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Jornalista diz que deputados acrianos têm atitude homofóbica e foram eleitos por “currais” religiosos

Por
Roberto Vaz

O jornalista do Página 20, Jaidesson Peres, publicou longo artigo no Blog do Altino, nesta quarta-feira (23), no qual condena a atitude dos deputados estaduais em inflar discussões sobre fato isolado, da publicação de uma foto na qual dois homens simulam sexo oral durante a parada Gay, e ficarem calados diante de denúncias graves.


“As excelências, em vez de ficarem debatendo o “boquete” da Parada Gay, deveriam procurar ocupação e fazer juz às regalias de que gozam. Há tantas demandas, irregularidades, injustiças e corrupção, e eles ficam emudecidos. Não esbravejam, não protestam nem tomam providências”, diz Peres.


Esta semana, por exemplo, ac24horas publicou grave denúncia na qual o vice-governador do Estado, César Messias, estaria utilizado máquinas agrícolas pagas pelo Poder Público em proveito particular, o silêncio foi absoluto no parlamento acriano.


Leia o Artigo:


Jaidesson Peres


Não é de se estranhar a atitude fundamentalista, medieval e homofóbica de vários deputados estaduais acreanos. Nesta semana, em razão da famosa foto da Parada Gay, eles desinibem seus instintos mais profundos. Em um parlamento em que muitos foram eleitos usando igrejas como currais eleitorais e com pessoas que não acompanham o pensamento evolutivo da humanidade, perderemos o tempo se esperarmos por defesas entusiasmadas dos direitos humanos, discursos calorosos em favor da cidadania de todos e elogios à pluralidade, à diversidade e às diferenças.


É desastroso e constrangedor saber que parlamentares, que foram escolhidos para defender todos os cidadãos e setores da sociedade diante de qualquer circunstância, sobem à tribuna da Asssembléia Legislativa para dar sermões, proferir versículos da Bíblia e apregoar doutrinas religiosas. Esses deputados, que na minha opinião são inservíveis, ganham altos salários à nossa custa sem cumprir as funções que a Constituição Estadual  lhes delega.


Decerto, eles desconhecem as conquistas dos direitos humanos fundamentais e universais, ignoram as leis brasileiras, que não hierarquizam cidadãos, e menosprezam as concepções político-filosóficas que culminaram na formação dos Estados Modernos Ocidentais, entre eles o Brasil, sobretudo no que concerne à separação entre Igreja e Estado e à concessão da liberdade religiosa.


As excelências, em vez de ficarem debatendo o “boquete” da Parada Gay, deveriam procurar ocupação e fazer juz às regalias de que gozam. Há tantas demandas, irregularidades, injustiças e corrupção, e eles ficam emudecidos. Não esbravejam, não protestam nem tomam providências. Preferem fazer motim por uma cena que é comum notar no carnaval e em outras mais festas licenciosas. Abandonem, senhores, seus gabinetes aconchegantes e carros luxuosos e sigam o que Jesus de vocês fez: andar com os pobres, dar de comer a eles e chorar com eles.


Moralismo em pleno século 21 chega a ser algo inadmissível e cômico ao mesmo tempo, principalmente após as mulheres ganharem o direito de fumar e beber em lugares públicos, após o divórcio ser permitido no Código Civil, após a prostituição deixar de ser crime e após ser tolerado duas pessoas do mesmo sexo se beijarem na televisão. É bom avisar a esses legisladores que os valores mudam, que os estereótipos caem por terra e que a religião, embora com força ainda, tende a perder influência.


Tenho medo de que o estado brasileiro se torne uma teocracia, a exemplo de alguns países mulçumanos, onde os próprios cristãos daqui são perseguidos pelos também descendentes de Abraão. Lá, as mulheres, por causa dos preceitos islâmicos, são obrigadas por lei a usar véu e impedidas de estudar, os homossexuais são presos e os jovens têm acesso restrito à internet e à diversão. O fundamentalismo, o radicalismo, o fanatismo, a intolerância, como sabemos, só causam guerras, ódio, desavenças e desgraças.


A pluralidade e diversidade devem ser vistas como riqueza da humanidade, não como obstáculos ou anomalias. Quão feio e desinteressante seria o mundo se não houvesse tantas culturas, tantas línguas, tantas religiões e opiniões divergentes. O respeito e a tolerância são valores aconselhados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatário, e decorreram, sobretudo, dos filósofos do Iluminismo, que lutaram contra o absolutismo de monarcas, pela liberdade de expressão e pelo fim dos privilégios dos clérigos.


Portanto, gostaria que os nobres deputados estaduais, especialmente os religiosos, fizessem algo de profícuo à sociedade, que debatessem assuntos mais relevantes e apontassem soluções para os representantes do Poder Executivo. Vivemos em uma democracia, somos um ambiente plural e possuímos hoje igualdade jurídica. Que preguem, que orem, que louvem, mas dentro de seus templos. Respeitem a laicidade do Estado.


Jaidesson Peres, 22 anos, é jornalista e acadêmico de letras


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Roberto Vaz

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