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Produtor contraiu dividas para o plantio da pimenta e da pupunha por culpa do governo

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Com um projeto de um secador de frutas parado em sua propriedade há mais de dois anos, no Ramal Flaviano Melo, no quilômetro 22 da estrada do município de Porto Acre, o pequeno produtor José Cícero Araújo Filho, 53, que é proprietário da colônia 10 de Março, lote 86, afirma que as associações de produtores do Acre, estão praticamente falidas pelas dívidas contraídas pelos associados junto às instituições financeiras nos últimos anos. O projeto do secador de frutas foi entregue pela administração do ex-governador Jorge Viana (PT).


Sem economizar críticas ao Governo do Acre e alguns produtores que teria por finalidade se apropriar de recursos de empréstimos de incentivos dos bancos que fomentam atividades agrícolas, Cícero Araújo diz que a burocracia de setores públicos e a falta de um mercado garantido para adquirir os produtos do secador instalado em sua propriedade, levaram ao fechamento do empreendimento que custou R$ 51 mil. Na época da inauguração, 53 famílias trabalhavam na unidade. No fechamento restaram apenas 16 famílias em atividade.


“Quando iniciamos as atividades tínhamos 53 famílias no empreendimento, mas  quando os produtores perceberam que nossa associação não tinha como objetivo pega empréstimos, a maioria se afastou. Nossos planos era apenas de trabalhar de uma maneira diferente, com produtos orgânicos, produzidos sem a utilização de veneno e sem ser preciso queimar. Quando eles viram que o negócio não era para se apropriar de recursos públicos, a maioria abandonou a produção”, diz Cícero Araújo.

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Outra questão apontada pelo produtor rural, como a causa do fracasso da atividade que tinha na banana passa, o principal produto da associação foi à falta de liberação de um código de barras pela vigilância sanitária, não permitindo que os produtos fossem comercializados em supermercados do Estado. “As coisas não aconteceram como esperávamos. A procura não foi grande, não tínhamos divulgação da atividade e a produtividade dos associados sempre foi muito baixa. Tivemos o incentivo do governo, mas na questão de mercado fracassamos”.


Mesmo com pouco conhecimento técnico, o produtor acredita que para os projetos terem sucesso, não basta apenas que seja implantado, mas que tenha um acompanhamento constante. “Quando o secador estava em construção recebemos visitas de pessoas do Peru, da Bolívia e de outros estados. Depois que começou a funcionar, não apareceu os técnicos, além de ter sido construído de forma equivocada, já que o encarregado não aceitou opiniões e teve que fazer o mesmo trabalho duas vezes, sendo preciso reformar antes de terminar a obras”, destaca Cícero Araújo.


A reportagem perguntou ao produtor que tipo de incentivo teria faltado. Segundo Cícero Araújo, o governo sempre incentivou, mas o desenvolvimento dos projetos termina no funcionamento dos empreendimentos. “Creio que deveria haver um acompanhamento técnico até que os produtos ganhassem mercado. Os agricultores não têm o conhecimento adequado de mercado consumidor, o acesso aos comerciantes, tanto que nossos produtos só poderiam ser vendidos em uma única feira de produtos orgânicos”, enfatiza.


DÍVIDAS E PROJETOS SEM O PLANEJAMENTO


Na questão dos projetos direcionados ao setor produtivo do Estado, Cícero Araújo não esconde a decepção. Apontando para o final do ramal, o produtor diz que uma casa de farinha inaugura no ano passado, funcionou apenas no dia da inauguração. “Foi inaugurada, mas produziu apenas no dia em que o governador esteve por aqui. Apesar de termos um ramal asfaltado, não temos como escoar a produção, motivando os agricultores continuarem vendendo apenas a macaxeira para atravessadores”.


Segundo Cícero Araújo, os projetos do Governo do Acre, através da Secretaria de Estado de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar do Acre (Seaprof), na questão do plantio da pimenta longa e da pupunha, só deixaram dívidas aos pequenos produtores dos ramais ao longo da estrada de Porto Acre. O produtor acredita que os projetos foram mal concebidos, enfatizando a falta de mercado e o preço abaixo do que previa os técnicos da Seaprof. O que levou os produtores ao endividamento.


“Quando os técnicos do governo vieram apresentar o projeto da pupunha disseram que o preço seria de R$ 1,00 a unidade de palmito e, que toda produção seria comprada pela Bonal. Quando fomos vender, o empresário disse que pagaria apenas R$ 0,50 por palmito e a produção assaria ainda, pela análise dos técnicos da empresa, para saber se o produto era adequado para o mercado. No final foi um prejuízo geral. Só consegui pagar o empréstimo que peguei, graças à anistia de 75% dos juros bancários”.


O mesmo teria acontecido com a plantação da pimenta longa. “O óleo da pimenta não pagou nem o trabalho que tive em fazer o roçado. Se não fosse a plantação de laranja, abacaxi, banana e leguminosas, eu não teria como pagar pelos projetos do Governo do Acre, que deram errados”, acrescenta Cícero Araújo.


FALÊNCIA DE ASSOCIAÇÕES


“A maioria das associações de produtores estão falidas. A maior parte dos pequenos produtores rurais dos ramais ao longo da estrada de Porto Acre, não podem sequer pensar em dinheiro que fomenta a atividade rural. A culpa nem sempre é do governo, mas de pessoas que se aproveitam das facilidades em adquirir os empréstimos sem comprovar os projetos as instituições financeiras. Neste ramal (Flaviano Melo), mais de 90% dos agricultores estão endividados, recorrendo à atividade extrativista e da pecuária”, justifica Cícero.


O agricultor diz que todas as pessoas que contraíram empréstimos foram através das associações, levando as entidades a inadimplência e conseqüente falência. “Quando começaram a funda associações foi como uma febre. Todos os agricultores se associaram com a única intenção de colocar as mãos no dinheiro patrocinado pelo governo federal. Quando as carências começaram a vencer, muitos venderam suas propriedades e foram para cidade, fugindo da dívida e deixando o saldo negativo para as associações”.


Ao final da entrevista, Cícero Araújo perguntou se o material seria mesmo divulgado. De acordo com ele, muitas pessoas foram ao local, mas nunca saiu nenhuma reportagem sobre a situação dos produtores do ramal Flaviano Melo. “Espero que dessa vez saia. É a esperança que tenho. Só assim, o técnico da Seaprof, que me procurou para reativar a secadora de frutas voltará aqui”.

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Ray Melo, da redação de ac24horas – [email protected]


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