O fogão ambientalmente correto desenvolvido pela Funtac e que tinha o objetivo de substituir os fogões tradicionais e ainda, gerar energia para os povos isolados no meio da Floresta, foi mais uma propaganda enganosa para 53 familias. O ac24horas percorreu 114 km pela BR 364 para ouvir do Secretário Executivo de Florestas, João Paulo Mastrangelo, que a ideia “foi uma grande barrigada”. O fato é confirmado por produtores. Das 53 unidades distribuídas na Reserva Extrativista do Antimary, em Sena Madureira, apenas um funciona precariamente. Os demais estão abandonados nos paióis das comunidades.
– Quase que eu adoeço de tanto carregar água pra fazer eles funcionarem. Terminou como brinquedo pro meu neto – disse o senhor José Lira, que mora há 15 anos na região.
Isolados na floresta amazônica, seringueiros receberam o fogão como a salvação da lavoura, já que em suas regiões, até hoje, não existe o programa Luz para Todos. Cadastrados no Kit Energia, com a chancela do Ministério das Minas e Energia, Nadma Farias, pioneira no projeto, veio ao Acre lançar o projeto que visava reduzir a fuligem, que inalada, é a principal causadora de mortes, segundo a Organização Mundial de Saúde.
– Nem reduziu essa fuligem que vocês estão falando e nem deu energia. Hoje quem tem gerador tem energia, quem não tem condições de comprar é iluminado por aquele lá de cima – acrescentou seu José Lira.
Os fogões carregam selo de Patrimônio Público. Alguns ainda têm intacto, o certificado de garantia da Freedom estacionária. Mas longe dos estudos que apontaram o Geralux, como melhor alternativa, melhor até do que o painel solar já comprovadamente eficaz, o patrimônio está apodrecendo a cada dia. São 140 quilos do kit da mini-usina jogados no lixo. O inventor do sistema, Ronaldo Sato, parecia adivinhar quando mandou que as famílias não abandonasse o sistema tradicional de fogões.
A Funtac investiu R$ 500 mil no projeto. Na aquisição foram aplicados mais R$ 135 mil. Até hoje, a Funtac não explicou porque a nova versão prevista para chegar ao Acre não saiu do papel, assim como não se fala mais na produção das 300 unidades mês que aconteceriam no Parque Industrial de Rio Branco, através da empresa mineira DAMP Eletric, ligada ao grupo BMG. Detalhe, com o envento, Sato é vencedor do Prêmio Finep da Região Norte.
– Foi um fracasso, o fogão não funcionou direito, foi uma barrigada, colocaram a disposição do povo e não funcionou – reconheceu o secretário João Paulo.
Jairo Carioca – da redação de ac24horas
jscarioca@globo.com
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