É muito provável que o cidadão que passa pela Amadeo Barbosa e pelas ruas do Conjunto Buritis [antigo Mauri Sérgio], no Segundo Distrito de Rio Branco, jamais tenha dúvida de que as obras do PAC, gerenciadas pela então Chefe da Casa Civil do ex-presidente Lula e atual presidente do Brasil, Dilma Rousseff, tenham sido um sucesso. Mas quem entra pelas travessas do bairro construído com a bandeira de Zona de Atendimento Prioritária (ZAP), ver que muita coisa foi camuflada no calor das eleições.
Inaugurado no apagar das luzes do governo de Binho Marques [em dezembro de 2010], sete meses depois os problemas mais graves da construção começam a aparecer. Além da infraestrutura mal acabada, os moradores arrumaram um vizinho indesejável: o esgoto.
Em todas as residências do bairro as tampas de esgotos estão dando retorno. A água fedida e poluída está invadindo os quintais e contaminando crianças e idosos. Foi o que nos contou dona Francisca da Cruz Nogueira. Moradora da travessa Maria Verônica, há dois meses ela observa a água de esgoto chegar a cada dia mais próximo de sua residência.
– Já contaminou as crianças, elas já tiveram febre devido à podridão dessa água que se alastra sem ninguém fazer nada – contou a dona de casa.
Era noite de quinta-feira (22) quando estivemos no bairro a convite do presidente da associação, Edi Souza Silva. Na manhã de sexta-feira, voltamos à região para registrar um crime ainda maior ao meio ambiente: a contaminação das águas do igarapé do Almoço que atravessa 90% dos quintais do bairro e que para muitas famílias de baixa renda, serve como fonte de alimento.
– Muita gente se alimenta com peixes do Igarapé e com água. Tem gente que não pode pagar um pipa para abastecer suas caixas – disse o presidente do bairro.
À redução do oxigênio dissolvido na água vem provocando a morte de centenas de peixes. Os esgotos domésticos trazem grande quantidade de matéria orgânica. Além disso, sem nenhuma educação ambiental vigente, os próprios moradores poluem as margens do rio. Na briga por oxigênio, as bactérias estão vencendo. Nossa reportagem registrou centenas de carás [peixe comum da região] mortos.
O local onde jorra esgoto para dentro do igarapé é bem próximo da Estação de Tratamento de Esgoto [ETE] que foi abandonada há mais de três meses, pela empresa responsável pela obra. Um dos vigias, que pediu para não ser identificado, permitiu a nossa entrada no local. Ele mostrou o depósito de onde as águas deveriam estar sendo tratadas. O tanque está esborrando.
– Há três meses que não tem manutenção nenhuma. Já fui até ameaçado. Um dos moradores disse que se o problema continuar ele vem meter bala nos depósitos da estação – denúncia o vigia.
Durante a nossa permanência na região, foram vários os pedidos para registrar a situação insuportável. Apenas com a implantação do conjunto, segundo a agência de notícias do Acre, o Governo investiu mais de R$ 9,3 milhões.
– É mais a empresa que dar manutenção na rede de esgoto diz que está com três meses sem receber um centavo pela obra. Eles demitiram os funcionários e há muito tempo deixaram de construir – disse o presidente do bairro.
Edi já procurou a equipe da Secretaria de Habitação e também os engenheiros da CEPEL, uma das empresas responsáveis pelas obras. Segundo o presidente, as autoridades vêm empurrando o problema com a barriga.
Na CEPEL, o senhor Alberto Damasceno foi muito melindroso ao falar sobre atraso de pagamento. Ele disse que a empresa foi contratada para fazer a instalação dos equipamentos da ETE e que a instituição deixou de ter responsabilidade com sua manutenção a partir da inauguração da obra.
– Essa parte de ajustes técnicos e financeiros é com a secretaria de habitação. Já extrapolamos a nossa atribuição nesta obra – disse Damasceno.
Ele confirmou por telefone que a obra não foi concluída e nos encaminhou para o diretor da Secretaria de Habitação. Já era final da tarde de sexta-feira e a reportagem não conseguiu falar com os técnicos do Governo do Acre.
Jairo Carioca – da redação de ac24horas
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