Líder da oposição desafia Angelim a comprovar gastos, revela tentativa de crime e diz que prefeito zomba da generosidade do povo
Ray Melo,
da redação de ac24horas
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As principais marcas do PT, quando a sigla administrava apenas prefeituras na década de 80, eram a transparência e a participação popular. Era parte de uma estratégia para se diferenciar das demais legendas. Isso contribuiu para transformá-lo em um partido de massa e, consequentemente, alternativa de poder.
O prefeito da pequena Icapuí (CE), pasmem, chegou a afixar a prestação das contas municipais em uma das paredes de sua casa.
Hoje, no entanto, o PT se afastou de suas bases e a falta de transparência e controle social passaram a ser a tônica do partido. Comandada por uma elite predatória e conservadora, a legenda acumula um acentuado desgaste, sobretudo na capital, justamente porque se tornou um partido da ordem, nivelando-se, dessa forma, por baixo na já combalida política partidária.
O recente episódio do empréstimo de R$ 3,5 milhões pretendido pela prefeitura junto à Caixa Econômica Federal, e acertadamente rejeitado pela Câmara Municipal, demonstra o estado de degradação ideológica e de praxe do partido.
O prefeito Raimundo Angelim ainda não prestou contas do que foi arrecadado, entre donativos e repasses, para os atingidos pela enchente. Agravando mais essa situação, ele teve a desfaçatez de assumir que a prefeitura estava sem caixa, inclusive, para dar a contrapartida do empréstimo pleiteado. De forma vil, o alcaide ainda foi para os meios de comunicação mentir, querendo colocar a população contra os vereadores.
O desabafo acima é do líder da oposição no parlamento municipal, o vereador Alysson Bestene (PP). Ele tem sido a espinha atravessada na garganta dos petistas. Numa rápida entrevista, o progressista tacha a administração do PT de incompetente, irresponsável, antidemocrática e não-transparente.
Leiam os principais trechos.
ac24horas – Como o senhor explica os recentes episódios envolvendo os vereadores na rejeição de um empréstimo pleiteado pelo PMRB?
Alysson Bestene – Era um projeto que pretendia contrair um empréstimo de R$ 3,5 milhões junto à Caixa. O dinheiro seria para a prefeitura entrar com a contrapartida de um empréstimo de R$ 80 milhões, cuja destinação seria para obras de infra-estrutura. A equipe técnica da prefeitura, até hoje, não explicou a finalidade desses R$ 3,5 milhões. Pelo que eu pude entender, seria para entrar com a contrapartida. Ora, esse dinheiro tem que ser, obrigatoriamente, oriundo da arrecadação do município. Quer dizer que a prefeitura não tem caixa nem para entrar com a contrapartida? Cadê a arrecadação do IPTU deste ano? Tem muita coisa errada aí.
ac24horas – Em recente entrevista, veiculada em uma emissora de TV, o prefeito disse que tinha “torrado” o caixa para assistir aos desabrigados. Como o senhor analisa essa declaração?
Alysson Bestene – O prefeito vai ter que dar muitas explicações. A principal delas é quem vai pagar essas dívidas. Ele não prestou contas do dinheiro arrecadado com as doações, zombando, com isso, da generosidade dos acreanos. Os vereadores também querem saber o que foi feito dos R$ 10 milhões repassados pelo governo federal. Também queremos saber quem está fornecendo marmitas para a Defesa Civil. E, por ultimo, o que foi feito do dinheiro do orçamento para a referida pasta, tendo em vista que existe uma reserva de contingência de R$ 22 milhões, além de mais R$ 12 milhões alocados para o gabinete do prefeito.
ac24horas – Com relação ao orçamento de 2012, o senhor afirma que foi apenas R$ 12 mil o recurso contigenciado para a Defesa Civil?
Alysson Bestene – Por mais incrível que possa parecer, foi sim. Isso é o que eu chamo de inversão de prioridades. Enquanto o gabinete do prefeito recebe uma quantia exorbitante, destinada principalmente para pagar a mídia, pastas como a Defesa Civil, o Bem-Estar Social e a Agricultura têm recursos bastante modestos.
ac24horas – O senhor afirma que os técnicos da prefeitura cometeram ilegalidades ou a administração não é transparente?
Alysson Bestene – Os dois. Pelo menos foi o que a gente pôde constatar, principalmente depois desse imbróglio. Usar o dinheiro de empréstimo como contrapartida é crime, segundo a Lei de Responsabilidade Fiscal. Quanto à transparência eu acho desnecessário falar. Eu quero acrescentar mais uma coisa: na administração petista não existe participação popular e nem controle social.
ac24horas – Fale mais sobre esse empréstimo de R$ 3,5 milhões…
Alysson Bestene – Com relação especificamente a esse projeto, ou seja, o de R$ 3,5 milhões, afirmo e reitero que a administração petista não é transparente. Os técnicos, até o momento, não colocaram às claras o que querem. Os vereadores de oposição fizeram questionamentos, que, até o momento, não foram respondidos. Por que estamos iniciando o mês de abril e, até agora, o carnê do IPTU não chegou às nossas casas? Ao assinar o contrato de R$ 80 milhões, em 2011, por que a prefeitura não alocou a contrapartida de R$ 3,5 milhões, que é exigência da Lei de Responsabilidade Fiscal? E por que eles não dizem onde foi gasto esse dinheiro? Se realmente foi com a alegação, então façam a prestação de contas. Tem ainda a reserva de contingência de 22 milhões, sem contar com mais R$ 12 alocados no gabinete do prefeito? O que feito com todo esse dinheiro? Responda, prefeito, responda…