhando para o horizonte, respirando compassadamente, Edward J. Smith disse ao marujo que, nesse momento, a única impressão válida que tinha é a de que ele estava afundando.


Rejeitados e opositores precisam ter essa maturidade. Quem hoje navega sublime na cabine do poder acriano soube melhor do que ninguém afundar navios de sonhos opostos. Talvez por conhecer bem as profundezas abissais da política, sabem como virar os barcos contrários e perceber corretamente os ventos que não sopram a favor.


Afinal, já faz quatorze anos ancorados no Acre, ditando as ondas, levantando velas de verdades, encarnando, soberbamente, a figura do deus “Poseidon”.


Desconfio seriamente que esse longo período seja apenas mantido pelo sucesso de seus comandantes. Pode ser que haja mais coisa nesse mar. Pode haver grupos de sereias ofertando suas musicas fatais, iludindo a tripulação e engolindo seus marinheiros.


Na mitologia grega, “Poseidon”, o deus dos mares, sofreu apenas uma grande derrota. Disputando o controle da cidade de Atenas, saiu vencido pela deusa da sabedoria.


Opositores, não sei qual o termo que deva chamá-los! O barco reúne muita gente. Apenas peço: abandonem a esperteza, os truques e as mágicas, pensem no melhor para o Acre. Rompam os tentáculos do passado. Sejam inteligentes, se não quiserem continuar no jocoso navio que aqui chamamos de balsa.


FRANCISCO RODRIGUES   –    f-r-p@bol.com.br


 


 


 


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