Ray Melo,
da redação de ac24horas
[email protected]
A servidora pública Celeste Maria de Castro Maia está correndo risco de morte por não estar tendo acompanhamento clínico de uma trombose venosa cerebral que sofreu há um ano e seis meses. O perigo que a servidora estaria correndo seria, segundo ela, por supostas “trapalhadas” cometidas pela dirigente do serviço de Tratamento Fora de Domicílio (TFD), da Secretaria de Saúde, Ediná Monteiro Queiroz Costa, ao cometer erros ao encaminhar seu caso junto a instituições médicas de dentro e de fora do estado.
O perigo de morte fez Celeste Maia recorrer ao Ministério Público do Estado (MPE) e à Defensoria Pública do Acre, para apresentar denúncia sobre o que chama de “irresponsabilidade e insensibilidade da dirigente do TFD acreano com relação à gravidade de seu problema de saúde”, que exige tratamento médico fora do Acre, por requerer exames especiais não realizados no Estado, conforme atesta laudo médico encaminhado pela paciente ao órgão responsável pelo tratamento fora de domicilio.
Com a demora de o MPE em tomar providências junto ao TFD, a servidora está apelando, também, ao Ministério Público Federal e à Defensoria Pública para tentar evitar que, sem acompanhamento médico, sofra a qualquer momento nova trombose e venha a perder a vida. Na primeira trombose cerebral, a servidora pública Celeste Maia ficou cinco dias em coma e 20 dias hospitalizada em estado grave.
Celeste Maia também aguarda um pedido de audiência que fez à secretária de Saúde, Suely Melo, para contar o seu drama e tentar conseguir uma solução para o mesmo. A audiência foi pedida através das secretárias Vanessa e Mary.
Procurada pela reportagem, a gerente do TFD, Ediná Costa, explica que o erro de preenchimento do CID nada tem a ver com o departamento já que esta é uma atribuição médica que define o código a partir da patologia confirmada por meio de exames clínicos e especializados. Apesar disso, depois do segundo erro de preenchimento foi a própria equipe do TFD do Acre que marcou uma consulta para a paciente Celeste Maia com um grupo de neurologistas de Porto Velho que viria ao Acre atender parte da demanda reprimida da especialidade e emitiram o laudo com o CID correto.
Ediná explica que o tempo de espera por uma vaga nos centros de referência para onde normalmente são encaminhados os pacientes acreanos (São Paulo, Goiânia e Brasília) não depende do TFD do Acre e sim do estado de destino. Ela apresentou todos os e-mails enviados aos centros de regulação dessas cidades solicitando vaga para a paciente. Em um deles, com data de 31 de agosto do ano passado, o funcionário Éliton Gomes cobra do centro de regulação da Secretaria de Saúde de São Paulo explicações sobre a demora na liberação de uma vaga para Celeste no Hospital das Clínicas daquele estado. “Enviamos pedidos de vaga para vários hospitais ao mesmo tempo e o primeiro que responde é para onde encaminhamos o paciente. Depois de confirmada, avisamos os outros hospitais que já conseguimos a vaga. No caso dela conseguimos no Hospital Universitário de Brasília (HUB) numa segunda tentativa pois esse hospital já havia informado que não havia vaga meses antes”, conta Ediná.
Tadeu Moura, funcionário do escritório de representação do Acre em Brasilia citado por Celeste, encaminhou um relatório sobre a estadia da paciente. Ele relata que no dia 30 de novembro de 2011, Celeste compareceu ao Hospital Universitário de Brasília para uma triagem, mas o médico que a atenderia faltou neste dia porque era feriado evangélico. A paciente foi atendida então pela médica Iruena Kessler que solicitou exames de sangue feitos no mesmo dia no setor de emergência do hospital.
Depois de prontos, Celeste foi encaminhada para um neurologista clínico com relatórios e exames. “No dia seguinte eu a levei para o HUB para marcar uma consulta na neuro. Ficou combinado que ela iria no dia 5 de dezembro para encaixe. Ela compareceu e não foi atendida porque não tinha vaga e também porque em passeio ao shopping ela perdeu a pasta que havia o cartão do hospital, relatório que encaminhava para neuroclínica e exames”. A paciente então foi orientada de que deveria dar entrada novamente no processo para ser encaminhada para o neuroclínico, diz o funcionário.
Ediná conta que Celeste telefonou de Brasília desesperada porque não havia conseguido se consultar e a gerente autorizou a liberação das passagens de volta mesmo sem o relatório de alta. Ao chegar foi que a paciente apresentou o documento e se irritou porque queria que o TFD lhe desse um atestado do período que ela estava viajando para ser apresentado no trabalho.
“O atestado para abono de faltas é de competência médica. Não podemos fazer isso”, explica Ediná. Dos 2.612 processos com laudos que deram entrada no TFD de janeiro a 20 de dezembro, 2.136 foram liberados e os pacientes já viajaram ou ainda estão em tratamento fora do Estado. Os pacientes que vieram dos municípios para a capital totalizam 3.592 pessoas e 2.093 foram atendidos em seus próprios municípios por meio do programa Saúde Itinerante, inclusive com cirurgias. “Não é possível que com esse número de pessoas atendidas eu seja tão incompetente como esta senhora diz”, finaliza Ediná.
Segundo informações da assessoria da Secretaria de Saúde, o caso já estaria na mesa da secretária Suely Melo.