Ray Melo,
da redação de ac24horas
raymelo.ac@gmail.com
A reclamação com a rede estadual de ensino é a mesma em todas as comunidades extrativistas do Rio Liberdade, área rural do município de Cruzeiro do Sul. Na comunidade Morro da Pedra, onde residem 10 famílias de pequenos produtores de farinha, o Governo do Acre teria fechado a Escola Estadual São Francisco, unidade de ensino construída pelos moradores, que necessitava de reforma para continuar funcionando.
A pequena escola de madeira e coberta de palha atendia aproximadamente 31 alunos quando foi inaugurada. A única sala de aula foi fechada na administração do ex-governador Binho Marques (PT). De acordo com a líder comunitária Maria Renilda Santana, 39, a Branca, o governo abandonou a localidade e retirou o professor, mesmo com os populares se comprometendo em fazer a reforma da escola.
“Fizemos a proposta ao representante da Secretaria de Educação. Se o governo cedesse o professor, a própria comunidade reformaria escola. Convocamos várias reuniões, mas mesmo assim eles nunca deram uma resposta. A providência que tomaram foi retirar o professor da comunidade. Há dois anos, somos obrigados a matricular nossos filhos em outra comunidade distante, onde as crianças correm perigo diariamente”, diz Maria Renilda.
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Segundo a líder comunitária, os alunos da Comunidade Morro da Pedra são transportados sem nenhum tipo de segurança e os pais ficam apreensivos com a possibilidade de um acidente com o pequeno barco que faz o transporte escolar. “O governo paga um barqueiro, mas as crianças são transportadas sem colete salva-vidas. O rio é perigoso, já teve vários acidentes com batidas em troncos de árvore”, lembra. Diariamente, 25 alunos fazem essa viagem. A casa cedida pela comunidade, onde funcionou a Escola Estadual São Francisco durante quatro anos, é usada para abrigar uma família, no local do refeitório dos alunos. Na única sala de aula, as marcas do tempo e do descaso das autoridades do Estado ainda são visíveis. Buracos no piso e nas paredes revelam a falta de cuidado dos gestores da educação estadual com o ensino público no interior do Acre.
Apelo negado
Líderes comunitários e parlamentares que representam o Vale do Juruá em nível estadual também foram acionados. Maria Renilda Santana mostrou documentos que comprovam as reivindicações. A deputada estadual Antônia Sales (PMDB) apresentou três indicações ao ex-governador Binho Marques, solicitando melhorias à unidade de ensino. “Os pedidos da deputada foram feitos em 2008, 2009 e 2010. Como disse, nenhuma resposta.
Em Brasília, a história é outra
Enquanto petistas são convidados a ocupar cargos no Ministério da Educação, impulsionados pelas fortes campanhas publicitárias do Governo do Acre de supostos avanços na área de educação na zona urbana, a realidade das comunidades da zona rural, longe dos holofotes dos órgãos de comunicação, é cruel e desoladora. Sem acesso aos notebooks, mimos de alunos do ensino médio em Rio Branco, as crianças do interior sonham apenas em frequentar um escola digna e ter um professor.
ABANDONO DE ESCOLAS É COMUM
O abandono de escola pública nas comunidades do Rio Liberdade não é exclusividade da Morro da Pedra. Na localidade conhecida como Foz do Forquilha, uma escola estadual que funcionava em uma antiga casa de farinha foi fechada após algumas denúncias. A escola que não tinha paredes, carteiras, livros, merenda escolar e o quadro de giz, era dependurado em um travessão da cobertura, não existe mais.
Segundo os ribeirinhos, aas crianças dali ficaram sem estudar. “Quando denunciaram a situação da nossa escola, o pessoal da Secretaria de Educação veio aqui. Foram feitas várias promessas para construir uma nova, mas tudo não passou de enganação. Levaram o professor embora e até a antiga casa de farinha que servia de escola desabou”, diz o produtor João da Silva.
A falta de compromisso dos gestores da educação estadual revolta os agricultores. Pequenos produtores afirmam que eles só teriam valor em época de campanha eleitoral. “Para pedir nosso voto vale tudo. Em época de campanha, o pessoal do PT manda os empregados fazer promessas nas comunidades, mas assim que ganham os cargos esquecem que chegaram lá, com nossos votos. Tudo que queremos é educar nossos filhos, não queremos dinheiro desses políticos”, protesta Manoel Ribeiro.
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