Tião Bocalom
Como constantemente faço, me acordo entre cinco e cinco e meia da manhã, mesmo deitando mais tarde, como foi ontem quando já passava da meia noite. Levanto, vou ao banheiro, tomo meu café e depois sento à frente de meu net book e começo a ler as notícias dos jornais locais e nacionais. Hoje, me surpreendi com a matéria intitulada “EMPRESA MULTINACIONAL FLORESTA QUER INVESTIR EM USINA DE BIOMASSA NO ACRE, DIZ GOVERNO” nos jornais locais. Diz a reportagem que um grupo de empresários, representando uma empresa com o nome um tanto suspeito “FLORESTA”, se reuniram com o governador e sua equipe para apresentar o projeto de produção de energia elétrica a partir da biomassa, que neste caso, não se trata de biomassa líquida e nem gasosa, e sim de biomassa sólida, portanto, este projeto prevê a queima de madeiras nativas e plantadas. Muito bem, com muita pompa, dizem que vão gerar mais de 10 mil empregos. Ótimo. Empregos é o que mais precisamos no Acre, e eu venho dizendo isto a muitos anos. Minha diferença para eles, é que eu já realizei na prática em Acrelândia entre 2001 e 2006, medido pela FIRJAN, que classifica num ranking, nos temas saúde, geração de empregos e educação, todos os municípios brasileiros. Neste trabalho, a pesquisa mostra que em Acrelândia, a geração de empregos teve um crescimento de mais de 170%, enquanto que Rio Branco, não passou dos 12% no mesmo período. Como sempre defendi, lá eu investi pesado no setor produtivo, apoiando a permanência do homem no campo, com dignidade, para que tivéssemos a matéria prima para atrair indústrias na cidade. Nós tínhamos serrarias, marcenarias, cerâmica, indústria de vidros temperados, indústrias de beneficiamento de leite, café, arroz, e outras. Nossos madeireiros e produtores rurais sempre foram muito perseguidos pelo IMAC e IBAMA, porém, eu jamais me curvei diante das perseguições a estes geradores de emprego, e, como prefeito, batia constantemente de frente com estes órgãos para que deixasse o nosso povo de Acrelândia trabalhar.
Mas vamos ao cerne da questão: Este governo do PT que aí está a longos 13 anos, sempre defendeu no discurso, a sustentabilidade ambiental. Por isso sempre perseguiram os pequenos produtores rurais, proibindo-os de fazer seus roçados ou seus pequenos pastos para manter suas famílias com dignidade, alegando sempre que a queima dos roçados poluía o ar. Mas vamos lá. Queimando a madeira no roçado ou na caldeira não vai emitir os mesmos gases para a atmosfera? Claro que vai. Então porque proibir o desmatamento e queima da mata nativa para produção de alimentos, que se faz apenas uma vez, e depois é só plantar e colher o resto da vida, e deixar que se queime esta madeira em caldeiras tiradas do mesmo espaço a cada cinco anos? Com isto, não vai emitir muito mais gases para a atmosfera? Claro que vai; vai emitir tantas vezes quanto for cortada. Portanto, este empreendimento é muito mais nocivo ao meio ambiente do que o desflorestamento para a agricultura ou pecuária.
Tem outro fator: Estas usinas têm incentivos do governo federal, para atender demandas próximas aos centros de carga, em áreas periféricas ao sistema de transmissão, onde não existir a possibilidade de geração por hidrelétricas, que são economicamente muito mais baratas. Não é o nosso caso. Estão construindo duas grandes hidrelétricas no rio Madeira, que vão suprir por muitos anos a nossa demanda e exportar a sobra para o centro sul do País. No site WWW.portal.energia.com, você poderá confirmar que existem grandes desvantagens neste caso, como: 1- Desflorestação de florestas, além da destruição de habitats; 2- Possui um menor poder calorífico quando comparado com outros combustíveis; 3- Dificuldades no transporte e no armazenamento de biomassa sólida. Não vou nem comentar os dois primeiros itens. Vou me ater ao último. Como já fui madeireiro, sei o quanto é caro você extrair madeira e armazená-la, principalmente a nativa. Portanto, o custo de produção será tanto mais elevado, quanto forem as distâncias de extração. Em segundo lugar, se energia elétrica para ser tirada da queima de madeiras fosse tão barato assim, porque então no centro sul do Brasil, onde se tem grandes reflorestamentos não se montam estas usinas, e sim, usam estas madeiras para indústrias de celulose, carvão para produção do aço, móveis e construção civil, e deixam a energia elétrica para as hidrelétricas ou mais recentemente as usinas de cana, estas sim, estão transformando o bagaço de cana, que é barato, como matéria prima para a geração da energia elétrica a partir da biomassa.
Perguntas que faço: Em qual região do Estado seria implantado este empreendimento? As florestas que o governo pretende colocar à disposição deste projeto serão públicas ou privadas? O que verdadeiramente se esconde por traz deste mega projeto? Seria a entrega de nossas florestas públicas ao grande capital internacional, com vantagens financeiras a quem está no poder; ou, será que é mais um grande golpe no eleitor acreano, prevendo 2014, que ha muito clama por emprego; ou serão as duas juntas? Será que não vai ser mais um empreendimento como a fábrica de tacos que não consegue se viabilizar pela falta de madeira, e já estão até em negociação com madeiras do Peru? Ou, será como a indústria de camisinhas que está tendo que importar látex da Bahia? Todos estes empreendimentos financiados com o nosso dinheirinho, ficam nas mãos de grandes empresários, enchendo-lhes os bolsos, e, coitadas das famílias da floresta, que são remunerados só para a sobrevivência, e não, para a verdadeira melhoria da qualidade de vida.
Aproveito também para perguntar. Em 1998 prometeram 40 mil empregos. Será que foram gerados, se principalmente neste setor madeireiro, perseguiram até fechar as pequenas serrarias (mais de 80) e os pequenos marceneiros (mais de 500)? Hoje só existem os grandes. Não seria então este negócio, mais um para sufocar os pequenos? Defendo, e sempre defenderei o reflorestamento no Acre. Em Acrelândia em 2004, implantamos um grande viveiro de mudas de espécies agrícolas e madeireiras. As madeireiras, as distribuímos a centenas de produtores rurais daquele município e de municípios vizinhos, como forma de iniciarmos um trabalho educacional de reparo de partes dos danos causados com os desmatamentos, mas principalmente, para iniciar o despertar de que este investimento é uma poupança a longo prazo, pois a madeira extraída para a produção de móveis e emprego na construção civil, agrega muito mais valor do que a extraída para outros fins.
O VALE TUDO PARA A PERMANÊNCIA DESTE GRUPO NO PODER EM 2014, JÁ COMEÇOU?
A sociedade Acreana precisa ser respeitada e ouvida.
Tião Bocalom é professor e pré-candidato a prefeitura de Rio Branco pelo PSDB
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