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Advogado contesta imagem reproduzida pelo blog do jornalista Altino Machado

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Gomercindo Rodrigues


Ontem lendo um post escrito por você, caro Altino, jornalista que respeito muito, vi uma coisa no mínimo estranha: ao reproduzir um “mapa mundi” para justificar a questão do fuso horário do Acre, de repente, no seu mapa, o Acre não fazia fronteira com a Bolívia. Claro que estranhei e fui buscar o porquê daquela situação e, então, descobri uma grotesca “manipulação” do mapa para justificar que “o Acre não mudou de lugar”.

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Antes de começar a discutir a questão da informação e da própria ética dela, vou esclarecer algumas coisas: primeiro: votei pelo retorno do horário antigo no plebiscito, embora, para mim, tal retorno não fazia, como não faz, a menor diferença, ouvi as ponderações da minha mulher e, como, para mim, efetivamente qualquer horário era absolutamente a mesma coisa, usei isso para definir o meu voto; segundo: também acho que o método usado para promover a primeira alteração deixou de exercitar a democracia, ao não usar o então Senador, a possibilidade de ouvir e discutir com as pessoas do Acre e do oeste do Amazonas e Pará a respeito. Podia ter feito isso e muita coisa não teria ocorrido depois; terceiro, proponho tirar Deus dessa discussão, ressaltando de cara que não sou adepto de nenhuma religião e entendo que ninguém tem procuração para falar em nome d’Ele, além, claro de desrespeitar um dos mandamentos constantes na Bíblia: Não tomarás seu Santo Nome em vão. Feitos estes registros, vamos lá.


O horário é uma convenção. Quando se definiu “Greenwich” para ser o “centro do mundo” na forma “vertical” foi uma mera convenção, claro que, certamente (e não vou me aprofundar nisto porque não sou geógrafo, nem cartógrafo, nem especialista na questão) baseado em algum estudo prévio que apontou a melhor solução. Isso ocorreu, para se ter uma ideia, pelo que encontrei pesquisando rapidamente na internet, apenas em 1884, num Tratado assinado em Washington.
Então, o “horário de Deus”, na verdade é uma “convenção dos homens”, daí eu ter proposto tirar Deus dessa discussão.
Se é uma convenção, poderia ter sido adotado qualquer outro meridiano, como, aliás, se pode fazer hoje em dia, basta os poderosos do mundo se reunirem e decidirem alterar tal convenção.
Mas o que eu acho interessante, e agora já posso dizer isso, é que, para “garantir o seu argumento”, embasar sua tese, você pu blicou um mapa mundi em que o Acre estaria todo ele no fuso -5 GMT, ou seja, cinco horas a menos do que Greenwich. Claro que em tal mapa, o nome ACRE vem à esquerda do meridiano que fecha o fuso -4GMT. Indo para um mapa mundi sem tal manipulação, iríamos encontrar o seguinte: algumas capitais do nordeste (Recife, Aracaju, João Pessoa, Fortaleza e Natal estariam no fuso -2 e não, como, por lei brasileira, no fuso -3GMT, o mesmo de Brasília. Aliás, parte disso está no mapa que você publicou. O fuso -3GMT, além de ser o de Brasília, quase no limite, deixaria de englobar, por incrível que pareça, a quase totalidade do estado do Rio Grande do Sul, a maior parte de Santa Catarina e metade do Paraná, que estão, pela divisão geográfica, no fuso -4GMT, junto com Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, parte do Pará, Rondônia, parte do Amazonas e, aqui está o interessante, cerca de 40% do Estado do ACRE, englobada nesta parte praticamente todo o vale do Acre e parte do v ale do Purus. Assim, para estar “tecnicamente correto”, de acordo com a convenção dos homens, o fuso de Rio Branco até Brasiléia e, quem sabe, por milímetros Assis Brasil, fora ou dentro, bem como a maior parte dos municípios de Sena Madureira e Manuel Urbano, estão no fuso -4GMT, ou seja, o horário atual, o mesmo de Rondônia, enquanto que Santa Rosa do Purus, Feijó, Tarauacá, Rodrigues Alves, Cruzeiro do Sul, Jordão, Marechal Taumaturgo estão, corretamente, no fuso -5 GMT.
Concluindo – e, repito, não sou cartógrafo, nem geógrafo, nem tenho nenhuma preocupação com qual o horário “tecnicamente” deva vigorar no Acre, embora respeite o resultado de um plebiscito em que essas questões que eu coloco agora não foram debatidas, nem pelo “não”, nem pelo “sim”, pois o debate foi meramente “eleitoral”- o mapa que você publicou mostra, claramente que, efetivamente o ACRE não mudou de lugar e que, neste caso, teria de ter, se fosse par a ser técnico, dois fusos horários diferentes, sendo que o vale do Acre e parte do Purus teriam o fuso igual ao de Rondônia, ou seja, uma hora a menos daquela de Brasília, e parte do Purus e todo o Juruá, o fuso de duas horas a menos do horário “oficial” brasileiro. Aí, tem de convencer os gaúchos e a maior parte dos catarinenses e metade dos paranaenses de que eles também têm de estar com uma hora a menos do que Brasília.
A discussão ética posta é que, para afirmar o seu argumento que, em tese é válido, você não se preocupou em trabalhar com a “desinformação” ou seja, manipular um mapa para que quem o veja, entenda que o Acre todo tem o mesmo fuso de Lima e não que parte dele tenha o fuso de La Paz, de Porto Velho, de Manaus etc.
Acho, sinceramente, que você não precisava fazer isto. Defenda a convenção, o horário de 1913, o costume regional, o fato de que, efetivamente não fomos consultados para a primeira mudança de horário , pois estes são argumentos válidos e fortes, mas não manipule a informação, não distorça os fatos, pois aí, você está entrando no mesmo debate dos que envolvem Deus nas convenções humanas.


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